Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Invenções que driblam a colonialidade de nosso tempo: trapaças salutares enquanto exercício ético
Amanda Cappellari, Lilian Rodrigues da Cruz

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Este trabalho interroga gestos de trapaças vitais, salutares. Se ocupa de disputar outros sentidos para a trapaça, na medida que atenta para aquelas que são feitas enquanto gesto de desobediência para garantir a existência, o acesso aos direitos e, quiçá, a alegria. Tem como objetivo apresentar discussões iniciais de uma pesquisa de doutorado que aposta que há algo mais a ser percebido em gestos disruptivos, portanto, que investiga o que trapaças salutares visibilizam das estruturas mortíferas de nosso tempo. Trapaças que podem existir no instante em que o poder esmaga a vida e é preciso desobedecer para sobreviver, como uma ética de jogar o poder contra o poder. A trapaça desta pesquisa é o avesso do que está no dicionário; exceto no que toca a ser substantivo feminino, isso a trapaça é. Trapacear um sistema que produz incessantemente a morte não tratar-se-ia de uma trapaça salutar? Interrogam-se as posições de privilégios raciais, de classe, gênero e outros para analisar o acesso aos direitos básicos. Assim, quando não garantidos pelo Estado, alguns sujeitos inventam modos outros e driblam o sistema de burocracias e protocolos para serem atendidos em suas necessidades: troca o endereço de casa para conseguir um emprego ou para ser atendida por determinado serviço de saúde, inicia uma graduação na universidade federal em que a intenção primeira é residir em repúblicas, ter acesso a alimentação no restaurante universitário e transporte mais acessível, utiliza do passe livre para idosos durante longas viagens à noite, como possibilidade de dormir no ônibus e não na rua, inventa um pseudônimo durante a ditadura militar para enganar a censura... Ao analisar esses gestos, percebe-se que podem evidenciar colonialidades contemporâneas que atualizam as estruturas de poder de determinam quais sujeitos devem viver mais e melhor, e quais devem permanecer em posições de subalternidade.