Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Extensão universitária e plantas medicinais: construindo experiências interprofissionais
Jaqueline Miotto Guarnieri, Renata Riffel Bitencourt, Luciane Maria Pilotto, Vitória da Silva Freitas, Magnólia Silva da Silva, Renata Vidor Contri

Última alteração: 2022-01-20

Resumo


Apresentação: O uso de plantas medicinais com fins terapêuticos é uma importante prática integrativa de promoção de saúde, incentivada pela Organização Mundial da Saúde para que seja inserida em sistemas de saúde para todas as populações. O uso das plantas medicinais é uma prática milenar, passada entre gerações e diversas culturas. Embora seja uma prática importante, ainda mais relevante no Brasil quando se pensa na rica biodiversidade territorial e nas diversas espécies com propriedades medicinais, o efetivo uso racional tanto pela população quanto pelos profissionais da saúde ainda é um campo que enfrenta muitos desafios, dentre eles o epistemicídio. Dessa forma, o Projeto de Extensão Interprofissional: Educação popular em saúde com plantas medicinais objetiva ser um espaço estratégico, em que busca-se ampliar e complementar o conhecimento acerca do assunto, integrando alunos e professores de diferentes cursos da Universidade Federal do Rio Grande do sul, além da comunidade externa, valorizando os saberes e o respeito à essas práticas, e podendo gerar efeitos na saúde e bem estar da população. Desenvolvimento: Devido a pandemia de Covid-19 foi necessária uma reorganização das atividades propostas pelo projeto. Dessa forma, os encontros semanais foram realizados de forma virtual pela plataforma Google Meet, com trocas e construção de conhecimentos de diferentes áreas (Agronomia, Farmácia, Psicologia e Odontologia). Além disso,  membros do grupo participaram de  cursos no Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AVASUS), como exemplo o curso “Uso de plantas medicinais e fitoterápicos para Agentes Comunitários de Saúde”, que fomentou debates e reflexões pelo grupo. Com relação às atividades externas, foram construídas e ofertadas oficinas de formação na área agronômica e da saúde ao grupo de oficineiros do serviço de saúde mental Geração POA. Resultados: Como resultado do trabalho do grupo, foram elaboradas três cartilhas sobre plantas medicinais voltadas para a comunidade: “Cartilha de Plantas medicinais indicadas para sintomas respiratórios” que aborda recomendações para prevenir Covid-19, gripes e resfriados, formas de preparação das plantas medicinais, além de cuidados e precauções referentes a morfologia e nomes das plantas, “Cartilha de plantas medicinais: orientações para cultivo, colheita e armazenamento”, criada para facilitar o acesso a essas plantas, orientando sobre formas de obter mudas, como plantar, como montar seu vaso, e como manter as plantas. Além disso, considerando o contexto epidêmico, foi criada a cartilha “Cuidados em saúde mental: uso de plantas medicinais e outras práticas de cuidado durante a pandemia”, abordando conceitos de saúde mental, uso de chás e aromaterapia, bem como boas práticas para o fortalecimento emocional. Todas as cartilhas apresentam orientações e  ilustrações que tornam o conhecimento mais acessível e estão publicadas na plataforma virtual LUME/UFRGS. Além das cartilhas, no primeiro semestre de 2021 iniciaram-se ações no Geração POA, serviço de Saúde Mental do Sistema Único de Saúde (SUS), onde são oferecidas oficinas de trabalho e geração de renda. Por meio da produção de cadernos, bolsas ecológicas, camisetas, velas, entre outros produtos, são trabalhados os princípios da economia solidária, o relacionamento interpessoal e o cuidado em liberdade. Seguindo todos os protocolos de segurança, diversos encontros e oficinas foram realizadas neste serviço. Em um primeiro momento, priorizou-se a escuta e o diálogo entre o grupo (discentes, docentes e usuários do serviço) na forma de roda de conversa para o compartilhamento de experiências, lembranças e conhecimentos acerca das plantas medicinais, a fim de pensar e construir possibilidades de atuação conjunta. Em uma segunda oficina, foi realizado o reconhecimento e identificação botânica de espécies trazidas pelos próprios participantes, na tentativa de valorizar e recordar conhecimentos já existentes sobre essas plantas, usando bibliografia especializada com fotos. O uso terapêutico popular e científico destas plantas medicinais também foi debatido. No terceiro encontro, a oficina foi de cultivo destas espécies, onde foram apresentadas o cultivo por sementes, a obtenção de mudas, os substratos que podem ser usados e o plantio de  mudas em um espaço ocioso do serviço, possibilitando aos participantes o compartilhamento de saberes, e posteriormente a possibilidade de usufruir das plantas e seus benefícios no cotidiano do serviço. Ao longo dos encontros posteriores, juntamente com os participantes, acompanhou-se o desenvolvimento das mudas e das espécies cultivadas. Também foi realizada uma oficina de chás, com informações e debate sobre formas de preparo. Durante as atividades, os próprios participantes levantaram a demanda de uma oficina sobre tingimento natural, uma vez que produzem bolsas ecológicas e tinham interesse em aprender a técnica para promover a sustentabilidade e agregar valor às suas peças. Com isso, o grupo pesquisou sobre plantas e métodos usados no tingimento de tecidos, atentando-se a tipos de corantes, maneiras de preparo, tipos de tecidos e fixadores, utilizando para a pesquisa apostilas online. Para realização de tal técnica, foram realizados dois encontros para o tingimento natural, utilizando pigmentos como feijão, cascas de cebola roxa e amarela, erva mate e café, que resultaram em tecidos muito pigmentados e que mantiveram bem a cor após as lavagens. Outra oficina que surgiu como uma demanda dos próprios oficineiros foi para a produção de exsicatas, que consiste na secagem de plantas/flores/folhas em prensas entre folhas de jornais. Essas plantas prensadas são mantidas em uma pequena estufa artesanal para assegurar a secagem adequada e manter as cores originais das partes. O interesse pela técnica surgiu pois poderia ser utilizada na  confecção de velas e papel artesanal, embelezando-as e agregando valor aos produtos. Para essa oficina, foram recolhidas flores nas redondezas do Geração POA, colocadas em jornal e prensadas com papelão, para em seguida serem colocadas em uma estufa construída com uma caixa de papelão e uma lâmpada para aquecimento. Uma das flores utilizadas foi o plumbago, que por ser pequena, seca com facilidade e mantém a cor. No encontro de encerramento das atividades do ano, os participantes das oficinas ensinaram aos integrantes do projeto a produção de velas, utilizando as flores secas preparadas anteriormente. Considerações finais: A elaboração das cartilhas e as ações realizadas no Geração POA possibilitaram pensar a saúde como uma construção conjunta com a comunidade, agregando e valorizando os saberes populares. Entendemos que tais experiências ajudam a impulsionar a autonomia e expandir a rede de conhecimentos com intuito de tornar a informação mais acessível em relação ao cultivo de plantas medicinais. As experiências vividas e os retornos positivos inspiram o seguimento das ações. Por fim, ressalta-se a importância da interprofissionalidade e o compartilhamento de saberes de diferentes áreas, repercutindo em efeitos positivos na prática profissional e no cuidado integral à população.