Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Relato de um gestor: Educação permanente ao longo do tempo (2013 -2022)
Ana Paula Santos Morato Emidio, Maria Paula Cerqueira Gomes, Helvo Slomp Junior

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


A aproximação com a atenção básica iniciou-se na graduação em Enfermagem e seguiu-me durante minha trajetória acadêmica e profissional. Do contato com a atenção básica, surgiu a inquietação quanto à melhoria da atenção à saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde, utilizando a Educação Permanente do Agente Comunitário de Saúde como principal ferramenta.

Em 2013 ao assumir a gestão de uma unidade básica de saúde, a inquietação me fez abrir um espaço de diálogo com os profissionais, onde desses diálogos e observações surgiram problemas, conflitos e tensões, deixando clara a fragilidade no processo de educação permanente dos Agentes Comunitários de Saúde.  A maioria dos profissionais apresentava a mesma inquietação, quanto à carga de atividade, de demandas e de atualizações dos programas e a pouca formação dos agentes comunitários de saúde.

A inquietação me moveu a desenvolver ações de educação permanente com esses agentes comunitários de saúde, a partir das necessidades levantadas por eles.

Esse trabalho local ganhou espaço e foi compartilhado como experiência exitosa em 2015 no Ciclo de Debates da Subsecretaria de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde (SUBPAV), foi apresentado na 1º Mostra de trabalhos desenvolvidos por Agente Comunitário de Saúde na Saúde da Família (2015), em 2016 tive a oportunidade de compartilhar essa experiência no 12º Congresso Internacional da Rede Unida e na 21º Conferência Mundial WONCA , além de apresentá-los nas unidades de atenção primária da área programática 32.

Enquanto gestora, entendendo toda a potência da educação permanente, em 2017 carregando a bagagem já descrita, ao inaugurar uma unidade básica de saúde, o trabalho novamente me conduz a educação permanente como ferramenta transformadora, disparando várias ações no território, estreitando laços com equipamentos fundamentais como o Consultório na Rua, a Bike da Prevenção, os Caps em especial o Raul Seixas.

O ano de 2018 foi marcado pelo desdobramento da educação permanente em uma unidade de saúde, traduzido em ações para uma população que estava invisível a esta equipe. Para dissabor da APS esse também foi um ano marcado por muitos desafios, legitimado por um documento que a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) presentando um estudo realizado para a reorganização dos serviços da APS no município, visando a “otimização de recursos”.

A SMS-RJ argumentou que a expansão da rede de APS foi feita de forma desordenada entre os anos 2009 e 2016, gerando a necessidade de redistribuição das equipes, de modo a alcançar a adequação financeira ao orçamento disponível. O movimento seguinte foi chamado de “reorganização” da APS no Rio de Janeiro que se desdobrou em demissão de profissionais e redução de equipes, a isso se somava atrasos nos salários, paralisações, greves, condições precárias de trabalho o que afetou tudo aquilo que foi construído ao longos dos anos, e com a educação permanente não foi diferente.

Com o advento da pandemia toda a força de trabalho da APS foi direcionada ao enfrentamento do COVID-19, exigindo a modificação da lógica de ensino aprendizagem, pela necessidade de capacitação das equipes para o atendimento  de milhares de pessoas que acionaram o serviço de saúde com diversas complicações de uma doença, inicialmente desconhecida.

Essa realidade vem desafiando os gestores a manterem o espaço de educação permanente em saúde (EPS) com os agentes comunitários de saúde (ACS) sendo eles profissionais estratégicos para a efetivação das ações da Atenção Primária à Saúde (APS) no que se refere à promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde dos coletivos.

. A pandemia vem exigindo a compreensão e problematização das ações de EPS a partir do processo de trabalho atual, pela sua potência nas ações e estratégias que podem contribuir, não só no enfrentamento da pandemia, mas principalmente na retomada da APS.

Este trabalho, se justifica pela importância que os ACS têm e terão no enfrentamento da pandemia, no planejamento das ações e sua implementação e na interlocução com os territórios para a retomada das ações da APS.

Assim, este relato se originou da seguinte questão: Em quase 10 anos de atuação, enquanto gestor local, que elementos do processo de educação permanente para os ACS devem ser refletidos e elaborados, no cenário da pandemia da  COVID-19, a fim de garantir esse espaço de construção coletiva de saberes, como ferramenta para retomada/continuidade dos cuidados primários à saúde comunitária ?

Dessa forma, o objetivo deste relato é refletir sobre a educação permanente em saúde dos ACS´s diante da pandemia da COVID-19.

METODOLOGIA

Por se tratar de relato de experiência, foi realizada uma reflexão sobre a educação permanente em saúde dos ACS como elemento estratégico para o enfrentamento a pandemia do COVID 19 e principalmente para garantir a retomada das ações da APS. Para tais reflexões, foram utilizadas nossas experiências práticas enquanto gestor local na APS,  que promove processos formativos a partir das necessidades de aprendizagem de trabalhadores inseridos nos diversos cenários de atuação do SUS; das reflexões na pós graduação em gestão em saúde pública, bem como no Mestrado e atualmente no Doutorado, além é claro da leitura de artigos e outros materiais importantes que tratam sobre a temática e que estarão dispostos a seguir.

RESULTADOS

Apesar dos desafios que a pandemia trouxe, os ACS permaneciam com anseios que reafirmavam a importância da formação social, técnica e política através da EPS, com clareza que lhes seria conferido subsídios para desempenharem suas atividades no que tange a promoção, prevenção e educação popular, garantindo real impacto no território que atuam.

Presencial, em plataforma digital, utilizando ferramentas introduzidas na pandemia, como encontros on-line, manter os espaços formativos através da EPS, representa um dispositivo  de qualificação do trabalho que precisou se reinventar para existir.

Foi necessário se reinventar, e assim, através de formulários online identificamos as necessidades de aprendizagem desses trabalhadores. O passo seguinte foi reformular a maneira como a EPS se daria, e assim lançando mão de metodologias ainda não utilizadas a EPS foi retomada, garantindo o processo de ensino e aprendizagem promovendo a criticidade e a autonomia dos aprendizes e com o estímulo à reflexão da atuação dos ACS´s, tendo a pandemia como pano de fundo, e assim, alcançamos o objetivo da EPS, que é a transformação das práticas profissionais.

Os gestores, considerando esse processo de transformação, devem se readaptar frente ao cenário pandêmico.Estimulando o uso de plataformas digitais e outras ferramentas, favorecendo a EPS dos ACSs, mas não somente deles, enquanto estratégia inclusiva, prática, real, respeitando o contexto que os trabalhadores estão inseridos.

Pensar a EPS, apesar do cenário pandêmico faz todo sentido quando se vislumbra a retomada da APS, com importante atuação do ACS  na continuidade do cuidado do território e das coletividades.

Portanto, para que se continue garantindo a ampliação do acesso à saúde, é fundamental instrumentalizá-los através da EPS, promovendo ressignificação do seu papel, permitindo que reinventem o cuidado que prestam, no contexto adverso da pandemia.