Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O fluxograma descritor como analisador de um serviço de vigilância em saúde tendo a sífilis adquirida como elemento traçador
FÁBIA LISBOA DE SOUZA, Márcia Santana da Silva, Clarissa Gonçalves da Silva, Thaís Maria Jesus de Oliveira, Ana Cláudia Manhães

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


  • Tema – título

O fluxograma descritor como analisador de um serviço de vigilância em saúde tendo a sífilis adquirida como elemento traçador

  • Apresentação

A educação permanente é um conceito potente e que se traduz em potência nas práticas dos serviços de saúde. Permite analisar, pensar e discutir os processos de trabalho com vista às transformações necessárias para um trabalho em saúde ético, dialógico e que produza um cuidado centrado nos usuários. A vigilância em saúde desenvolve um trabalho para a produção de saúde do coletivo. Acontece por um processo contínuo de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados relacionados à saúde, para o planejamento e a implementação de estratégias e ações que visem à proteção da saúde da população. As equipes de vigilância que atuam em nível central precisam estar sempre olhando e analisando seu processo de trabalho que se dá junto a uma rede de saúde, podendo ser também disparador de educação permanente junto a essa rede. A equipe de vigilância no nível central precisa reconhecer o papel que pode exercer através de encontros com profissionais de saúde, quando tem a oportunidade de perceber dificuldades e necessidades dos profissionais nos serviços. Pode ampliar sua compreensão percebendo que a produção de conhecimentos é cotidiana nos serviços assistenciais, bem como no nível central de atuação. Sendo assim, compreendendo que o trabalho em saúde se processa com base em uma rede de conversas, e que para garantir a potência da educação permanente é necessário garantir tempo e espaço para compartilhar vivências, ideias, conceitos e afetos, buscou-se utilizar o fluxograma descritor junto a uma equipe de vigilância em saúde do nível central como analisador do seu processo de trabalho. Teve como objetivo analisar o processo de trabalho de vigilância da Assessoria de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais da Coordenação de Vigilância em Saúde do município de Niterói/RJ tendo como dispositivo o fluxograma descritor e como agravo de notificação selecionado, a sífilis.

  • Desenvolvimento do trabalho

Partiu-se, com base num conjunto de autores, do conceito de fluxograma descritor como ferramenta analisadora, que se constitui numa representação gráfica do processo de trabalho, elaborado de forma centrada no usuário, permitindo perceber os aspectos da micropolítica da organização do trabalho e da produção de serviços. Dessa forma, esta ferramenta é muito utilizada nos serviços de saúde, buscando identificar os caminhos percorridos pelo usuário quando procura assistência num serviço, a partir da sua inserção no serviço. Seria um desafio para uma equipe que trabalha com vigilância em nível central analisar o processo de trabalho do seu cotidiano, considerando que não se trata de um serviço assistencial e não há ali o usuário para que a equipe buscasse a memória dos seus passos. Após a apresentação conceitual sobre o fluxograma descritor para a equipe, quando participaram cinco Sanitaristas, decidiu-se que o elemento traçador no fluxograma seria a ficha de notificação/investigação, desde a sua chegada ao setor até a sua digitação no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), e que dentre os agravos trabalhados pela assessoria, a sífilis adquirida, como o mais prevalente, seria o escolhido. O Boletim de Sífilis de 2021 do Ministério da Saúde cita que os números de casos de sífilis no país são preocupantes, demonstrando necessidade de reforço às ações de vigilância, prevenção e controle da infecção. A estratégia apresentada na Assembleia Mundial de Saúde, em 2016, possui metas de redução global dos casos de sífilis e eliminação da sífilis congênita, para reduzir o impacto das IST como problema de saúde pública até 2030. O processo de construção do fluxograma foi híbrido, com algumas profissionais participando direto do setor de trabalho e outras virtualmente. Duas profissionais foram rascunhando em papel a representação gráfica do fluxograma descritor, à medida que a discussão e a reflexão iam acontecendo, acompanhando o caminho da ficha de notificação/investigação de sífilis adquirida ao chegar na coordenação de vigilância. O processo de construção do fluxograma aconteceu de forma coletiva, motivada e participativa, e foi muito educativo.

  • Resultados e/ou impactos

O encontro para a atividade de construção do fluxograma levou duas horas e vinte minutos, e ao final, cada profissional fez a sua avaliação do processo. Uma profissional desenhou o fluxograma em tamanho maior, posteriormente, para visualização pela equipe. A atividade permitiu às profissionais que não trabalham diretamente com o agravo selecionado, pensar e aprender mais sobre o mesmo. Levantou questões teóricas importantes a serem trabalhadas com os profissionais nas unidades de saúde, como o papel e significado do exame VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) em pessoas que já tiveram sífilis. Elucidou questões importantes do processo de trabalho da equipe de vigilância, apontando para a necessidade da paciência e solidariedade ao se trabalhar com os profissionais das unidades de saúde num processo que também é de educação permanente. Enfatizou-se que o fluxograma permite pensar o trabalho, e também leva à reflexão teórica, mas inserida no processo. Foi sugerido/encaminhado que o mesmo exercício, de construção coletiva do fluxograma, fosse realizado a partir dos outros agravos de notificação da assessoria de IST/Aids e Hepatites Virais, o que se mostra potente para a equipe de vigilância no nível central, bem como para o trabalho de comunicação em rede que é realizado com os profissionais das unidades. Também foi sugerida a redação de um artigo, apresentando a estratégia de educação permanente, produção coletiva de conhecimento a partir do processo de construção do fluxograma, e sendo a sífilis um problema de saúde pública prioritário.

  • Considerações finais

O fluxograma descritor é uma ferramenta analisadora que permite ver o processo, enxergar os entraves, os problemas e encaminhar soluções. Vão se apresentando como descobertas, as revelações do processo de trabalho que vão sendo produzidas pela equipe. Mostrou-se como um dispositivo importante para o fazer da educação permanente em saúde. Foi possível perceber que contribuiu para a perspectiva da educação permanente, de expor o trabalhador ao seu processo de trabalho, mesmo no caso do trabalho de vigilância no nível central. Possibilitou analisar o cotidiano do trabalho, refletir e avaliar a produção neste cotidiano e quais mudanças são necessárias. Além de ter se apresentado como potência para refletir o processo de trabalho da equipe de vigilância das IST/Aids e Hepatites Virais, também se mostrou potente apontando para algumas ações junto aos profissionais nas unidades de saúde.