Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Acolhimento ou Triagem? A formação de um espaço de escuta multiprofissional em saúde
Juliana Carvalho Guedes, Jaqueline Severo Da Cas, Maira Larissa Ramos da Rosa

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de trabalhadoras, residentes em saúde da família de um município do interior do estado do Rio Grande do Sul, no atendimento à demanda espontânea, através de um espaço de escuta humanizado e que busca ser resolutivo. O período a qual refere-se é o de janeiro a dezembro de 2021 e envolve a participação de três núcleos profissionais: Enfermagem, Psicologia e Serviço Social. A partir deste relato, busca-se compartilhar vivências que retomam a importância da interdisciplinaridade, da humanização do cuidado e da escuta qualificada e acolhedora. Além de fortalecer a superação da lógica da triagem, em que se utiliza o termo “acolhimento” de forma errônea, enquanto um processo anterior ao atendimento médico, meramente encaminhador. Para tanto, compreende-se que o conceito de acolhimento, enquanto ato ou efeito de acolher, expressa uma prática de cuidado pertencente às relações humanas, dos encontros reais, podendo acontecer de inúmeras formas. Na área da saúde, é utilizado como uma tecnologia leve que organiza os processos de trabalho, que visa ampliar o acesso à saúde e que pode ser também uma estratégia de cuidado voltado à integralidade. O processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família (ESF), a qual este relato refere-se, é caracterizado pelo acolhimento enquanto espaço de atendimento à demanda espontânea, tendo início em 2016 com a planificação da Atenção Primária à Saúde; e continuidade em 2017, junto com a inserção do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) na ESF. Os principais desafios encontrados para a manutenção deste espaço estão relacionados aos recursos materiais da unidade de saúde, considerando a falta de salas disponíveis para que se realize uma escuta atenta e que preserve o sigilo do/a usuário/a; a falta de recursos humanos que possibilite um atendimento efetivamente multiprofissional, visto que este atualmente depende da continuidade da RMS na unidade; e a cultura médico-centrada ainda predominante, que causa estranhamento por parte dos/as usuários/as, uma vez que estes/as muitas vezes esperam pelo atendimento médico mesmo tendo suas demandas atendidas por outros profissionais. Por fim, percebe-se a potencialidade do acolhimento enquanto ferramenta transformadora dos processos de trabalho na APS, reforçando princípios do SUS como a universalidade e integralidade da atenção à saúde e, principalmente, no atendimento à e ao usuário e suas demandas de forma menos burocratizada e mais humana. Mesmo o estranhamento por parte dos/as usuários/as é campo de trabalho para a mudança de lógicas já estabelecidas, sendo oportunidade para construção de novos caminhos e possibilidades.