Apresentação

O presente trabalho relata a experiência desenvolvida pela coordenação de Educação Profissional de Saúde da Escola de Saúde Pública de Sergipe – ESP/SE na oferta de Curso EaD “Novo Coronavírus - COVID-19 para ACS e ACE”, que teve como ponto de partida o cenário apresentado pela crise instalada devido à COVID-19 no Estado de Sergipe. O referido curso teve como objetivo oferecer conhecimentos sobre o tema da Covid-19, a fim de contribuir com reflexões para melhoria no processo de trabalho dos ACS e ACE no contexto da Pandemia.

Desenvolvimento do trabalho

Conhecer a realidade que o trabalhador está inserido e os problemas relacionados a seu processo de trabalho, constitui-se diretriz da Política de Educação Permanente em Saúde, a qual configura-se enquanto uma estratégia potente para reorganização do cuidado em saúde. Desse modo, a fim de mapear os conteúdos necessários a serem discutidos na formação, baseados na realidade dos profissionais Agente Comunitário de Saúde - ACS e Agente de Combate às Endemias - ACE no enfrentamento à pandemia, foi aplicado um questionário para pesquisa de opinião utilizando a ferramenta do “google forms”. Pautado nas necessidades de aprendizagem desses trabalhadores a equipe da ESP/SE elaborou a proposta pedagógica do curso “Novo Coronavírus - COVID-19 para ACS e ACE”.

Diante do cenário vivenciado e entendendo que as ofertas de qualificação para trabalhadores do SUS devem se inserir numa perspectiva alinhada às novas culturas digitais, o curso “Novo Coronavírus - COVID-19 para ACS e ACE foi ofertado na modalidade da Educação à Distância (EaD), em um formato autoinstrucional, sem o acompanhamento de um tutor, de modo que os cursistas tivesse acesso aos materiais e conteúdos de acordo com seu ritmo de aprendizagem e sua disponibilidade de tempo.

O curso “Novo Coronavírus - COVID-19 para ACS e ACE está disponível desde 21 de setembro de 2020, por meio da plataforma Moodle, pauta-se em metodologias ativas de aprendizagem e está organizado em quatro módulos perfazendo um total de 30 (trinta) horas: Módulo 1 – Identificação e manejo dos Casos de COVID-19. Neste módulo os ACS e ACE conhecem o papel da Atenção Primária à Saúde no enfrentamento a pandemia do novo coronavírus, quanto a identificação, manejo e controle da infecção da COVID-19 nos diversos territórios do SUS Sergipe; Módulo 2 - Cuidado aos grupos de risco no contexto da COVID-19. Nesse os ACS e ACE conhecerão quais os grupos de risco para COVID-19 e os cuidados necessários a esses usuários; Módulo 3 – Medidas de Biossegurança durante a visita domiciliar em tempo de pandemia. Busca apresentar medidas de biossegurança, frente às atividades dos ACS e ACE no contexto da pandemia do Novo Coronavírus (SARS - CoV-2); Módulo 4 – Comunicação e informação: abordagem junto aos usuários. Tem como tema central discutir sobre os instrumentos, métodos, técnicas e práticas de comunicação em saúde do ACS e ACE no contexto da COVID-19.

Com o propósito de dialogar com as diretrizes da Educação Permanente em Saúde foi proposto em cada módulo o exercício do “Arco de Charles Maguerez”, que é uma das estratégias de ensino-aprendizagem para o desenvolvimento da Metodologia da Problematização, pois não basta codificar um conjunto de saberes em ambientes virtuais para que se estabeleça uma relação pedagógica de ensino, mas é necessário sistematizar e organizar metodologias e didáticas específicas para a interação dos envolvidos no processo.

Seguindo as etapas do arco foram utilizadas ferramentas pedagógicas, em cada módulo, para colaborar com a reflexão e a construção da autonomia dos sujeitos, quais sejam: 1. Situação de aprendizagem (observação da realidade): compreendem dispositivos pedagógicos que contribuem para análise e reflexão de uma dada realidade, as quais colaboram para que o aluno possa realizar construções processuais do aprendizado e desenvolver competências sobre o tema proposto de forma contextualizada. Neste curso foram utilizadas como situações de aprendizagem: situação-problema e vídeos; 2. Questões norteadoras (identificação dos pontos-chave): são propostas para auxiliar o aluno a refletir sobre os problemas apresentados, com o objetivo do cursista identificar os principais elementos contidos em cada situação de aprendizagem; 3. Texto de apoio (teorização); foi desenvolvida por meio da oferta de textos de apoio na perspectiva de contribuir para que o cursista pudesse compreender o problema, não somente a partir das experiências ou situações propostas expostas na formação, mas também com base nos princípios teóricos que os explicam; 4. Questionário (hipótese de solução): é um instrumento em que consiste na elaboração de alternativas viáveis para solucionar os problemas identificados, de modo crítico e criativo, a partir do confronto entre a teoria e a realidade discutida. Nessa etapa o cursista tem acesso a um consolidado de questões centrais discutidas em cada módulo para que possa refletir sobre as possibilidades de intervenção em seu território; 5. Exercício prático in loco (aplicação à realidade): o cursista deve refletir em cada módulo sobre o que foi compreendido, analisado, estudado e proposto em sua prática cotidiana, para o enfrentamento às situações que envolvem a Covid-19.

No início da formação o cursista participa de um pré-teste com o objetivo de compreender o que ele sabe sobre o tema e este mesmo teste é aplicado ao final do curso.  A cada término de módulo o aluno deve responder uma avaliação que permite o acesso ao próximo módulo.  Para aprovação, precisa-se obter no mínimo 75% de acerto no questionário final, podendo ter realizado até três tentativas, permanecendo a maior nota. O aluno que acessar todos os módulos e concluir todas as avaliações, com sucesso, poderá emitir o certificado do curso.

Resultados e/ou impactos

O curso ora apresentado teve até o momento 401 (quatrocentos e um) inscritos, desses 242 (duzentos e quarenta e dois) concludentes com emissão de certificado digital por meio da plataforma EaD. Sobre os profissionais que concluíram o curso, 127 (cento e vinte e sete) são Agentes Comunitários de Saúde, 26 (vinte e seis) são Agentes de Combate às Endemias e 99 (noventa e nove) pertencem a outras categorias profissionais, inclusive de nível superior.

Participaram da formação profissionais de 24 (vinte e quatro) municípios do Estado de Sergipe, com destaque para as cidades de Itabaianinha, Canindé de São Francisco, Boquim com média de 28% de participantes, além da participação de profissionais de outros estados.

Tal formação deverá colaborar com a instituição de novas práticas no que diz respeito à temática, bem como contribuirá para qualificação individual dos trabalhadores, sendo de grande importância para os serviços ofertados no âmbito do SUS.

Considerações finais

Compreende-se que faz-se necessário investir em processos de qualificação, no âmbito do SUS, mediados por tecnologias digitais, e orientados pelas diretrizes da Educação Permanente em saúde, enquanto uma potente estratégia para dialogar com as necessidades de aprendizagem dos trabalhadores inseridos nos serviços de saúde, na perspectiva de colaborar com a melhorias das práticas desses profissionais com vistas a instituir um melhor cuidado aos usuários atendidos no SUS Sergipe.