Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-04
Resumo
O estatuto da Saúde Coletiva como campo de orientação política peculiar, com a complexibilidade de um Sistema Universal (Único) que prevê o entrelaçamento tanto da historicidade, quanto a formação social pelo qual ele é além de construído, constituído da genealogia popular, não pode se manter invisibilizando as vozes afro/ pindorâmicas.
Nesse sentido, convidamos as memórias vivenciais, que acionam um texto entrelaçado às nossas vozes, pois são essas mulheres que tiveram uma contribuição “par”( porque estavam sempre na coletividade), e que articuladas com importantes categorias por elas cunhadas, como amefricanidade, transmigração e quilombismo, são chaves para a compreensão do campo da Saúde Coletiva.
Com esboço biográficos distintos, a trajetória intelectual guardadas suas singularidades, estão sempre entrelaçadas corporalmente aos seus textos, fundindo o território/corpo em deslocamento, sem, portanto, deixar de gerar um debate aprofundado sobre as marcas produzidas pela exclusão normativa promovidas pelo mito da neutralidade científica. A obra rica de Beatriz, que teve a vida interrompida pelo feminicídio enquanto cursava o mestrado em Comunicação Social estudando sobre o quilombismo à sua própria luz, uma historiadora negra plural e dinâmica implicada com a historicidade de sua história. É no afeto doce que suas “acontecências” se desenham entre ensaios e poéticas, captados por estudiosos e ou capturados para tela, como o documentário ORÍ dirigido pela socióloga e cineasta Raquel Gerber.
Já Lélia vai tratar do inconsciente formatado de todo continente latino americano, produzindo também seus efeitos por aqui a partir do mito da democracia racial à brasileira. Ela vai denunciar que, através de uma articulação ideológica, as sociedades latinas foram constituídas por um racismo por denegação, o que vai gerar formas sofisticadas de apagamento identitário. Sua orientação vai além da reconstrução histórica que ela diz ter sido forjada no interior de diferentes sociedades que se formaram numa determinada parte do mundo, à determinação Hegeliana dissociando a Razão como sendo branca, e a Emoção, como sendo negra. Nesse sentido, ela propõe a Amefricanidade, como metodologia política-cultural capaz de transpor as barreiras territoriais, linguísticas e ideológicas.
O conteúdo foi produzido a partir da disciplina eletiva " Amefricanidade e Saúde" ofertada no segundo semestre de 2021, no IMSHC/UERJ. Parte de uma série de outras "in-disciplinas" comprometidas com a circulação de conteúdos contra-hegemônicos , anti-sexistas e anti-racistas, e teve a transdisciplinaridade como articulação intelectual possível ao campo da Saúde Coletiva.