Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Curso de Atualização: Abordagem na Atenção Primária com olhar às Populações Indígenas Residentes em Área Urbana.
Mayra Costa Rosa Farias de Lima, Luiz Carlos Ferreira Penha, Noeli das Neves Toledo, Rodrigo Tobias de Sousa Lima

Última alteração: 2022-01-28

Resumo


Introdução

A organização social de populações indígenas em contexto urbano é um fenômeno relativamente recente e ainda pouco estudado. O projeto Manaós tem como objetivo avaliar as condições de saúde da população indígena em contexto urbano, residente na Comunidade Parque das Tribos, e sua capacidade de acesso à rede de serviços de saúde em Manaus. Para realizar tal avaliação é necessário que seja realizado um mapeamento, com uma coleta de dados com os moradores da comunidade. Para fazer essa coleta foi feito um processo seletivo para seleção de jovens mobilizadores indígenas residentes no Parque das Tribos. Foram selecionados 14 indígenas (5 Ticuna, 3 Baré, 2 Kanamari, 1 Mura, 1 Baniwa, 1 Sateré-Mawé e 1 Carapanã). Antes de dar início a coleta de dados, foi realizado o curso de Atualização: Abordagem na Atenção Primária com olhar às Populações Indígenas Residentes em Área Urbana.

Objetivo Geral

Relatar a experiência vivenciada durante o curso de qualificação sobre técnicas de abordagem na atenção primária em saúde, com ênfase nas populações indígenas residentes em área urbana.

Desenvolvimento

O curso foi ofertado na modalidade presencial, no auditório da Escola de Enfermagem da UFAM, teve carga horária total de 25 horas, sendo adotada todas a normas de segurança preconizadas para evitar a transmissão da Covid-19. O curso iniciou com atividades de acolhimento e apresentação individual dos participantes e facilitadores. Também foram apresentados Plano de ensino do curso e os objetivos do Projeto Manáos. Os conteúdos abordados foram: O Sistema Único de Saúde, com ênfase sobre o processo participação e atuação dos Agentes Comunitários de Saúde e de Endemias, bem como o contexto histórico da Política Sanitária do Osvaldo Cruz; Conceitos básicos sobre Povos Indígenas e a contextualização em área urbana, sendo dado destaque sobre o impacto da Pandemia pela Covid-19 entre os povos indígenas, especialmente os que vivem no Amazonas. Foi apresentado os trabalhos realizados pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a qual desenvolve diversas atividades na finalidade de enfrentar positivamente as condições de vulnerabilidade social e econômica, encontradas na maioria das famílias indígenas, sejam aquelas que vivem nas aldeias, como as que estão inseridas nos ambientes urbanizados do estado.  Neste ponto, os participantes do curso se manifestaram e compartilharam suas experiências de como a comunidade está agindo para se defender da Covid-19, sendo as ações de manutenção de isolamento social e acesso a vacina contra a Covid-19, um dos principais marcos para combater a elevada transmissão do vírus, principalmente nos períodos de maior crise, vivenciados durante o ano de 2021. Muitos informaram que foram voluntários na Unidade de Pronto Atendimento – UPA, montada no Parque das Tribos, realizando as seguintes atividades: apoiar na testagem de Covid-19, distribuir material educativo e de prevenção e também na condução e orientação dos indígenas que evoluíram com quadro severo da doença, atuando como interpretes junto a equipe de saúde. Na sequência, foram abordados os temas sobre estruturação da atenção primária e o papel dos agentes comunitários e agentes indígenas de saúde e suas analogias. Neste momento, foi apresentado o organograma do Sistema Único de Saúde, apontando a Secretaria Especial de Saúde Indígena como subsistema de atenção primária de saúde. Também foi apresentado o organograma de saúde do município, destacando os setores considerados primordiais Coordenação da Atenção Básica (Unidade Básica de Saúde, Farmácia, Centro de Referência e Centro de Atenção Psicossocial) e Vigilância em Saúde (Vigilâncias: Sanitária, Epidemiológica e Ambiental - Endemias). Foi abordado também a importância do Controle Social nos organogramas, passando pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena, Conselho Municipal Saúde e Conselho Nacional de Saúde. Os participantes relataram que os moradores do Parque das tribos estão se organizando e nesse momento tem dialogado com a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus para a construção de uma Unidade Básica de Saúde, localizada dentro do Parque das Tribos. A fim de contribuir para a aprendizagem significativa foi solicitado ao grupo uma atividade extra, a ser realizada em casa, sendo proposto que cada um construísse um Mapa de sua área residencial no Parque das Tribos e apresentasse aos demais colegas no próximo encontro. Esta teve por objetivo fortalecer a compreensão dos participantes sobre o território de atuação em que irão realizar as entrevistas com as/os chefes de famílias. Na apresentação do seu mapa o participante teve a oportunidade de apresentar a região, a partir da sua ótica, destacando os locais considerados como pontos de referência (igreja, caixa d’água, os nomes das ruas, o tucumanzal, campo de futebol, malocão, escola e os bairros vizinhos). Neste contexto, foi possível identificar e discutir sobre a importância da Cartografia Social, em que a visão de cada um sobre o seu território, contando suas histórias pessoais, modo de ocupação e viver, bem como as construções estruturais realizadas e práticas de convívio social, foram e são essenciais para fortalecer e aperfeiçoar a implementação de ações de saúde voltadas não só para prevenção das doenças, mas especialmente para a promoção de melhores condições de vida. Cabe destacar, que todos puderam apresentar seus mapas, sendo garantido espaço para perguntas e sugestões, tais como: o que é relevante colocar no mapa territorial, relevância dos mapas temáticos para alcançar objetivos específicos, para mapear, como por exemplo os benzedores e as parteiras residentes no Parque das Tribos. O tema Cartografia social se mostrou importante para dialogar com o grupo sobre a diversidade cultural, religião, composição social e espacial existente no Parque das Tribos. Uma outra atividade desenvolvida no curso, foi a apresentação do Manual de Coleta dos Dados e as técnicas digitais para aplicação de campo, atividades diretamente ligadas ao Projeto Manaós, um dos principais aspectos que motivou a realização do curso. Parte mais direcionada as ferramentas de trabalho que os alunos terão durante a coleta de dados. Nesse momento foi explicado através de aula expositiva sobre como deve ser feito a coleta de dados, mostramos também o instrumento de coleta de dados, para que tivessem um primeiro contato antes da atividade de campo. Foi feito uma simulação de coleta de dados em sala de aula, ao final os participantes fizeram alguns questionamentos sobre as perguntas do instrumento de coleta de dados.

Por fim, foram realizadas duas saídas a campo com intuito de iniciar a parte prática da pesquisa e verificar as principais dificuldades que possam ser encontradas pelos alunos durante a entrevista, tais como: barreira linguística, tendo em vista a grande quantidade de etnias diferentes residindo no Parque das Tribos; resistência da família em ser entrevistada por uma pessoa de outra etnia; timidez de alguns para se apresentar e abordar a família; casas vazias durante a semana; a recusa de indivíduos para entrevista.

A atividade pratica com os indigenas realizada rendeu algumas adaptações ao instrumento de coleta de dados, sugeridos pelos mesmos.

Considerações Finais

Embora o curso de atualização tenha sido ofertado com o proposito maior de melhor preparar o envolvidos para a prática de coleta de dados de uma pesquisa científica (coleta de dados do projeto Manaós) foi também relevante para ampliar os horizontes dos participantes quanto o seu papel social e político dentro de sua comunidade. Aperfeiçoando - os para atuarem e contribuírem com ações que possam fortalecer positivamente as redes de atenção e cuidado entre os diferentes grupos étnicos, especialmente aqueles que vivem em contexto urbanos.