No âmbito das práticas de saúde voltadas para os sujeitos em sofrimento psíquico, apesar dos importantes avanços para o atendimento às demandas destes sujeitos, a produção do cuidado é, frequentemente, distanciada da realidade de vida e das conexões existenciais dessas pessoas. Assim, a fim de contribuir para o debate sobre o tema da produção do cuidado em saúde mental e promover reflexões sobre estes sujeitos e suas potências, demandas em toda a sua complexidade, este estudo buscou, a partir da narrativa de uma usuária-cidadã-guia, conhecer a produção do cuidado à uma pessoa em sofrimento psíquico do município do Rio de Janeiro. Utilizando da cartografia como método, acompanhamos entre os meses de setembro de 2020 e fevereiro de 2021 o cotidiano de uma usuária a partir de uma unidade da Rede Básica de Saúde. Através de “entrevistas-encontros”, foi se construindo o vínculo com a  usuária, de modo que se tornou possível cartografar e dar voz às suas vivências, conexões existenciais, dificuldades, potências, na singularidade de sua existência, mas também no que as suas experiências e recolhimentos possuem e revelam de coletivo acerca da produção do cuidado em saúde mental. Como resultados, de um lado identificamos uma rede de conexões existenciais da usuária-cidadã-guia que se constituiu na valorização e importância atribuída à figura materna, nos afetos e vivências experienciadas nas relações de amor e amizades, na função social atribuída ao trabalho, no papel desempenhado pela unidade de saúde no enfrentamento das problemáticas cotidianas, e a significação da religião na vida da usuária. Esta rede de conexões existenciais foi caracterizada como “elementos potencializantes” da produção do cuidado singular da usuária. Por outro lado, capturamos “elementos fragilizantes” apreendidos em três interferências que se portaram como barreiras na produção do cuidado. A primeira interferência foi percebida na fragilidade dos vínculos e nos conflitos que permeiam as relações familiares; a segunda interferência se refere às condições sociais e materiais de vida da usuária; e a terceira interferência se mostra na atuação afrouxada e descontinuada da unidade de saúde. Desta imersão na vida desta usuária-cidadã-guia, concluímos sobre a importância das ressignificações e dos sentidos que o outro atribui às suas experiências de vida, o respeito às diferenças nos seus modos de se conduzir na vida, a valorização dos seus desejos e a importância do mapeamento das suas redes de conexões existenciais como ferramenta que ultrapassa os fluxos instituídos dos serviços de forma a propor novos caminhos para uma produção de cuidado relacional, que se conduz por um agir pelo encontro, sustentado pelo vínculo, pelo afeto e pelo que faz sentido na vida do outro.