Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DIFICULDADES NA CONDUÇÃO DO TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO DA TUBERCULOSE COM POPULAÇÕES ESPECIAIS: A EXPERIÊNCIA DE ENFERMEIROS
Paula Macelly Souto Ramos, Yury Bitencourt Da costa, Leonora De Oliveira Teixeira, Pedro Fredemir Palha, Amélia Nunes Sicsú

Última alteração: 2022-02-02

Resumo


A tuberculose (TB) é uma das principais causas de morbimortalidade entre as doenças infectocontagiosas no mundo, com incidência anual de 10,4 milhões de casos novos e 1,4 milhões de mortes, o que a caracteriza como um problema de saúde pública mundial. A pobreza é umdos fatores agravantes para causar TB, e o adoecimento gera ainda mais pobreza, mantendo ativo um ciclo que envolve indivíduos, famílias e comunidades. A associação entre indicadores socioeconômicos e ocorrência da TB, tornam alguns grupos mais vulneráveis. Assim, o risco de adoecimento na população em situação de rua (PSR) é 56 vezes maior comparados com o risco na população em geral. Frente à complexidade dos determinantes sociais da TB, o pilar 2 da Estratégia de Controle da Tuberculose pós 2015 recomenda políticas de proteção social para os pacientes e acesso universal à saúde, tornando essencial conhecer o comportamento da doença nesses grupos vulneráveis. Nesse contexto, convém destacar o importante papel da enfermagem nas ações de controle da tuberculose junto a essas populações. Dentre suas atribuições, cabe ao enfermeiro a gestão do TDO da TB e a observação da tomada da medicação propriamente ditaAssim, o objetivo deste estudo é analisar a experiência dos profissionais de saúde sobre o Tratamento Diretamente Observado da Tuberculose em populações vulneráveis. Método: Trata-se de um estudo qualitativo, realizado na cidade de Manaus-AM, onde os participantes foram enfermeiros atuantes emunidades básicas dos quatros distritos de saúde da cidade de Manaus. Utilizou-se de um roteiro de entrevista semiestruturada para a coleta de dados e todas as entrevistas foram áudio-gravadas. A coleta dos dados foi realizada no período de agosto a novembro de 2019. Para análise das entrevistas foi utilizada a fundamentação teórico-metodológica da AD de matriz francesa. A análise na perspectiva discursiva busca a compreensão dos processos de produção de sentidos, na relação da língua com sua exterioridade histórica e social. Este projeto é parte integrante do Projeto “Transferência De Política Do Tratamento Diretamente Observado Da Tuberculose Na Atenção Primária À Saúde Em Manaus-Amazonas: Um Estudo De Métodos Mistos”, submetido à Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas, C.A.A.E. n. 12248919.0.0000.5016 atendendo as normas referentes às recomendações éticas e legais contidas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e discussões: Foram entrevistados doze profissionais enfermeiros sendo três por distrito de saúde. Em relação ao sexo, os sujeitos entrevistados eram onze do sexo feminino e um do sexo masculino.  A faixa etária dos profissionais estava entre 28 a 55 anos. O tempo de atuação dos enfermeiros participantes, na atenção à pessoa com TB variou entre 1 ano e 11 meses à 19 anos de serviço. Os discursos sobre as experiências durante a execução do TDO da TB com populações consideradas especiais enunciam a dificuldade encontrada pelo serviço de saúde com em realizar o TDO com essas populações.Os Enfermeiros E1 e E5 enunciam as dificuldades para realização do acompanhamento às pessoas adoecidas usuárias de drogas e álcool como evidenciado pelas sequenciais discursivas “ele usa drogas e é alcoólatra também, toda vez que eu ia lá nem encontrava esse paciente não o vi mais (...) (E1)”, “Eu estava tentando fazer com uma moça que ela era viciada em drogas, (...)mas foi muito difícil”. O alcoolismo é um conhecido fator predisponente para os desfechos desfavoráveis da tuberculose, pois pode interferir de maneira significante no tratamento, pois o indivíduo se torna mais vulnerável comprometendo todo o tratamento em função da bebida. Essa característica serve de alerta mostrando a necessidade da abordagem assistencial diferenciada. Os enfermeiros E7 e E8 por sua vez discursam sobre suas vivências na realização do TDO com moradores de rua, reverberando que o ser morador de rua apresenta condições que desfavorecem um atendimento integral e equânime. “(...) a minha segunda maior dificuldade, é por eles morarem na rua. (E7)”; “O que eu observo aqui é que a parte mais crítica é quando eles são moradores de rua (E8)”. A população em situação de rua tem sido apontada como o grupo mais suscetível à TB, sobretudo em virtude do desconhecimento da doença, ausência de residência fixa e uso de substâncias psicoativas. Nesse contexto, fazem-se necessários a oferta de um serviço diferenciado para essas pessoas para garantir a atenção integral e equânime a esses indivíduos que apresentam uma maior necessidade de cuidado à saúde. O sujeito (E8) enuncia a exclusão da acessibilidade do morador de rua aos serviços de saúde devido à falta de documentação. “porque eles não têm documentação e o laboratório não aceita fazer o exame sem nenhum documento (...) (E8)”. As marcas linguísticas, indiretamente, reverberam sentidos da fragilidade nas ações dos profissionais das unidades de atenção Primária  à saúde para atender às singularidades dessa população que vive na precariedade, exclusão e invisibilidade social, mostrando que as equipes necessitam realizar uma assistência pessoal e direta a essa população.Conclusão: Cuidar da pessoa com tuberculose constitui uma experiência desafiadora, em virtude das dificuldades em lidar com a realidade e particularidades das pessoas com TB. Nessa lógica, a implantação de ações que abarquem somente questões biológicas tornam-se insuficientes para o controle da doença. Portanto aponta-se a importância da ampliação de estratégias com a finalidade de prestar a melhor assistência ao indivíduo adoecido para além da ingesta da medicação, integrando o cuidado do doente a partir de suas necessidades.