Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID 19: UM ENFOQUE PARA SENTIMENTOS EMERGIDOS NO DECORRER DO ENSINO REMOTO
Marina Tosatti Aleixo, Milleny Tosatti Aleixo, Vanessa de Souza Amaral, Deíse Moura de Oliveira

Última alteração: 2022-01-21

Resumo


Apresentação: Em decorrência da pandemia da COVID 19, instituições de ensino precisaram se (re)inventar em seus formatos pedagógicos, como medida preventiva no processo de disseminação do novo coronavírus. Isto porque o contato de pessoa a pessoa revelou-se como um importante meio de transmissão da SARS CoV 2, sendo o isolamento social o modo mais efetivo para a contenção da pandemia. Neste contexto, as aulas remotas surgiram como uma medida emergencial, inclusive no ensino superior, sendo mediadas por plataformas online dotadas de recursos para viabilizar o processo ensino-aprendizagem, promovendo o contato professor-aluno e aluno-aluno, ordinariamente via chats, áudio e vídeo. Embora este formato tenha permitido a continuidade do aprendizado, também gerou grandes repercussões nos estudantes universitários, com destaque para os sentimentos emergidos durante esta experiência no período pandêmico. Assim, esse projeto tem por objetivo relatar os sentimentos experienciados por estudantes da área da saúde de uma universidade pública do interior de Minas Gerais no decorrer do ensino remoto realizado no contexto pandêmico. Desenvolvimento: O anúncio de que as atividades presenciais de uma Universidade pública do interior de Minas Gerais estavam suspensas deu-se em março de 2020, momento também no qual foi solicitado aos estudantes que voltassem para suas cidades natais, haja vista a provável sobrecarga do sistema de saúde que o município sede da universidade enfrentaria com a pandemia. A magnitude da transmissão e poder letal do vírus ainda não estavam bem estabelecidos, bem como a durabilidade da paralização das aulas. Assim, predominava-se uma incerteza em relação ao panorama mundial. Em maio do mesmo ano foi instituído o período especial remoto, um modelo de experimentação com algumas disciplinas isoladas, ofertadas em dois meses. Devido a permanência do isolamento social, em agosto foi iniciado o primeiro semestre letivo remoto, no qual os discentes tiveram a opção de matricularem-se ou não. Uma vez que grande parte dos alunos retornaram para as residências de seus familiares, na maioria dos casos, pela primeira vez desde o início de suas graduações, iniciou-se um dilema até então desconhecido, consistido na dificuldade de conciliar e organizar o tempo entre a universidade e família, que em muitos casos não conseguiam compreender a nova situação experenciada pelo acadêmico. Perpassando também esse momento houve a própria adaptação das aulas mediadas pelas tecnologias digitais de informação e da comunicação, que necessitavam do empenho pessoal de cada estudante para um bom aprendizado. Contudo, mesmo mediante de intensos estudos a insegurança em relação à retenção do conhecimento tornou-se constante para os discentes. A ausência de aulas práticas sendo ministradas de modo presencial, somado à perda de oportunidade de realizar acompanhamentos presenciais em atendimentos – na Atenção Primária, secundária ou terciária à saúde –contribuiu fortemente para esse sentimento, em especial para cursos da área da saúde, como Nutrição, Enfermagem e Medicina. Paralelamente, o maior quantitativo de atividades – se comparado a períodos presenciais – transcorridos em cada disciplina culminaram no desenvolvimento ou agravamento de quadros de ansiedade nos estudantes, que muitas vezes eram seguidos por episódios de raiva e tristeza, em virtude do caótico contexto vivenciado. Em abril de 2021 iniciou-se o segundo período especial remoto, que teve duração de quatro meses. Embora todas os sentimentos anteriormente relatados tenham persistido e se intensificado, foram experenciados simultaneamente a segurança que muitas vezes o ambiente doméstico ofertava, além da flexibilização da rotina. Aqui, também houve dois caminhos que foram ordinariamente seguidos: muitos discentes iniciaram diversas atividades extracurriculares, com vistas a explorarem as possibilidades acadêmicas que o período remoto ofertava, enquanto outros tantos optaram por se afastarem de tal meio. No entanto, em diálogos permanentes com os colegas percebia-se uma atmosfera comum entre os discentes: a maioria se encontrava, em maior ou menor grau, enfrentando desafios relacionados à desorganização de suas agendas e à gestão do tempo. Outro ponto gerador de ansiedade nos discentes que relatam a presente experiência se refere ao fato de as disciplinas não serem ofertadas seguindo a linearidade dos períodos habituais. Ou seja, os estudantes não conseguiam localizar em qual período do curso estavam, uma vez se matriculavam em disciplinas de diferentes semestres, sem seguir a matriz curricular de suas graduações. Isso se deu em virtude de os cursos da saúde serem compostos por disciplinas com uma carga horária prática expressiva, as quais muitas vezes não eram ofertadas em razão do formato remoto necessário ao momento pandêmico.   Somado aos sentimentos vivenciados relacionados às incertezas da matriz curricular, os acadêmicos também ampliaram sobremaneira o tempo que passavam sentados, em um mesmo ambiente, sendo expostos a múltiplos tipos de telas devido às aulas e atividades estarem acontecendo exclusivamente através delas. Além de cefaleia, esse excesso culminava em um grande cansaço mental, em virtude do demasiado contingente de informações ministrados sem uma articulação prática, capaz de materializar os conhecimentos adquiridos. Somado a isso sentimentos angustiantes emergiam na oportunidade de trocas informais de experiências entre os estudantes, que comparavam o enfrentamento individual à pandemia e à academia, gerando ora uma sensação de adequação ao momento, ora de inadequação ao mesmo. Nessa conjuntura, em julho de 2021 deu-se início o terceiro período remoto, com durabilidade de quatro meses. A hesitação acerca do cursar ou não determinadas disciplinas remotamente mostrava-se cada vez mais comum, mas, uma vez que o cenário pandêmico se estendia, muitos estudantes se matricularam no período, mesmo sem se sentirem confiantes com a decisão, para não atrasarem ainda mais seus cursos de graduação. Simultaneamente, os alunos também tiveram a oportunidade de percorrerem novos degraus no processo de autoconhecimento, e reverem atitudes, pensamentos e princípios adotados em suas vidas. Assim, realizaram conquistas pessoais, superaram-se, descobriram novos hobbies e puderam optar por caminhos ainda não vislumbrados. O mês de Novembro de 2021 foi marcado pelo início do período híbrido de transição, que se estenderá até abril de 2022. Considerando que as férias entre um período e o outro foram de apenas um mês, tal período letivo foi manifesto por um extremo cansaço, mental e físico, gerado pelas aulas remotas. Paralelamente, tornou-se crescente a ansiedade social no que tange ao retorno presencial, graças ao desconhecido do novo que se (re)inicia. Resultados: Neste contexto, os períodos remotos ocasionados pela pandemia da COVID 19 desdobraram-se em torno de muitos sentimentos, tais como ansiedade, confusão e cansaços mentais, raiva, tristeza, dúvidas e incertezas. Outra sensação fortemente experenciada foi a insegurança acerca da real aprendizagem que os estuantes estavam possuindo, o que contribuiu para um intenso medo de essa possível defasagem afetar a sua qualificação para serem bons profissionais no futuro. Considerações finais: o contexto sanitário impôs a cada estudante uma necessidade de abertura para o novo e desconhecido, atravessado por sentimentos conflituosos em virtude do cenário de incertezas da pandemia e da própria modalidade de ensino remoto. Neste contexto coube a todos e a cada um/uma o resgate da sensibilidade para com o outro e para consigo mesmo, em uma busca pela luz em meio ao caos. Assim, tal cenário, sobre o qual não há culpados, ensinou aos acadêmicos a fazerem novas escolhas, modificando suas percepções acerca da vida e de seus percalços.