Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MULHERES E SEUS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE NA COMUNIDADE
Juliana Pereira de Araújo, Rita de Cássia Fraga Machado

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


Apresentação: As mulheres agricultoras sempre utilizaram técnicas e modos de produção próprios e históricos para a manutenção da vida na comunidade, a partir conhecimentos desenvolvidos e aprimorados com o passar dos anos, utilizando os recursos locais. O presente trabalho apresenta o seguinte problema de pesquisa: como as mulheres das comunidades mantêm seus conhecimentos tradicionais na agroecologia para a preservação da vida em comunidade? Assim, o conhecimento tradicional envolvido nesta investigação apresenta o potencial de aliar-se à temática do cultivo de vegetais, evidenciando as práticas que as mulheres, com toda sua bagagem de conhecimento tradicional, desenvolvem em benefício da comunidade. O objetivo geral é compreender como as mulheres das comunidades mantêm seus conhecimentos tradicionais na agroecologia para a preservação da vida em comunidade. Desenvolvimento: A presente pesquisa está sendo realizada como um estudo caracterizado como “estado da arte”, ainda está em curso, em fases de qualificação pelos pares. Assim, com uma revisão crítica das formas e as condições dos estudos e publicações em periódicos que envolvem o conhecimento tradicional e as mulheres da comunidade. Este trabalho, portanto, se utiliza dessa abordagem para fundamentação de conceitos e aproximação de informações da literatura disponível a respeito do conhecimento tradicional de mulheres para o benefício da comunidade. Resultados: Conforme os achados, saúde e alimentação são temas que aparecem como elementos importantes nos movimentos de mulheres para a construção de um novo modelo de desenvolvimento sustentável no meio rural, baseado em formas familiares de produção. Pode-se perceber, portanto, que existe a preocupação em desenvolver uma relação sustentável no meio onde vivem, com o objetivo de melhorar as condições de sobrevivência das famílias da comunidade. Historicamente, as mulheres trabalhadoras rurais vêm tomando frente na execução de ações em saúde, alimentação e sobrevivência de suas comunidades, em contato com a natureza e utilizando os conhecimentos populares sobre plantas medicinais e práticas tradicionais. Desde cedo, em suas vidas, essas mulheres desenvolvem trabalhos no campo, funções associadas com suas tarefas domésticas, mesmo em meio ao preconceito de uma sociedade patriarcal, em que as mulheres não possuíam muitas liberdades. Em busca de afirmação de suas identidades, portanto, as mulheres empreenderam lutas, no campo e nas cidades, de modo a ocuparem em liberdades os espaços a que têm direitos, sendo protagonistas no processo decisório, inclusive no campo político, e de modo a se protegerem de violências sofridas. O conhecimento e a sabedoria femininos são antigos na história humana, com exemplo em várias civilizações sobre curandeiras, parteiras e outras mulheres dedicadas ao cuidado com o outro. Contudo, muitas vezes essas mulheres são submetidas a trabalhos precários na civilização ocidental contemporânea, havendo grande resistência para que tenham protagonismo na produção rural e na tomada de decisões. Há, deste modo, a necessidade de um movimento de integração, baseada na perspectiva feminista, que foque na soberania alimentar, reconhecendo e valorizando o papel da mulher na alimentação e na agricultura. Conforme as mulheres tenham seu lugar de fala reconhecido e possam ser protagonistas de suas próprias histórias, elas se reconhecerão. Há muitos registros históricos quanto ao conhecimento das mulheres sobre a natureza, de forma tradicional, transmitidos oralmente, de maneira informal e coletiva, ao longo das gerações. Na lógica do conhecimento tradicional, as ações de exploração estão pautadas no equilíbrio natural, que deve ser respeitado e perpetuado dentro da comunidade que possui racionalidade, valores e princípios próprios, portanto deve participar de ações políticas que envolvem os grupos sociais daquele entorno. Tais práticas estão associadas ao conceito de socioambientalismo, que une as pautas ambientais às sociais/econômicas, de forma articulada, considerando os modos de exploração dos recursos naturais que contribuam para o desenvolvimento social e econômico dos povos da comunidade envolvida. Em meio a esses vários desenvolvimentos de técnicas e concepções sobre a agricultura, há a agricultura natural, ou ainda a agroecologia. Tratam-se de sistemas de exploração que utilizam tecnologias alternativas no meio agrícola. O objetivo, deste modo, é obter o maior proveito possível dos recursos naturais, porém preservando o meio ambiente. A agricultura tradicional começou a ser questionada e contestada no Brasil especialmente a partir da década de 1980, em resposta a crises econômicas e sociais observadas não só no país, mas em contexto global. Além disso, a crise ambiental acrescentou motivações para a busca pela superação do modelo tradicional, substituindo por uma agricultura sustentável, o que trouxe foco para a agroecologia. Os movimentos agroecológicos, assim, ganham força, e grande parte deles é liderado por mulheres. O protagonismo da mulher na agricultura é algo difícil de se atingir, uma vez que as relações nesse meio costumam ser rigidamente hierarquizadas, e as mulheres vistas apenas como ajudantes dos homens nas tarefas. Além disso, os quintais agroflorestais não costumam ser reconhecidos como espaços de produção. Outro ponto de atenção é a tripla jornada em que as mulheres trabalham, com tarefas domésticas, produção e venda de frutas, verduras e legumes. Ainda que os quintais agroflorestais sejam importantes para a produção de bens e serviços, e que as mulheres sejam fundamentais para a sua manutenção, é essencial que essa realidade de vida seja plenamente reconhecida, o que tornará possível a emancipação da mulher e a busca de igualdade e de participação política, promovendo uma sociedade melhor e mais inclusiva. O poder deve também ser enxergado pela ótica feminina. As mulheres, assumindo o protagonismo no exercício de seus papéis, poderão exercer suas escolhas dentro de sociedades justas e igualitárias, sem distinções de qualquer tipo, inclusive de gênero. Nesse contexto, ganha força o saber comunitário, que é direcionado a buscar o bem-estar geral, com ações coletivas visando à preservação do meio em que todos se inserem. Assim, esse saber comunitário tende a ser norteado pela valorização dos conhecimentos tradicionais, mesmo em um contexto contemporâneo. A agroecologia envolve a retomada desses conhecimentos, com posição de destaque da mulher nesses processos. A participação das mulheres atuantes na produção agroecológica é fundamental no processo de redesenho dos mercados, com foco na busca pela segurança alimentar familiar e na venda especialmente dos excedentes dos quintais domésticos. Deste modo, são construídas relações e é resgatada a autonomia dessas mulheres, bem como o seu protagonismo na comunidade. Considerações finais: Conclui-se, deste modo, que os grupos locais e dentro destes, as mulheres, são o eixo para a manutenção da autonomia alimentar e de saúde no cenário em que estão inseridas e de forma sustentável. As mulheres tradicionais, como seres atuantes e plenas de conhecimento, são importantes transmissores de perpetuação de conhecimento tradicional para continuidade de recursos naturais e consequentemente para a sobrevivência, desenvolvimento e qualidade de vida em suas comunidades.

 

Palavras-chave: Agroecologia. Conhecimentos tradicionais. Mulheres. Comunidade. Saúde.