Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Avaliação do enfrentamento da sífilis gestacional de 2016-2019, em Vitória (ES)
MARA REJANE BARROSO BARCELOS

Última alteração: 2022-01-26

Resumo


A sífilis é uma doença milenar, que vem se mantendo como um grande problema de saúde pública no Brasil e no mundo, malgrado muitas tentativas de sua eliminação. Na última década, observou-se aumento de notificações de casos de sífilis em gestantes, devido à melhoria do sistema de vigilância e ampliação da utilização de testes rápidos. Já está bem estabelecido na literatura que diversos fatores podem se associar ao aumento da prevalência de sífilis entre gestantes como a multiplicidade de parceiros sexuais, faixa etária jovem, baixa escolaridade, multiparidade, mulheres que não coabitam com o parceiro, pessoas com coinfecção pelo HIV, perfil socioeconômico baixo, dentre outros. O município de Vitória (ES) constou, no período de 2010 a 2018, entre as 18 capitais com taxas de detecção de sífilis em gestantes, superiores à do Brasil. Em 2016, quando a sífilis foi declarada como um grave problema de saúde pública no Brasil, pelo Ministério da Saúde, o município de Vitoria fortaleceu as diretrizes do enfrentamento da doença, quando passou a adotar o Plano de Enfrentamento “Vitória contra a Sífilis”. Os eixos do plano são considerados como as atividades a serem desenvolvidas continuamente. Este estudo aborda a avaliação do enfrentamento da sífilis em gestantes no município de Vitória (ES), por meio de indicadores quantitativos de resultados, previstos no citado plano. Ao analisar os dados das fichas de notificação de um período, adquire-se mais conhecimento do problema, além de proporcionar oportunidade de elaboração de políticas públicas de saúde que visem melhorar a prevenção da transmissão vertical (TV) da sífilis. Sabendo-se que o processo é onde se dá a inter-relação entre o prestador e o receptor dos cuidados, neste estudo considerou-se o processo como o próprio Plano de Enfrentamento, e a realização de ações no cumprimento de cada eixo, mediando a relação profissional-usuário. A avaliação dos resultados consiste no efeito do cuidado prestado sobre o estado de saúde da população, utilizando a satisfação com o atendimento recebido. Os resultados podem ser um reflexo das ações do cuidado, porém não é possível apontar erros sem avaliar as etapas que o antecederam. O objetivo deste estudo foi analisar os casos notificados de sífilis em gestantes, no período de um quadriênio, e descrever três indicadores de resultados utilizados na avaliação do plano. Trata-se de um estudo de avaliação para a gestão, descritivo, quantitativo, que incluiu todos os casos de sífilis gestacional notificados no SINAN, entre 01/01/2016 e 31/12/2019. Neste estudo de avaliação para a gestão, pretende-se contribuir para o aprimoramento do objeto avaliado. Não se trata de buscar fundamentos, justificativas e nem direcionamentos, mas a melhoria de uma condição dada. Assim, a presença do avaliador interno é condição necessária e considera-se que nos seus termos se dê a participação do avaliador externo, geralmente presente. Para avaliação do enfrentamento da sífilis em gestantes, as variáveis estudadas foram distribuídas consoante as seguintes características sociodemográficas: idade materna em anos; cor da pele; idade gestacional do diagnóstico de sífilis e escolaridade. Utilizaram-se, também, características clínicas e laboratoriais, como: teste não treponêmico na gestação; teste treponêmico na gestação; classificação da sífilis; qualidade do tratamento recebido pela gestante (adequado, inadequado); se realizou ou não o tratamento do parceiro. O Plano de Enfrentamento Vitória contra a Sífilis é composto por oito eixos, sendo três deles relacionados às gestantes: captação precoce das gestantes com sífilis; acompanhamento do pré-natal de todas as gestantes (dado pela cobertura do pré-natal com 1 ou mais consultas; e o monitoramento das gestantes com sífilis e parceiros foi analisado com base em um indicador composto que agregou: o percentual de teste treponêmico, o percentual de teste não treponêmico; a soma do percentual de tratamento das gestantes com 7.200.000 UI e 2.400.000 UI de Penicilina Benzatina; o percentual de realização de tratamento concomitante do parceiro e a soma do percentual de tratamento dos parceiros com 7.200.000 UI e 2.400.000UI de Penicilina Benzatina, expressos nas notificações de sífilis em gestante no quadriênio 2016 a 2019. Os dados quantitativos, provenientes do estudo, foram tabulados, digitados e categorizados. Foram produzidas estatísticas simples e análises capazes de se transformar em números, resultando nos indicadores trabalhados na pesquisa. A análise dos dados do SINAN foi realizada por meio do pacote estatístico PSPP. Esta pesquisa foi aprovada pelo Parecer n.º 3.787.294, de 20 de dezembro de 2019, CAAE 25982319.6.0000.5060. No quadriênio 2016 a 2019, o município de Vitória teve 715 mulheres residentes notificadas para sífilis na gestação, pelo critério ano de diagnóstico, sendo tal número crescente ao longo dos quatro anos: 169 casos em 2016, 172 em 2017, 176 em 2018 e 198 em 2019. Em Vitória, a notificação ocorreu, com maior frequência, no primeiro trimestre da gestação, e a maioria das gestantes realizou o pré-natal no município. As gestantes apresentaram, como faixa etária predominante, a de 20 a 29 anos (54,0%). A raça/cor predominante foi a parda (55,0%), seguida pela branca (14,5%), preta (14,3%) e amarela (0,3%). A classificação clínica da sífilis foi considerada como latente em 38,7% dos casos; ignorada em 28,7%; primária em 11,2%; em branco em 8,7%; terciária em 7,3%; e secundária em 5,5% dos casos. Do total de gestantes, 57,3% possuíam o ensino médio incompleto e 28,2%, ensino fundamental incompleto; houve 21,7% de ignorado. Quanto ao teste treponêmico no pré-natal, 56,1% das gestantes o realizaram. Quanto ao teste não treponêmico no pré-natal, 93,4% o realizaram. O parceiro foi tratado concomitantemente à gestante em apenas 34,5% dos casos. O esquema de tratamento das gestantes foi, na maioria das vezes, a Penicilina G Benzatina 7.200.000 UI (80,4%). O percentual de captação precoce (indicador 1) foi 62,5% em 2016, 63,67% em 2017, 66,60% em 2018 e 66,71 em 2019. A cobertura de pré-natal (indicador 2) foi 99,13 em 2016; 98,71 em 2017; 98,81 em 2018; e 99,26 em 2019. O indicador de resultado do monitoramento das gestantes com sífilis (indicador 3) foi 58,36% em 2016, 60,8% em 2017, 58,52% em 2018 e 66,06 em 2019. É provável que, em parte, o aumento do número de casos se deva ao Sistema Informatizado Rede Bem Estar (SGIRBE), que permite a notificação de forma rápida, e ao aumento da testagem rápida, pois considera-se que o avanço importante no rastreamento da sífilis seja a disponibilidade relativamente recente de testes rápidos de diagnóstico para a detecção de anticorpos do Treponema pallidum. Embora no quadriênio 2016 a 2019, a taxa de detecção de sífilis em gestantes tenha sido ascendente, houve elevação na captação precoce, na cobertura do pré-natal e no monitoramento, resultando em melhoria no enfrentamento da sífilis nesse segmento. No entanto, ainda cabem melhorias nos citados indicadores e medidas que ampliem a qualidade da assistência pré-natal.