Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Comunicação e Saúde: estratégias de prevenção à COVID-19 entre populações indígenas em contexto urbano
Grace Soares Costa, Rodrigo Tobias de Sousa Lima, Mayra Costa Rosa Farias de Lima, Renata Karoline, Gabriel José Alves de Lima

Última alteração: 2022-02-01

Resumo


TEMA: Comunicação e Saúde: estratégias de prevenção à COVID-19 entre populações indígenas em contexto urbano

APRESENTAÇÃO:

O mundo atravessa uma crise sanitária, social e econômica nunca antes vista devido à pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Em resposta a esse desafio global, medidas de saúde pública foram implementadas com potencial de gerar impacto e proteger a transmissão em determinados grupos sociais e territórios, vitimados por desigualdades já existentes. Diante disso, o Projeto Manaós: Saúde da População Indígena no Contexto Urbano, uma iniciativa coordenada pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia) desenvolveu, no período de 15 de setembro a 20 de novembro de 2021, o website “Medidas de Saúde Pública contra a COVID-19”, um espaço voltado para o diálogo aberto e direito com populações vulneráveis sobre medidas de prevenção e combate ao novo coronavírus (https://www.projetomanaos.com.br/medidas-saude-publica-covid19/ ).

DESENVOLVIMENTO

Nos países da região Pan-Americana foram aplicadas medidas de saúde pública não farmacológicas, como o isolamento em casa, o fechamento de escolas e empresas, entre outras, em resposta à pandemia. No entanto, a implementação bem sucedida e sustentada dessas orientações está diretamente relacionada com as condições sociais, econômicas e culturais dos diferentes grupos populacionais e territórios.

A pandemia demonstrou que a vulnerabilidade está associada tanto a características individuais e biológicas, quanto ao contexto social, econômico e político dos grupos. Portanto, a eficácia das medidas depende da superação de diversos obstáculos e da capacidade de diminuir efeitos indesejados no processo de aplicação da maioria delas.

Com o objetivo de apoiar a aplicação e o cumprimento das medidas de saúde pública não farmacológicas entre grupos em situação de vulnerabilidade, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) desenvolveu em 2020 uma Guia intitulada “Orientações para a aplicação de medidas de saúde pública não farmacológicas a grupos populacionais em situação de vulnerabilidade no contexto da COVID-19”. Após o lançamento, o desafio concentrava-se na divulgação do material entre diferentes grupos e contextos sociais e, assim, promover e fortalecer a implementação das medidas nas diversas regiões.

Em Manaus há registro de populações indígenas de etnias diferentes vivendo em uma comunidade de grande porte denominada Parque das Tribos, localizada na zona oeste da capital do Amazonas e que corresponde área urbana de Manaus. A comunidade concentra uma população extremamente diversificada de, aproximadamente, três mil pessoas, entre indígenas e não indígenas, sendo os Tucano, os Saterê-Mawé, os Tariana e os Ticuna as etnias mais numerosas. Diante da pandemia da COVID-19, desde março de 2020, essa população ficou mais exposta, demonstrando a fragilidade do cuidado em saúde, assim como ficaram evidentes as barreiras de acesso aos serviços de saúde.

Nesse sentido, o Projeto Manaós: Saúde da População Indígena no Contexto Urbano, uma iniciativa coordenada pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), desenvolveu uma ação de comunicação destinada a promover maior esclarecimento dos moradores (indígenas e não indígenas) da comunidade do Parque das Tribos sobre as medidas de combate e prevenção à COVID-19.

O produto proposto foi um website, totalmente elaborado com base no conteúdo da Guia da OPS, cujo acesso à página é realizado pelo site oficial do projeto Manaós (WWW.projetomanaos.com.br). A escolha por uma página da web se deveu ao fato de ser uma plataforma que agrega diversos formatos de conteúdos, possui múltiplas possibilidades de interface; facilidade no processo de tradução da página para diversas línguas; espaço ilimitado para comportar permanentemente informações. Incluem-se também como fatores determinantes para a seleção deste meio de comunicação a presença de internet na comunidade e a disponibilidade de celulares pela maioria das pessoas.

Por meio da produção de textos, vídeos, ilustrações e figuras consolidou-se um conjunto de informações que tratam (em linguagem acessível) de: quarentena; isolamento; fechamento de locais e negócios não essenciais; transporte público; fechamento de escolas; asilos, presídios e outros centros de longa permanência; lavagem das mãos; eventos em massa (aglomerações); condições de moradia; e trabalhadores essenciais. Ao todo, 10 medidas de saúde pública não farmacológicas foram detalhadas, levando em consideração os grupos aos quais devem ser direcionadas e também os potenciais obstáculos que os gestores de saúde podem enfrentar no processo de aplicação.

O website forneceu reflexões sobre temas pertinentes ao contexto social-político indígena, como direitos humanos, participação social, pertinência cultural aplicada a instrumentos de comunicação de riscos, entre outros. O próprio conceito de vulnerabilidade e os fatores ligados a essa condição também figuram entre as seções de destaque da página.

O produto teve como público-alvo os moradores da comunidade do Parque das Tribos (indígenas e não indígenas), mas também se apresenta como fonte de informação estratégica para gestores públicos ligados à área da saúde, habitação, cidadania, direitos humanos, assistência social, entre outras.

Algumas seções específicas voltadas para órgãos de Governos foram: políticas públicas; monitoramento e avaliação. Este último exige atenção particular, pois para avaliar a eficácia das ações é necessária a realização do monitoramento e a avaliação da aplicação das medidas de saúde pública.

Como estratégia para despertar o interesse dos moradores sobre assuntos considerados complexos e pouco interessantes foram produzidos três vídeos com formato, estética e roteiro definidos de acordo com os hábitos e costumes das pessoas residentes na comunidade. O formato escolhido foi a animação, com a presença de personagens, elementos do cotidiano comuns ao contexto do Parque das Tribos. A seleção dos roteiros baseou-se na relação que os assuntos possuíam com o conteúdo das medidas de saúde públicas não farmacológicas, pois o objetivo das animações era introduzir o tema, facilitando a compreensão das demais seções do website.

As temáticas escolhidas foram: o que é a COVID-19?; Não compartilhe seu copo, parente!; Tenho que trabalhar, e agora, como me protejo?. Todos possuem a mesma linguagem visual e curta duração.

RESULTADOS

O desenvolvimento do projeto produziu os seguintes resultados:

  1. Maior conhecimento sobre a qualidade de vida e saúde dos moradores (indígenas e não indígenas) do Parque das Tribos;
  2. Maior conhecimento sobre hábitos de acesso e busca por informações relacionadas à saúde e à COVID-19 dos moradores (indígenas e não indígenas) do Parque das Tribos;
  3. Promoção de cidadania, transformação social por meio do acesso e apropriação de informações e conhecimentos sobre as medidas de prevenção contra a COVID-19;
  4. Oportunidade de mudança de comportamento em relação a práticas sociais que colocam em risco as famílias, como a cultura de aglomerar, não uso da máscara e de álcool em gel, gerando impacto na diminuição de óbitos por COVID-19 entre esses grupos.

CONSIDERAÇÕES

O produto do website proporcionou a autonomia de grupos vulneráveis na medida em que promoveu a possibilidade de reflexão das pessoas sobre questões ligadas à pandemia, gerando, consequentemente, uma convivência mais segura destas com o vírus. Comunidades vivendo situações semelhantes a dos moradores do Parque das Tribos também puderam se beneficiar com o projeto, uma vez que a informação comprometida com a verdade e baseada em evidências científicas produziu novas formas de diálogo com as diversas etnias indígenas que vivem naquela área.

Finalmente, a iniciativa cumpre o compromisso de combater as informações infundadas, também denominadas Fake News e, por outro lado, orientar lideranças comunitárias, entidades e gestores públicos na tomada de decisão sobre a situação das populações vulneráveis no contexto da pandemia, servindo também de suporte para a criação de políticas públicas que, efetivamente, tenham poder de transformação social.