Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL ENTRE ACADÊMICOS DO CURSO DE FONOAUDIOLOGIA
Rakel Gerke Rodrigues Cypreste, MARGARETH ATTIANEZI, GABRIEL TREVIZANI DEPOLLI, VÍTOR SÉRGIO BORGES

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


Entre 2019 e 2020, acadêmicos da área da saúde, preceptores e tutores docentes trabalharam juntos em ações que buscavam a integração ensino-serviço-comunidade nas unidades de saúde através do Programa de Educação pelo Trabalho - Saúde Interprofissionalidade (PET- Saúde EIP). Destaca-se que, além do curso de Fonoaudiologia, acadêmicos dos Cursos de Enfermagem e Obstetrícia, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Terapia Ocupacional participaram do PET-EIP. Os grupos atuaram em cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) da capital do estado, formando cinco equipes interprofissionais, cada uma sob a tutoria de dois docentes e preceptoria de três profissionais da rede de atenção básica (ATTIANEZI et al, 2020).

A partir da rica experiência adquirida no PET-Saúde EIP, surgiu o desejo de avaliar as atitudes relacionadas à Educação Interprofissional entre os acadêmicos de Fonoaudiologia da instituição, sendo o presente resumo parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma bolsista PET.

A Educação Interprofissional (EIP) ocorre quando dois ou mais profissionais aprendem juntos, de modo interativo, para melhorar a colaboração e qualidade da atenção à saúde. A prática interprofissional é atingida a partir do desenvolvimento de competências colaborativas que são aquelas capazes de aprimorar as relações interprofissionais. De acordo com The Canadian Interprofessional Health Collaborative (CIHC - 2010), as competências colaborativas são divididas em seis domínios: (1) Comunicação Interprofissional; (2) Cuidado Centrado na Pessoa, (3) Família e Comunidade; (4) Clareza de Papéis Profissionais; (5) Trabalho em Equipe; (6) Resolução de Conflitos; e (7) Liderança Colaborativa. A fim de atingir tais competências, o Apoio Matricial foi a metodologia utilizada no PET- Saúde EIP de nossa universidade, por empregar o reconhecimento das singularidades dos processos saúde-doença de cada território, a junção de equipes para a troca de saberes e práticas e a perspectiva de Clínica Ampliada.

Estudos indicam que o Sistema Único de Saúde (SUS) favorece a inserção da educação e prática interprofissional, uma vez que nele estão presentes os princípios da universalidade do acesso, integralidade, participação social e o trabalho baseado em equipe, sendo tais em consonância com as bases teóricas e metodológicas da EIP

No que tange a presente pesquisa, “COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL ENTRE ACADÊMICOS DO CURSO DE FONOAUDIOLOGIA”, tivemos o objetivo de avaliar as atitudes relacionadas à colaboração interprofissional entre os acadêmicos do curso de Fonoaudiologia de uma universidade pública federal e, desta forma,  colaborar com o processo de mudança do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Graduação em Fonoaudiologia.

Tratou-se de um estudo observacional, transversal, quantitativo e analítico, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sob parecer número 4.844.555. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se a Escala Jeferson de Atitudes Relacionadas à Colaboração Interprofissional (EJAECI).  Esta escala possui vinte itens, que devem ser respondidos utilizando uma proporcionalidade de concordância/discordância em Escala Likert, dispostos em sete níveis. Ela foi desenvolvida por Hojat et al (2014) testado e validado entre estudantes americanos e australianos de diferentes profissões da saúde (HOJAT et al, 2015). No Brasil, a Escala Jefferson foi traduzida e validada por Abed (2015), dentre profissionais da atenção básica de equipes de saúde da família.

Toda a coleta foi realizada por um formulário online, na plataforma Google Forms, após assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) pelos participantes. Os dados foram tabelados em uma planilha Microsoft Excel 2016 e analisados através do programa Jamovi, versão 2.2.5. A análise ocorreu de forma descritiva, com cálculos de média e mediana, e estatística analítica, com os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallys para comparação e o Teste de Correlação de Spearman para análise de correlação entre as variáveis.

Dos 99 participantes da pesquisa, 81,82% (n=81) foram do sexo feminino, com média de idade de 22 anos. Em relação à raça/cor, 50,51% (n=50) se autodeclarou negro/pardo. Entre os respondentes, houve uma distribuição equitativa entre os períodos do curso e 54,55% (n=54) afirmaram terem participado de algum projeto de extensão ou iniciação científica na graduação.

Em relação à pontuação da EJAECI, ou Escala Jeferson, o valor total mínimo alcançado foi de 98 pontos e o máximo foi de 140 pontos. A média foi de 126,38 pontos. A variável que apresentou significância em relação ao valor total foi ter participado de algum projeto (pesquisa, extensão ou ensino).

A análise dos resultados permitiu a verificação de que a grande participação das mulheres na pesquisa representou um reflexo da realidade atual dos cursos da área da saúde no Brasil e da própria profissão. Haddad e colaboradores (2010), ao realizar um estudo entre 2004 e 2007 com a temática de formação de profissionais de saúde no Brasil, verificaram que as mulheres estavam predominantes nos cursos da área.

Pouco mais da metade dos participantes da pesquisa se declaram negros 50,51% (n=50). Estudos indicam que o número crescente de acadêmicos que se autodeclaram negros é fruto da política de cotas, no entanto, especificamente na Fonoaudiologia, o entendimento de que ainda existe preconceito levou a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia a criar a Comissão de Comunicação e Diversidade, com objetivo estruturar pesquisas, ações e soluções voltadas à compreensão, promoção e suporte à diversidade da profissão e em todos os espaços onde ela se encontra (SBFA, 2017).

A análise dos resultados da EJAECI demostrou que os estudantes do curso de Fonoaudiologia obtiveram alto grau de atitudes relacionadas à colaboração interprofissional, entretanto, esta ocorreu de forma indireta e não igualitária. A variável participação em projetos apresentou correlação estatisticamente significante (p= 0,001). O contato interprofissional, e consequente EIP, foi demostrado quando os acadêmicos buscaram ultrapassar o que lhe foi fornecido em sala de aula ao participarem de projetos de extensão e pesquisas científicas, entre outras atividades como o PET. Esse aspecto era esperado pelos autores, uma vez que, por participarem de tais atividades extra curriculares, esses estudantes provavelmente obtiveram mais acesso a outras formações profissionais. Peduzzi e colaboradores (2013) afirmam que a formação em saúde no Brasil tem se dado de forma específica e direcionada a cada área de atuação. Os autores apontam que a exceção se dá quando da participação nos projetos Pro-Saúde e PET-Saúde, na graduação e nas Residências Multiprofissionais, na pós-graduação, corroborando com nossa pesquisa.

No que diz respeito as relações de trabalho, a maioria 74,75% (n=74) dos estudantes concordou com a afirmação de que os profissionais de saúde devem ser vistos como colaboradores e não como superiores ou subordinados, e também que os profissionais devem considerar que seus colegas podem contribuir para a qualidade do cuidado e com as decisões relativas ao cuidado.

Concluímos que a Escala Jeferson de Atitudes Relacionadas à Colaboração Interprofissional (EJAECI) foi sensível em avaliar as relações de trabalho e a responsabilidade dentre os participantes, no entanto, trata-se de um instrumento relativamente recente e que requer seu uso em pesquisas com maior abrangência.

Apesar da média na EJARCI ter sido consideravelmente alta, foi verificado que a Educação Interprofissional não é citada no atual Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Os resultados e analises obtidas serão disponibilizadas ao Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de forma a colaborar com a criação de um novo Projeto Pedagógico (PPC) que inclua a Educação Interprofissional (EIP) como um dos pilares da formação. Seguindo as orientações das Novas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Fonoaudiologia, aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde e que aguardam homologação pelo Ministério da Educação.