Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Reabilitação Pós-COVID-19 na Atenção Primária em Saúde: um Relato de Experiência em um Projeto de Ensino na Formação de Fisioterapeutas.
Vinícius Horn Vieira Mabilia, Felipe de Souza Stigger, Adriana Torres de Lemos, Luís Henrique Telles da Rosa, Caren Luciane Bernardi, Gabriela Tomedi Leites

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


Apresentação: No Brasil, a pandemia da COVID-19 tem promovido muitos desafios ao sistema de saúde, tanto para casos ativos, necessitando de internações e cuidados especializados, quanto para os casos que têm apresentado sintomas duradouros ou outros sintomas antes não presentes. Quadros de manifestação com duração entre quatro e 12 semanas indicam a COVID-19 pós-aguda e manifestações que se prolongam além de 12 semanas não atribuídas a outros diagnósticos indicam a COVID longa. Esta condição pode ocorrer mesmo nos pacientes que manifestaram formas leves da doença. Para o melhor manejo do usuário em diferentes níveis de atenção no Sistema de Saúde, é imprescindível a participação do Fisioterapeuta, a fim de garantir funcionalidade, autonomia e qualidade de vida. Nesse contexto, a atuação do Fisioterapeuta na Atenção Primária em Saúde (APS) tem como função contribuir com a proposta de cuidado integral e suporte abrangente, além de reduzir complicações e risco de readmissão hospitalar. Além disso, a integração ensino-serviço na APS, o trabalho colaborativo, pactuado e integrado de estudantes e professores dos cursos de formação em Fisioterapia com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços de saúde são um importante campo de ensino-aprendizagem na formação do Fisioterapeuta, ainda mais, nesse período desafiador para o setor da Educação. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é relatar a experiência dos alunos de graduação do Curso de Fisioterapia no projeto de ensino “Reabilitação Pós-COVID-19 da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)” durante a pandemia da COVID-19. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, cujo projeto foi realizado no período de outubro de 2021 a janeiro de 2022, no Centro de Reabilitação do IAPI, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Primeiramente, os alunos de graduação do curso de Fisioterapia fizeram reconhecimento do espaço, além da familiarização e capacitação quanto aos instrumentos de avaliação da capacidade funcional (como teste de caminhada de 6 minutos, teste senta e levanta, teste TUG) e questionários de qualidade de vida e funcionalidade relacionados à COVID-19. Também foram discutidas as principais complicações vinculadas à COVID longa e à utilização de protocolos e recursos terapêuticos para a reabilitação. Os atendimentos foram realizados no centro de reabilitação do IAPI, nas quintas e sextas-feiras, no período da tarde, entre 13h e 17h, recebendo usuários referenciados de Unidades de Saúde do município de Porto Alegre. Os atendimentos foram realizados  individualmente com acompanhamento de duplas de alunos sob a supervisão de cinco docentes. Resultados: Os atendimentos começaram em outubro de 2021 e o projeto teve a participação de 38 alunos de graduação em Fisioterapia, sendo realizados quatro atendimentos por dia por dupla, durante o período de quatro meses.  A vivência dessa atividade de ensino possibilitou aos alunos a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos ao longo da graduação, sendo de extrema relevância, principalmente, nesse momento de pandemia uma vez que diversas atividades práticas foram suspensas ou restritas pela Universidade ou instituições parceiras para conter as contaminações pela COVID-19. Durante todo período de 2020 e 2021, os alunos do curso de Fisioterapia mantiveram seus estudos remotos, com vídeos aulas, vídeos demonstrativos, e metodologias ativas para desenvolver suas competências e habilidades; contudo, o contato direto com paciente foi restrito àqueles que já estavam em estágio final de graduação. Desse modo, o projeto de ensino no ambulatório pós-COVID-19 veio para integrar o conhecimento acadêmico, a comunidade e a demanda do serviço de saúde, visto que no município de Porto Alegre, como nas demais metrópoles brasileiras, houve milhares de casos de COVID-19. Com isso, surgiu alta demanda hospitalar e da equipe de profissionais de saúde, além do suporte da rede de atenção à saúde. Na APS, não foi diferente; por isso, a fim de contribuir para com a demanda municipal, a UFCSPA e o curso de Fisioterapia propuseram o projeto para contribuir nesse nível de atenção e permitir, com isso, a volta das atividades dos alunos em atendimento na comunidade. O relato dos alunos demonstrou que a atividade de ensino foi muito positiva e inovadora no processo de formação. Nos primeiros encontros, houve o incentivo à escuta humanizada e o favorecimento na formação do vínculo com os usuários, colocando em prática as avaliações e os aprendizados, desde as disciplinas básicas, como semiologia e saúde coletiva até disciplinas específicas da área, com avaliações levando em conta as individualidades, principalmente nos casos observados com sinais e sintomas com lacunas na descrição da literatura como na Síndrome da fadiga Pós-Viral e outras comorbidades de diversas especialidades da área. Ao longo desses meses, os alunos puderam avaliar, planejar objetivos e condutas, reavaliar, atender e participar da educação em saúde com os usuários. Ao final dos atendimentos, sempre foi incentivada a discussão dos casos entre os colegas e professores, promovendo maior autonomia na construção do conhecimento e propiciando o processo de formação ativo e autônomo. Além disso, foi possível compartilhar as experiências individuais com as vivências além do conteúdo teórico, favorecendo uma formação mais colaborativa e humanizada. A comunidade foi também beneficiada, não só pela oferta de serviço, mas também pela atenção qualificada. Isso fica evidenciado pelos relatos de usuários: “Achei que sentiria para sempre cansaço, dor e essa falta de ar.”; “Não tinha vontade de sair de casa, agora sinto vontade de caminhar e até consigo fazer mais coisas em casa.”; “Gosto de vir aqui e principalmente quando me colocam para pedalar, me sinto muito melhor”. Esses são exemplos de relatos de usuários que estão sendo atendidos e que perceberam melhoras. Houve uma heterogeneidade nas queixas principais dos usuários, com relato de síndrome da fadiga pós-viral com fadiga muscular, dispnéia, baixa capacidade funcional, alteração de sensibilidade, limitação de movimentos. Além disso, foi possibilitado a compreensão do perfil da população local com as comorbidades prévias a infecção que impactavam na funcionalidade, como obesidade, depressão, diabetes tipo II, hipertensão, que tornam o atendimento com a complexidade amplamente descrita nos serviços da APS. Considerações finais: O impacto na funcionalidade e na qualidade de vida decorrente das repercussões clínicas da infecção pelo SARS-CoV-2 traz uma grande demanda para a Fisioterapia. Nesse sentido, projetos de ensino, como “Reabilitação Pós-COVID-19 UFCSPA”, são uma maneira inovadora e factível para atender as demandas da população local, permitindo fortalecer o vínculo do sistema de saúde público com a comunidade, entregar assistência à população acerca dos cuidados necessários durante o período de pandemia e dos cuidados com as disfuncionalidades ocasionadas pela infecção da COVID-19, e proporcionar momentos nos quais futuros profissionais podem contribuir com seus conhecimentos, sua força de trabalho e sua responsabilidade social. Além disso, para a comunidade acadêmica, poder vivenciar experiências dentro da APS no atendimento à população é um modo valioso na formação centrada no aluno e de forma humanizada, pois permite, de maneira segura, responsável e orientada pelos professores, que o aluno tenha experiência profissional, bem como possa se familiarizar com o Sistema Único de Saúde. Ainda, nesse contexto de aprendizagem, cabe ressaltar que, para muitos alunos, foi o primeiro contato com o público, aplicando os conhecimentos adquiridos ao longo de anos de formação acadêmica, que não puderam ser implementados anteriormente devido à própria pandemia. Tal ação permitiu não só executar o que havia sido aprendido, como também romper fronteiras e barreiras impostas pelo aprendizado remoto, de modo que o aprender foi inovado.