Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O “Projeto Sífilis Não” e as estratégias de apoio de pesquisa e intervenção para o enfrentamento à sífilis no Brasil
Chyrly Elidiane de Moura, Vania Priamo, Carlos Alberto Pereira Oliveira, Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim, Hélio Roberto Hékis

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


Apresentação: A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) conhecida há mais de 500 anos, causada pela bactéria Treponema pallidum. O contexto histórico desse agravo se modificou desde o seu surgimento, mas apesar dos avanços a doença continua presente em nossa sociedade como um desafio para a Saúde Pública. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), as IST têm um impacto profundo na saúde sexual e reprodutiva em todo o mundo, sendo mais de 1 milhão de infecções todos os dias. O Brasil declarou a situação de epidemia de sífilis frente a ascensão do número de casos verificados no ano de 2016. Para enfrentar essa situação, o Ministério da Saúde em parceria com a OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) elaborou a Agenda de Ações Estratégicas para Redução da Sífilis no Brasil (2017), estabelecendo um rol de prioridades visando à qualificação da atenção à saúde para prevenção, diagnóstico, tratamento, seguimento e vigilância da sífilis, principalmente, na Atenção Primária à Saúde (APS). Uma das propostas para o enfrentamento é a “Pesquisa aplicada para integração inteligente orientada ao fortalecimento das redes de atenção para resposta rápida à sífilis”, com o objetivo reduzir a sífilis adquirida, a sífilis em gestantes e eliminar a sífilis congênita no Brasil. O “Projeto Sífilis Não”, como também é conhecido, é fruto de uma cooperação técnica entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Ministério da Saúde em parceria com a OPAS que visa a integração das ações da atenção à saúde e da vigilância para o controle da epidemia de sífilis no Brasil. O “Projeto Sífilis Não” conta com 4 eixos de atuação prioritários, sendo eles: Gestão e Governança; Cuidado Integral; Vigilância e Educomunicação. Dentre as ações do eixo Gestão e Governança, o projeto implementou uma rede de apoio institucional composta por apoiadores de pesquisa e intervenção, tendo estes a função de atuar nos territórios fomentando o diálogo com gestores, trabalhadores e usuários na perspectiva de minimizar a fragmentação dos processos e qualificar as práticas que orientam o cuidado às pessoas com sífilis. Algumas estratégias de apoio balizam a construção dessa função no “Projeto Sífilis Não”, entre eles o Método Paidéia, também conhecido por Método da Roda, que aposta no apoiador como o facilitador de diálogos e mediador de conflitos com vistas à transformação da realidade, contribuindo para a expansão e o fortalecimento do SUS.  Frente às experiências do apoio e da função apoio no Brasil, e a vivência dos autores junto ao “Projeto Sífilis Não”, o presente estudo tem como objetivo apresentar a formulação do apoio institucional, identificando as especificidades, diversidades e singularidades do processo vivenciado, as quais contribuíram para o fortalecimento das ações de enfrentamento à sífilis no Brasil. Desenvolvimento: No período de março de 2018 a dezembro de 2020, o “Projeto Sífilis Não” atuou em 72 municípios prioritários em todo o Brasil, tendo como diferencial o trabalho dos apoiadores de pesquisa e intervenção de forma articulada com os atores estratégicos dos territórios, visibilizando a sífilis e incluindo-a nas agendas municipais e estaduais, com o intuito de induzir e fortalecer as políticas públicas para a resposta rápida à sífilis. O trabalho do apoiador possibilitou estratégicas para análise de processos de trabalho, como a discussão de acontecimentos do cotidiano, pesquisas, oficinas, matriciamentos, visitas institucionais, atividades de formação etc., trazendo as discussões para a roda, favorecendo a troca entre os sujeitos e a construção de estratégias para o enfrentamento da problemática em questão. Inicialmente, realizou-se uma análise dos indicadores epidemiológicos do município de atuação para direcionar a elaboração de planejamentos locais, a ser construído a partir do reconhecimento da problemática pelos gestores e do comprometimento da rede intersetorial local. Posteriormente, o apoiador adentrou aos territórios e fomentou a criação do Grupo Técnico Local de enfrentamento à sífilis (GTL) constituído por diversas áreas técnicas da Secretaria de Saúde e dos serviços nos vários níveis de atenção, como também com representação da Secretaria da Educação, da Secretaria de Assistência Social, do Conselho Municipal de Saúde, da Assessoria de Comunicação-ASCOM, de profissionais de saúde, de ONGs e da sociedade civil. Resultados: O trabalho da rede de apoiadores foi se desenhando no intuito de acompanhar, monitorar e avaliar as ações dentro dos 4 eixos do projeto e diversas ações passaram a ser desenvolvidas com base nas necessidades locais e na linha de indução nacional. O GTL constituiu um mecanismo que oportunizou a tomada de decisões de modo compartilhado, incentivando a entrada do agravo nos instrumentos de gestão, a exemplo dos planos municipais de saúde. Durante o desenvolvimento do projeto, ações de educomunicação estiveram presentes, impulsionadas tanto pela oferta de materiais elaborados pelo projeto que poderiam ser adotados pelos municípios, quanto pelo desenvolvimento de ações locais. Nesse sentido se destacam atividades de educação em saúde no enfrentamento à sífilis realizadas junto a população em geral e ações de educação permanente junto aos profissionais de saúde. A implantação e implementação de comitês ou câmaras técnicas de investigação da transmissão vertical, tido como instrumentos potentes que contribuem para análise de processos de trabalhos, foram trabalhados na grande maioria dos municípios. A descentralização do diagnóstico e tratamento da sífilis na rede de atenção, em especial na APS, foi uma estratégia amplamente trabalhada pelos apoiadores frente a necessidade de ampliar o acesso e qualificar o manejo da sífilis nesse nível de atenção. É identificado uma melhora nos dados da descentralização da penicilina e do tratamento de sífilis em todo país, reflexo de ações conjuntas e integradas com a rede, incluindo a capacitação dos trabalhadores. Estratégias de monitoramento e seguimento de gestantes diagnosticadas com sífilis foi uma das ações desenvolvidas que contribuiu para análise e acompanhamento dos casos e para a organização de uma rede que oportunize a gestante adequadamente tratada no momento do parto, reduzindo a chance de transmissão vertical. Visitas técnicas às maternidades foram realizadas na perspectiva de contribuir com as atribuições desse nível de atenção com relação ao fortalecimento da linha de cuidado da sífilis. Além disso, oportunizou o alinhamento de nós críticos já conhecidos, como: classificação clínica; diagnóstico; cuidado integral; vigilância da sífilis em gestante; criança exposta à sífilis; e, sífilis congênita. Por fim, destacamos o fortalecimento das ações de pesquisas científicas aplicadas na área do controle e do combate à sífilis no SUS, incluindo análises dos territórios de atuação e de estratégias que contribuem e fazem a diferença no cotidiano das equipes de gestão, como a presença do apoiador de pesquisa e intervenção. Considerações finais: Para a resposta rápida à sífilis nas redes de atenção é reconhecido que as ações do “Projeto Sífilis Não” com foco no trabalho desenvolvido pelo apoiador de pesquisa e intervenção, contribuem para a sensibilização dos gestores e demais atores estratégicos nos territórios, no tocante ao reconhecimento da problemática. O diferencial do trabalho do apoiador é pautado no reconhecimento e valorização das ações em andamento nos municípios e a construção conjunta de novas estratégias e ações para fortalecer o cuidado às pessoas com sífilis. Frente a situação epidemiológica atual da sífilis, faz-se necessário a continuidade das ações desenvolvidas pelo apoiador de pesquisa e intervenção, de modo a fortalecer o trabalho já consolidado no período de execução do projeto, destacando a pauta da sífilis nas agendas de saúde nos municípios e estados.