Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Oficinas de Trocas de Saberes entre pajés, rezadores, curandeiros tradicionais e Equipes de Saúde DSEI ARS, Amazonas
Cristiane Ferreira da Silva, Julio cesar Schweickardt, nilzoney ferreira de souza, marcio costa arevalo, thayla milena carvalho galvao, ellen cristina salazar de souza, sildoney mendes da silva, viviane lima vercosa

Última alteração: 2022-01-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Solimões (DSEI ARS) está localizado na região da tríplice fronteira entre Brasil-Colômbia-Peru, atende uma população de 72.311 indígenas aldeados (fonte: SIASI/2022), pertencentes a 07 Etnias (Ticuna, Kocama, Kambeba, Kanamari, Kaixana, Whitota e MakuYuhupi) distribuídas em 241 aldeias situadas em 07 municípios sob jurisdição do DSEI ARS (Tabatinga, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins e Japurá) assistidas por 13 Pólos Base que realizam a assistência e ações de prevenção com 26 Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). Em junho/2019 o DSEI realizou uma oficina de cartografia social, contamos com a participação de 06 rezadores, onde conversamos muito e adaptamos com ajuda deles um instrumento para conhecer melhor os pajés e rezadores. E este formulário foi enviado para cada polo base, onde a (EMSI) equipe multidisciplinar de saúde indígena se reuniu com as lideranças, pajés e rezadores para aproximação, uma vez que é costume tradicional quando o indígena se encontra doente procurar primeiramente os pajés e rezadores, e também para oferecer apoio e conhece –los melhor. Ao todo foram preenchidos 97 cadastros, sendo: Polo Base de Betânia- 10, Campo Alegre-09, Feijoal-02, Filadelfia-10, Nova Itália-17, São Paulo de Olivenca-15, Tonantins-01, Umariaçu I- 11, UmariaçuII-11 e Vendaval-02. Ao analisar os cadastros verificamos que 65% referem que não são convidados pelo polo base para participarem das reuniões das EMSI e referem que não tem parcerias com a EMSI.

Objetivos: O objetivo das Oficinas foi promover o diálogo entre as EMSI e os curandeiros tradicionais, pois havia o entendimento que os saberes biomédicos e tradicionais não são opostos ou contraditórios quando se trata da saúde indígena. As Oficinas aconteceram em um e dois dias e convidou tanto profissionais de saúde como todas as pessoas que se auto reconhecem como curador, rezador e pajé. A realização de oficinas é de fundamental importância, pois são momentos de aproximação das equipes multidisciplinares de saúde indígena para ouvirem as colocações dos pajés/rezadores, assim como as dificuldades e necessidade de apoios. Sendo uma importante estratégia para a redução da mortalidade materna, infantil e fetal. Métodos: entre 04 e 14 de novembro de 2021 foram realizadas Oficinas de Trocas de Saberes entre pajés, rezadores, curandeiros tradicionais e Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI). As oficinas foram realizadas em todos os 12 Polos Base do DSEI.

A primeira oficina, ocorrida no Polo Base de Belém do Solimões, no município de Tabatinga, serviu de piloto para a realização das oficinas nos demais Polos. As Oficinas tiveram o apoio do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa/Fiocruz Amazônia). A Universidade Estadual do Amazonas (UEA), através do coordenador do núcleo de cartografia social da Amazônia e estudos socioambientais da Amazônia também participou da primeira oficina.

A estratégia utilizada nas oficinas foi de diálogo, apresentação da origem das doenças através de cartazes, dramatização e, ao final, uma carta de demandas dos participantes.

RESULTADOS: A participação foi bem expressiva nas oficinas, tendo o total de 493 pessoas participando nas 12 Oficinas, como segue: Belém do Solimões – 26 pajés, 3 parteiras, 10 profissionais de saúde e 3 lideranças, totalizando 42 pessoas; Feijoal -  12 pajés, 5 parteiras, 9 profissionais de saúde e 2 lideranças, totalizando 29 pessoas; Filadélfia - 15 pajés, 3 parteiras, 48 profissionais de saúde e 3 lideranças, totalizando 68 pessoas; Umariaçu 1 - 8 pajés, 4 parteiras, 43 profissionais de saúde e 4 lideranças, totalizando 59 pessoas; Umariaçu 2 - 5 pajés, 4 parteira, 30 profissionais de saúde e 5 lideranças, totalizando 41 pessoas; São Sebastião - 6 pajés, 1 parteira, 17 profissionais de saúde e 14 lideranças, totalizando 38 pessoas; Betânia - 9 pajés, 1 parteira, 44 profissionais de saúde e 5 lideranças, totalizando 59 pessoas; Nova Itália - 13 pajés, 1 parteira, 12 profissionais de saúde e 1 liderança, totalizando 27 pessoas; São Francisco - 10 pajés, 2 parteiras, 15  profissionais de saúde e 3 lideranças, totalizando 30 pessoas; São Paulo de Olivença - 11 pajés, 2 parteiras, 8 profissionais de saúde e 4 lideranças, totalizando 25 pessoas; Campo Alegre - 23 pajés, 1 parteira, 9 profissionais de saúde e 6 lideranças, totalizando 39 pessoas; Vendaval - 15 pajés, 11 parteiras, 7 profissionais de saúde e 3 lideranças, totalizando 36 pessoas. Ao total participaram 153 pajés, curandeiros e rezadores, 35 parteiras, 252 profissionais de saúde e 53 lideranças (caciques/conselheiros).

Foram abordados temas sobre origem das doenças na tradição indígena, os modos de cuidados tradicionais, os tratamentos tradicionais e suas curas espirituais, cuidados interculturais. Depois de cada apresentação, abria para o diálogo para pensar nas possibilidades de trocas entre a EMSI e os cuidadores tradicionais. Assim, foi possível trabalhar as concepções sobre doença, saúde e cuidados na tradição indígena. A carta de demanda dos pajés, rezadores, curandeiros e lideranças apresentou a necessidade de novos diálogos, espaços para a realização das práticas tradicionais, reconhecimentos das EMSI, valorização das plantas tradicionais.

Os pajés, rezadores e curandeiros trouxeram seus utensílios tradicionais que utilizavam para os cuidados, rezas e curas, como as plantas, raízes, cascas sagradas, restos de animais, vários tipos de mel, seivas, enzimas, tabacos entre outros utensílios tradicionais. Os pajés tiveram a oportunidade de explicar para os profissionais de saúde como realizam as suas curas e em que situações são chamados.  A EMSI pode acompanhar todo processo, e também pode compartilhar as situações críticas que já receberam no Polo, possibilitando a abertura para um diálogo inédito entre EMSI e a medicina tradicional. Foram diálogos fantásticos, com riquezas de detalhes surpreendentes para todos. Ao final, os participantes entenderam que o caminho do diálogo era a melhor forma de realizar o cuidado da população indígena. Assim, um dos encaminhamentos é que aconteça as rodas de conversas mensais com os pajés, rezadores e curandeiros.  Considerações finais: Para a população indígena é muito forte a presença dos pajés/rezadores, e em casos de adoecimento de qualquer membro da família, eles buscam em primeiro lugar os pajés/rezadores e a EMSI é procurada posteriormente, o que muitas das vezes devido o tempo decorrido a doença pode vim a agravar e quando se trata de criança é primordial para ajudar a restabelecer aquele criança e vim salva lá de um estado crítico e até de um óbito infantil. Portanto realizar oficinas de trocas de saberes com os pajés, rezadores, curandeiros e EMSI é uma das principais estratégias de busca da redução da mortalidade infantil valorizando a cultura tradicional da população indígena do DSEI ARS