Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Radicalidade no Conviver Uma defesa antimanicomial da vida
Bruna de Oliveira Bizarro, Thiago Benedito Livramento Melicio

Última alteração: 2022-02-02

Resumo


A pesquisa destinou-se a abordar as potencialidades da convivência como instrumento central na promoção de saúde, em especial na Rede de Atenção Psicossocial, compreendendo a relevância das tecnologias leves para construção de um cuidado ético e emancipador. Nesse sentido, elege-se os Centros de Convivência (CECOs) vinculados à rede pública do município do Rio de Janeiro como campo de análise, partindo da experiência como estagiária e extensionista que tive em contato com o Fórum e ações dos CECOs do estado do Rio de Janeiro e seus usuários. O trabalho visa, assim, a realização de uma cartografia psicossocial que lance luz às práticas e narrativas agenciadas junto aos conviventes dos Centros de Convivência — usuários, profissionais, gestores e oficineiros. O estudo propõe-se a pesquisar como a convivência se incide nos processos de desinstitucionalização da loucura e de integração à cidade, apoiando-se em uma reflexão geral sobre a produção de cuidado em saúde que seja territorializado e intersetorial.

Como contextualização e problematização do campo de análise, temos que uma das bases para o estabelecimento do sistema asilar era o isolamento físico e social como tratamento, o qual constituiu-se como uma iatrogenia violenta que promoveu a dessensibilização e desumanização das pessoas institucionalizadas. Em 2001, através da promulgação da Reforma Psiquiátrica Brasileira (Lei 10.2016/01), propõe-se a construção de uma rede de dispositivos substitutivos, tendo sua organização regulamentada em 2011 pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que traz em seu âmago a busca pela produção da autonomia e cidadania angariadas no território.

Ainda assim, o que boa parte da realidade da atenção psicossocial nos apresenta é a prevalência de serviços especializados e o congelamento de fluxos internos, trazendo à tona características manicomiais no sentido de negligenciar, por vezes, a integralidade da promoção da saúde e o exercício da cidadania. Um dos dispositivos que integra a RAPS e sofre com esse contexto são os Centros de Convivência (CECO).

Nessa perspectiva, a pesquisa investigou a relação da centralidade da convivência nos processos de desinstitucionalização da loucura e de integração à cidade, colocando em análise as ações e as inserções destes dispositivos na Atenção Básica e na Rede de Atenção Psicossocial. Procura-se demonstrar dialeticamente que: para que haja de fato a mudança de paradigma almejada para a saúde mental, deve-se fortalecer a compreensão de que nenhum saber isolado poderá realizar uma abordagem integral, devendo assim caminharmos em direção à intersetorialidade a fim de assegurar uma promoção de saúde efetiva e de qualidade. A qualidade aqui sendo lida, portanto, como uma atenção aos processos que se constroem cotidiana e dialogicamente entre todos.

Além de desenvolver sobre como a construção das políticas públicas de saúde mental vinculam-se a uma demanda antimanicomial; a forma com que a convivência, alinhavada com a arte e a cultura, pode vir a se configurar como dispositivo de promoção de saúde; e como os centros de convivência têm a potência de construir redes de afeto, levando a uma  sensibilização do cuidado, tanto para os usuários, quanto para os próprios profissionais.