Introdução: A Vigilância em Saúde através da coleta, consolidação, análise e divulgação de dados assume o papel de contribuir no reconhecimento e monitoramento das informações de um território. Além de reconhecer e dar vida às ações dentro de um Centro de Saúde da Família (CSF), nos possibilita desenvolver um planejamento estratégico visando a promoção e prevenção de saúde da população, bem como, reconhecer as principais demandas e agravos de saúde dos territórios na Atenção Primária à Saúde (APS). Dentre os campos de atuação da Vigilância em Saúde, encontra-se a avaliação e monitoramento nutricional, instrumento deste estudo e com destaque para a população idosa. Avaliar e compreender o comportamento alimentar é relevante para entender o processo de adoecimento e recuperação da população, visto que os alimentos são importantes fontes de nutrientes e atuam também com função cardioprotetora. Tendo em vista o atual cenário mundial, observa-se um crescente consumo de produtos ultraprocessados pela população, e este hábito reflete diretamente nas capacidades funcionais do organismo humano, especialmente com impacto no processo de envelhecimento saudável, adoecimento e na capacidade de resposta imunológica. Nesse contexto de reconhecer o comportamento da população e o processo natural de envelhecimento, o Guia Alimentar para a População Brasileira (2014) do Ministério da Saúde ganha destaque, visto que aborda a orientação para a população ao compor sua alimentação e sabe-se que esta deve basear-se, preferencialmente, por alimentos in natura, ou seja, os alimentos obtidos diretamente de plantas ou animais e sem alterações após deixar a natureza. A orientação e disponibilidade de informação na estratégia de construção do conhecimento para a população é importante na conscientização e contribuição na mudança de comportamento. Assim os cuidados com os processos do consumo alimentar se tornam cada vez mais importantes e com maior destaque no processo saúde-doença e qualidade de vida, logo também cabe aos profissionais de saúde a responsabilidade por estimular, orientar, avaliar e promover o conhecimento para uma alimentação cardioprotetora. 

Metodologia: Este estudo é parte dos trabalhos de um projeto de extensão para o desenvolvimento de um aplicativo com base em um guia informativo para uso da população idosa e profissionais de saúde em período de pandemia. O aplicativo foi desenvolvido no ano de 2020, quando ocorria o auge do isolamento social, por estudantes e professores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) com o apoio da Secretaria de Município de Saúde e um CSF local. Neste trabalho será destacado a relação de dois capítulos do referido Guia, a saber: “Orientação dos fatores alimentares e nutricionais com função cardioprotetora” e o capítulo “Vigilância Nutricional da população idosa”.

Resultados: O aplicativo e o guia de orientação e utilização foram desenvolvidos de acordo com as demandas de saúde da população idosa identificada dentro do CSF, identificando-se que o processo natural de envelhecimento da população ocorre de forma desigual, quando comparado às diferentes áreas de um território. Também, que o comportamento alimentar ocorre de forma diferenciada, muitas vezes ocasionada pela relação econômica, de tempo e espaço, ou ainda a praticidade de alimentação com produtos industrializados. Assim, também considerando a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), entende-se que se faz necessário falar sobre o processo alimentar e disponibilizar as informações de saúde para a população como forma de promover a saúde e reforçar a imunidade de pessoas idosas frente à Covid-19. Levando isso em consideração, além de utilizar os alimentos como função cardioprotetora, o aplicativo dentre as informações oferecidas, destaca os alimentos que foram minimamente processados a fim de contribuir na alimentação dos idosos diante dos processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos similares. Também o (re)conhecimento da cultura alimentar brasileira, no qual preconiza o consumo de legumes, verduras, frutas, batata, mandioca e outras raízes e tubérculos in natura, embalados, fracionados, refrigerados ou congelados; ainda o consumo de arroz branco, integral ou parboilizado a granel ou embalado; o milho em grão ou na espiga, grãos de trigo e de outros cereais; feijão, lentilhas, grão de bico e outras leguminosas; entre outros grupos alimentares. (BRASIL, 2014). As ações de educação em saúde com essas informações à população idosa são importantes para promoverem o envelhecimento saudável, logo as necessidades nutricionais e condições alimentares da pessoa idosa devem ser identificadas e monitoradas ainda na APS, visto que essas necessidades têm importante relação com as condições de resposta do sistema imunológico e envelhecimento saudável. Quando considerado o período pandêmico vivenciado, mesmo reconhecendo que toda a população foi impactada pelas novas rotinas implantadas, dentre elas o isolamento social, vivenciando a vulnerabilidade dessa população, devido a sua predisposição no processo de adoecimento e recuperação de saúde. Dessa forma, o aplicativo e o guia desenvolvidos buscam aproximar a população com a temática, com o objetivo de orientação e complementação das orientações da APS, para além da contribuição do aplicativo na potencialidade que ele tem nas ações de educação em saúde dos idosos para indicações de composição das porções de alimentos para uma refeição balanceada e adequada, alimentos adequados à resposta imunológica como fator protetor à Covid-19.

Discussão: O desenvolvimento do aplicativo e acesso pela população visa a abordagem da temática de forma rápida, fácil e acessível às informações de qualidade. O processo inflamatório causado pelo SARS-CoV-2 pode ser agravado na  população idosa e considerando o descuido com a implementação de uma dieta saudável percebe-se que o monitoramento nutricional se faz necessário no idoso, pois a capacidade de resposta imunológica tem influências do processo normal de envelhecimento, agravado ou não por demais condições vivenciadas, bem como a compreensão da população da relação alimentação - hábitos alimentares - função cardioprotetora - resposta imunológica. Assim, percebe-se que o monitoramento nutricional se faz necessário no idoso e deve ser iniciado ainda na APS, pois a capacidade de resposta imunológica tem influências do processo normal de envelhecimento, agravado ou não por demais condições vivenciadas, no caso do período de desenvolvimento do aplicativo a pandemia ocasionada pelo vírus SARS-CoV-2.

Conclusão: A nova “forma de viver”, através do isolamento social e medidas restritivas nos fez repensar os cuidados de saúde aos idosos na APS, principalmente quanto à implementação de estratégias a esta população, dentre elas a importância da vigilância nutricional e alimentação saudável como importante fator de proteção na população idosa. Com a situação pandêmica e o isolamento social, o deslocamento aos centros de saúde estavam comprometidos, visto que o acesso era prioritário aos pacientes com sintomatologia e pelo fato de que os idosos eram os que estavam em maior risco de contaminação e resposta à COVID-19. Nesse contexto, compreende-se que o acesso às informações e a comunicação decorrente dessa ação de prevenção na relação de cuidado gerou um cuidado via remoto para fortalecimento do sistema imunológico como forma de prevenir a infecção por meio das informações referentes a alimentação cardioprotetora, promovendo saúde através de tecnologias e garantindo o acesso à informação de forma segura.

Palavras-chave: Idoso; Vigilância da população; Comportamento alimentar; Imunidade; Saúde Pública