Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A INFODEMIA SOBRE A COVID-19 E AS REPERCUSSÕES NA SAÚDE MENTAL DE IDOSOS: ESTUDO COMPREENSIVO
Bianca da Silva Andre, Rodolfo Gonçalves de Melo, Marina Tosatti Aleixo, Márcia Matos Sá ottoni Letro, Deíse Moura de Oliveira

Última alteração: 2022-02-01

Resumo


Apresentação: Infodemia é um termo utilizado para representar o excesso de informações enganosas e tendenciosas sobre diversos assuntos, como tratamentos milagrosos não comprovados cientificamente. O cenário pandêmico da Covid-19 vem sendo considerado palco de grandes veiculações de “fake news” em diferentes tipos de mídias, principalmente em espaços digitais, resultando no aumento de estresse, medo, pânico, agravando doenças mentais associadas. Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a infodemia um problema global de saúde pública, em virtude dos agravos que ela tem provocado. Em se tratando das faixas etárias  atingidas pela infodemia da Covid 19, os idosos são fortemente afetados, por representarem o grupo que apresenta maior vulnerabilidade, seja em função da presença de comorbidades observadas – como hipertensão, diabetes, problemas renais, entre outros – que, consequentemente, aumentam os riscos de agravamento da infecção e da mortalidade neste grupo, seja por questões sociais – idosos estão sujeitos à solidão, devido ao maior distanciamento físico e social, o que interrompe e altera o ritmo da vida nesse público-alvo. A pandemia, portanto, restringe atividades que antes eram rotineiras e que lhes proporcionavam segurança e amparo. Neste contexto emergem o excesso de informações veiculadas no período pandêmico, afetando sobremaneira a população idosa. Diante do exposto, a presente pesquisa tem por objetivo analisar a relação entre a infodemia sobre a COVID 19 e as repercussões na saúde mental de pessoas idosas. Desenvolvimento: Esta investigação é um recorte de um estudo multicêntrico misto de estratégia sequencial explanatória que está sendo realizado no Brasil, Portugal, Espanha, Peru e Chile.  O trabalho aqui apresentado consiste em uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. Na ocasião de participação dos idosos na fase 1 da pesquisa (estudo transversal por web-based survey) os mesmos foram perguntados sobre o desejo de participar da fase 2 (etapa qualitativa). O interesse declarado dos idosos foi computado, de modo a conduzir o pesquisador à seleção dos participantes para a etapa qualitativa. Portanto, os participantes desta pesquisa foram os idosos que responderam a Web-based survey na fase 1 e que aceitarem participar da fase 2 em um dos municípios integrantes da pesquisa no Brasil. Na ocasião da seleção dos participantes as seguintes variáveis foram consideradas: sexo; idade (60-70 anos); (71-80 anos), (81-90 anos) e (> 90 anos); se vive com a família, sozinho ou em instituição de longa permanência e escolaridade. A amostragem considerou essas variáveis com vistas a alcançar uma representatividade de diferentes idosos, considerando suas faixas etárias e características sociais. A coleta de dados se deu por meio de entrevistas, orientadas por um roteiro. Elas se deram por telefone, smartphone ou videoconferência, guiadas por um roteiro semiestruturado com as seguintes questões orientadoras: descreva para mim uma situação durante a pandemia de Covid-19 em que você precisou buscar informações. Durante a pandemia de Covid-19, como você se sente ao receber informações ou notícias sobre a doença ou sobre o vírus? Como você tem lidado com isso que sente neste período de pandemia de COVID-19? No período de pandemia, o que você tem feito (ou fez) para amenizar sentimentos negativos relacionados às informações sobre a COVID-19. A gravação das entrevistas foi realizada por um aplicativo específico para essa finalidade, de modo a preservar a qualidade dos depoimentos fornecidos, em seguida foram feitas, na íntegra, as transcrições das gravações. Os resultados estão sendo analisados Os dados serão analisados a partir da análise de conteúdo Bardin, contendo as seguintes etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, tendo como auxílio o software Nvivo. Resultados: A maioria dos idosos, quando questionada, negou ter recebido diagnósticos de ansiedade, estresse ou/e depressão no transcorrer da pandemia. Não obstante, expôs que passou a se sentir mais triste e ansioso. No que tange à busca por informações que realizaram, as atmosferas das respostas se diversificaram: alguns idosos se sentiram melhor ao não tomar ciência de nenhum tipo de explanação acerca da pandemia, ao passo que outros se sentiam mais confiantes ao fazerem suas próprias pesquisas, a fim de moldar suas opiniões no que tangia ao momento pandêmico. As fontes pautavam-se, sobremaneira, em telejornais, notícias compartilhadas via WhatsApp e sites da internet. Ao terem sido interpelados se ordinariamente acreditavam nas notícias que recebiam ou se questionavam o conteúdo dos compartilhamentos, com vistas a detectarem possíveis “fake news”, a maioria dos idosos relatou que possuía o costume de averiguar, através de sites na internet, as notícias antes de continuar a transmissão do conteúdo. Para além, os entrevistados declararam que, não raras vezes, ignoravam determinadas conversas e até mesmo grupos de WhatsApp que conjecturavam passar notícias de natureza duvidosa. Ademais, quando se reportaram aos sites que usavam para fazer as pesquisas disseram ter preferências por artigos escritos por médicos e infectologistas. No que concerne aos sentimentos experienciados pelos idosos quando viam ou ouviam alguma notícia sobre a pandemia, houve uma unanimidade ao expressarem sentimentos negativos, tais como angústia, tristeza, raiva, preocupação, apavoramento e medo. Entretanto, também relataram que esses sentimentos minimizaram ao longo do tempo, dando origem a um certo comodismo e conformidade com a situação vivenciada. Quando foram perguntados sobre quais notícias os impactavam mais, mortes, falta de assistência adequada e ações governamentais foram assuntos ordinariamente comentados. Como forma de enfrentamento ao momento pandêmico e ao excesso de informações que os cercam, muitos entrevistados disseram encontrar forças na espiritualidade e na religião. Outro ponto em comum diz respeito à tentativa de se concentrarem em suas tarefas cotidianas, com vistas a manterem suas atenções desviadas da pandemia. A volta de trabalhos presenciais e caminhadas com amigos e familiares também foram recorrentemente citados como fatores positivos em tal enfrentamento. Aqui, faz-se necessário ressaltar que outro comportamento relatado foi o de esquivamento das informações, em especial daquelas transmitidas por telejornais, no intento de preservação da saúde mental. Vale salientar também que a vacinação, tanto dos próprios idosos, como de seus entes queridos, foi uma questão determinante para que a maioria  se sentisse mais segura ao lidar com a COVID. Considerações finais: Para se ter intervenções adequadas, de modo a atingir a pessoa idosa, se faz necessário compreender o impacto da infodemia na saúde mental dessa população. Os espaços midiáticos, apesar de contribuir muito, podem representar um terreno fértil para o compartilhamento de informações falsas sobre a origem do vírus, formas de contágio, medidas de prevenção e contenção, número de casos e mortes e, sobretudo, a respeito das vacinas. Tal situação repercute em gatilhos e entraves capazes de prejudicar a qualidade da saúde mental, principalmente direcionada ao grupo avaliado, o que, de fato, representa um problema de saúde pública mundial. Portanto, torna-se relevante a  realização de pesquisas voltadas à compreensão do fenômeno “infodemia sobre a Covid-19 e suas repercussões na saúde mental da pessoa idosa”, com vistas a aprofundar os sentidos, significados, crenças, valores e comportamentos envoltos neste contexto.