Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Saúde Bucal e o Cuidado de Gestantes durante a Pandemia: missão (im)possível?
Tayanne Moreira Oliveira, Flavia Teixeira do Bonsucesso, Emerson Fernando Rasera

Última alteração: 2022-01-31

Resumo


Durante o cenário da pandemia, as gestantes permaneceram temporariamente desassistidas em relação aos cuidados em saúde bucal. Primeiro porque os atendimentos odontológicos foram inicialmente restritos aos atendimentos de urgência e emergência, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, assim como ocorreu também a suspensão dos grupos operativos/terapêuticos. Posteriormente, de acordo com as orientações do Ministério da Saúde, foi recomendada a manutenção dos atendimentos às emergências e urgências com um retorno gradual dos atendimentos eletivos essenciais. Os eletivos essenciais são grupos e condições que não podem ter seu cuidado postergado. Assim, as consultas odontológicas pré-natal se enquadraram nessa modalidade. Diante disso, apesar das gestantes serem consideradas do grupo de risco para o COVID-19, na cidade de Caldas Novas/GO, em 2021, foi pactuado com a coordenação municipal de saúde bucal, o retorno gradual e responsável do atendimento odontológico para elas. Essa medida visou reduzir o impacto da suspensão dos cuidados odontológicos. Considerando que no município existem 16 ESF, após esse retorno, cada unidade adaptou o fluxo dos atendimentos odontológicos das gestantes de acordo com seu contexto/realidade local, baseado no julgamento clínico do profissional de saúde bucal responsável. Na unidade onde atua a autora principal foram priorizadas as atividades educativas, como orientações de higiene bucal, aconselhamentos sobre alimentação saudável e hábitos de saúde bucal para a mãe e o bebê. As atividades coletivas de educação em saúde envolvendo gestantes ainda são pouco expressivas e raramente são desenvolvidas na referida ESF. Em 4 anos de atuação nessa equipe, não foi possível consolidar a realização dos grupos de gestantes. Ocorreram momentos de educação em saúde com esse público, abordando temáticas relacionadas a amamentação e parto humanizado. Houve tentativas de organização de grupos operativos de gestantes, mas infelizmente inúmeros são os desafios e as fragilidades para sua continuidade e manutenção, incluindo barreiras culturais, estruturais e de gestão. Objetivo: compartilhar as reflexões e desafios sobre os efeitos da pandemia no acompanhamento odontológico pré-natal de gestantes. Situação agravada pela somatória de fatores anteriores a pandemia, como a ausência de uma comunicação em saúde voltada para gestantes, o desconhecimento de profissionais e usuárias dos serviços de saúde acerca da necessidade do cuidado em saúde bucal na gestação e a suspensão/restrição temporária dos atendimentos odontológicos e atividades de educação em saúde na Atenção Básica. Método: Trata-se de um relato de experiência sobre uma intervenção de educação em saúde realizada com 11 gestantes usuárias da ESF Jequitimar do município de Caldas Novas/GO. A ação integrou as demandas da disciplina de Promoção da Saúde do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Uberlândia.  O objetivo da proposta de intervenção foi sensibilizar as gestantes em relação a importância dos cuidados em saúde bucal durante a gestação e na fase de puericultura, mesmo no atual contexto de pandemia. Pensada no contexto da pandemia, a ação educativa foi realizada via WhatsApp, onde foram disparados conteúdos reflexivos sobre saúde bucal. As gestantes foram convidadas a participar da atividade durante a consulta médica e odontológica de pré-natal previamente agendada. As gestantes que não compareceram na consulta foram contatadas através de ligação, realizada pela primeira autora desse trabalho. Após a concordância das participantes, foi criado um grupo de WhatsApp. Conforme acordado com o grupo, foram disparados conteúdos reflexivos sobre a temática, na modalidade de perguntas/ questões norteadoras, no formato de cards. Essas questões norteadoras foram construídas baseadas na literatura da área, mas também a partir das dúvidas e questionamentos apresentados por elas no momento da consulta/convite. Durante 5 dias foram enviadas mensagens diárias por linha de transmissão, perfazendo um total de 10 questões. Utilizamos também interações através de mensagens de texto e voz, considerando que algumas de nossas interlocutoras poderiam ter limitações em relação a deficiência visual/auditiva e/ou menor domínio da leitura (educação formal), o que poderia causar constrangimento ou limitar a participação. Resultados e discussões: A escolha do recurso pareceu acertada, posto que nove delas participaram do grupo, ainda que através de emoticons e discretas manifestações não relacionadas diretamente ao tema proposto. Duas não responderam às mensagens, embora não tenham saído do grupo, possibilidade garantida pela própria ferramenta e também explicitada no momento do contrato. Não foi realizada tentativa de contatos com as usuárias, para fins dessa intervenção, por mecanismos externos ao grupo. A interação no grupo foi incentivada a partir das postagens de conteúdo educativo inseridos pela pesquisadora. As participantes reagiam positivamente às mensagens, que visavam dar retorno a elas sobre o tema disparador. Parte das interações e respostas foram informando para a pesquisadora que o interesse das gestantes estava centrado em outra questão: a pandemia, e especialmente nas dúvidas sobre a imunização de gestantes, como segurança/efeitos das vacinas e cronograma de imunização disponibilizado pelo município. A temática relacionada a vacinação de gestantes, puérperas e lactantes tem sido bastante debatida, principalmente devido à elevação do número de mortes materna causada pelo COVID-19. O Brasil tinha o maior número de óbitos e uma assustadora taxa de letalidade, atingindo mais que o dobro da taxa de letalidade do país. Diante da ausência de uma coordenação central sobre a recomendação e suspensão da vacinação, as gestantes ficaram confusas e inseguras, solicitando informações sobre o tema. Geralmente, as interações e menções sobre a temática proposta eram poucas e predominantemente do formato de emoticons. Apenas duas participantes se manifestaram e interagiram de forma mais consistente. Orientadas pelo conteúdo educativo postado pela pesquisadora, elas se referiram a questões relacionadas a amamentação, uso de chupetas, hábitos de higiene bucal, necessidade de escovação supervisionada das crianças, cronologia de erupção dos dentes decíduos e uso do fio dental nos bebês. Esse fato demonstra que, mesmo que de forma incipiente, a ação oportunizou uma construção compartilhada de conhecimento. Apesar das contribuições das usuárias, no grupo, terem sido pouco relacionadas ao tema proposto, as conversas com elas, durante a consulta onde ocorreu o convite, também foram anotadas e incorporadas aos temas abordados na Cartilha Educativa Virtual sobre Saúde Bucal da Gestante e do Bebê que tornou-se o resultado da experiência/intervenção. Considerações finais: A experiência mostrou a necessidade de produzir situações de encontro com as gestantes para conversas sobre gestação/maternidade e cuidados em saúde bucal que estejam vinculadas às suas preocupações cotidianas. Diante do cenário epidemiológico e da incerteza em relação ao retorno de uma rotina nos serviços de saúde, decidimos manter o grupo e ampliá-lo para as demais gestantes, usuárias do serviço, que concordarem em participar. A Cartilha Educativa sobre Saúde Bucal da Gestante e do Bebê será validada durante os encontros com profissionais de saúde bucal e usuárias para elaboração de um Guia de Atendimento Odontológico para Gestantes na Atenção Básica e, posteriormente, disponibilizada para a rede de saúde do munícipio. Espera-se que a Cartilha Educativa seja incorporada pelos profissionais de saúde bucal como elemento direcionador dos cuidados em saúde bucal na gestação e que funcione como um instrumento de educação em saúde no município. Espera-se também que a experiência sirva como inspiração para os profissionais de saúde tornarem suas práticas mais flexíveis e produzirem respostas em situações que extrapolam as condições de nossas práticas com a adoção de ferramentas virtuais como potencial meio de comunicação em saúde e de promoção de saúde.