Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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“(Re)produzindo Liberdades”: diálogos entre história e psicologia. Uma experiência em saúde mental em tempos de pandemia e retrocessos.
Claudia Freitas de Oliveira

Última alteração: 2022-01-27

Resumo


Apresentação

De 2019 a 2021, foi realizado o projeto de extensão intitulado “Histórias, experiências e cotidianos do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS”, vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal do Ceará  (UFC) e coordenado pela profa. Dra. Cláudia Freitas de Oliveira cujo principal objetivo era discutir e propor ações voltadas para a promoção da saúde mental por meio da interlocução com o Centro de Atenção Psicossocial localizado no bairro do Jardim América na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. O projeto constituiu-se como resultado de uma parceria com o programa de extensão, intitulado “Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos (PASÁRGADA)”, vinculado ao Departamento de Psicologia da UFC, coordenado pela profa. Dra. Mariana Tavares Cavalcanti Liberato. Assim, dois departamentos da universidade, história e psicologia, trabalhavam em parceria para a promoção da saúde mental em articulação com os direitos humanos. O objetivo inicial do projeto de extensão era construir ações, no território, junto com os usuários, familiares, profissionais da saúde e a comunidade que vivenciava o cotidiano do CAPS, no sentido de reconstruir suas experiências, trajetórias de vida, histórias e, eventuais memórias relativas à instituição. Entretanto, em 2020, em decorrência da pandemia da COVID-19 e a partir da orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a necessidade do isolamento social, como forma de minorar os efeitos propagadores da doença, o projeto de extensão sofreu profundas mudanças e readaptações quanto às atividades originais. A partir daquele ano, as ações somente foram possíveis através do formato remoto e a equipe – coordenada pelas professoras e por estudantes, bolsistas e voluntários, dos cursos de história de psicologia – construiu um canal de comunicação digital, por meio de podcasts, no qual foram produzidos temas relativos à saúde mental em diálogo com os direitos humanos. Nesse sentido, surgiu um novo projeto, intitulado “(Re)produzindo Liberdades” através do qual foram gravadas entrevistas em que os convidados abordaram temáticas específicas, como: saúde mental, direitos humanos, reforma psiquiátrica, luta antimanicomial, com ênfase em sua relação histórica e pessoal com os CAPS, equipamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Desenvolvimento do Trabalho

Enquanto método utilizado na viabilização do projeto “(Re)produzindo Liberdades” e na elaboração dos podcasts, foram realizadas reuniões de planejamento e discussão com a equipe. Seis podcasts foram produzidos com duração, em média, de 10 a 25 minutos. Os entrevistados escolhidos foram aqueles que possuíam alguma relação com os Centros de Atenção Psicossocial: enfermeiro, psicólogos, assistente social e usuário. Os temas dos podcasts foram: “(Re)produzindo Liberdades: quem somos”; “Direitos Humanos e Saúde Mental”; “Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica”; “CAPS, o que é e quais os seus desafios?”; “Celebração do18 de Maio em meio aos retrocessos da política de saúde mental no Brasil” e “Controle Social e as Comissões Intersetoriais de Saúde Mental”. Esta ação objetivou promover o fortalecimento do protagonismo dos usuários e profissionais de saúde de Fortaleza na construção de estratégias em defesa da saúde mental inclusiva e do cuidado em liberdade, fundamentados nos princípios dos direitos humanos, além de reforçar a importância do controle social e participação popular.

Resultados

Os seis episódios do podcast “(Re)produzindo Liberdades” e as demais ações construídas pelo projeto de extensão “Histórias, experiências e cotidianos do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS” e pelo grupo de pesquisa do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, “História, Loucura e Saúde Mental”, também vinculado ao Departamento de História e coordenado pela profa. Cláudia Oliveira, podem ser acessados nas páginas do Instagram https://www.instagram.com/historialoucurasaudemental/ e do podcast, https://open.spotify.com/show/3yyXZ5SvcDxNK3yYJlUxxJ?si=aPwhogh7TgaFzUVs0_lQOQ&utm_source=copy-link&nd=1. As várias ações produzidas pelo programa de extensão “Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos – PASÁRGADA”, também estão disponíveis nas redes sociais por meio da página https://linktr.ee/pasargadaufc  e do instagram @pasargadaufc. Desta forma, as ações contribuem para oferecer à sociedade a oportunidade do conhecimento e aprofundamento sobre os cuidados em saúde mental.

Considerações Finais

Enquanto efeitos decorrentes da experiência e dos resultados encontrados, consideramos que o projeto “(Re)produzindo Liberdades” proporcionou uma profícua articulação com duas áreas do conhecimento humano com arcabouços teóricos, conceituais e metodológicos distintos, a história e a psicologia, na construção de diálogos e trocas de experiências e na fomentação de espaços de interlocução entre saúde mental coletiva e direitos humanos. Na perspectiva da psicologia, o programa de extensão Pasárgada reforçou suas ações comprometidas com a dimensão ética e política, concebendo o sujeito imbricado com o seu âmbito social e dotado de potencialidades de reinvenção. Na perspectiva da história, o projeto de extensão contribuiu para o desenvolvimento de pesquisas no campo da história, loucura e saúde mental, discutindo objetos, metodologias, abordagens e críticas documentais pertinentes à produção histórica e historiográfica, nas articulações entre passado e presente em torno das concepções de loucura e saúde mental, compreendendo-as como processo em permanente construção e reconstrução em suas historicidades, e portanto, desconstruindo-as enquanto "dado" natural. O projeto “(Re)produzindo Liberdades” proporcionou o diálogo entre as áreas da psicologia e história sobre saúde mental por meio de entrevistas que abordaram a relação histórica e pessoal dos convidados na luta pela garantia de seus direitos. É importante, contudo, salientar que a despeito dos encontros serem viabilizados através de uma instituição de educação superior, seus efeitos e contribuições não se restringem aos espaços acadêmicos. Ao contrário, o projeto “(Re)produzindo Liberdades” constituiu-se como uma experiência cuja finalidade foi contribuir para a participação direta de usuários e profissionais da saúde mental nos cotidianos de um equipamento da rede de atenção psicossocial, indispensável no cenário atual brasileiro, marcado pela precária gestão da pandemia e por profundas crises socioeconômicas. O projeto também atuou no sentido visibilizar a necessidade do conhecimento e fortalecimento do controle social na medida em que todos os entrevistados têm inserção ativa no movimento social em defesa do cuidado em saúde mental em liberdade e são integrantes do Fórum Cearense da Luta Antimanicomial, vinculado à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial –(RENILA) que representa um lugar de resistência aos retrocessos das políticas de saúde mental instituídas pelo governo federal e do avanço do neoliberalismo autoritário no Brasil.