Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Relato de uma construção coletiva de estudo sobre os atos de violência vivenciadas pelos trabalhadores no SUS Betim
Magda Helena Reis Cota de Almeida, Augusto Viana da Rocha, Berenice de Freitas Diniz, Elizabete da Silva, Márcia da Silva Anunciação Lazarino, Octávio de Alcântra Torres, Telma Vanessa Santos Lima, Vivian Ribeiro Alves

Última alteração: 2022-02-11

Resumo


Apresentação

O tema violência no trabalho vem sendo objeto de atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da comunidade científica e dos setores de gestão de pessoas de inúmeras organizações nos tempos atuais.

A OMS, a OIT e o Conselho Internacional de Enfermeiros apresentaram em 2003 a violência como fenômeno presente nos ambientes de trabalho,  conceituando a expressão workplace violence – violência no local de trabalho – como qualquer ação, evento ou comportamento voluntário em consequência do qual uma pessoa é agredida, ameaçada ou sofre algum dano ou lesão durante a realização do seu trabalho ou como resultado de suas atividades nele.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é local de produção de saberes e ações cotidianas para pensar a saúde do trabalhador e o enfrentamento da violência no  trabalho. E para a sua prevenção é necessário entender quais são as formas de manifestação, quais os ambientes acometidos, as vítimas, os agressores e diante disso propor as medidas para a prevenção e promoção de ambientes de trabalho saudáveis.

No SUS/Betim, há muitos anos esse tema está em discussão, mais especificamente na Mesa de Negociação Permanente do SUS Betim (MNP/SUS Betim) houveram pautas apresentadas pelos representantes sindicais sobre os trabalhadores que vivenciaram a violência no seu cotidiano do trabalho.  Este estudo foi realizado na perspectiva da busca coletiva para o enfrentamento deste fenômeno.

 

Desenvolvimento

 

Foi constituído um grupo de trabalho (GT) a partir de uma demanda apresentada pela MMNP/SUS Betim referente ao grande número de ocorrências de violências no trabalho sofridas ou presenciadas pelos trabalhadores nas unidades de saúde, principalmente nos últimos anos.

Analisando demanda apresentada, constatou-se que há fluxos para acompanhamento, no entanto esses são insuficientes. Identificou-se também a subnotificação dos atos de violência no trabalho junto ao Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) do município e também no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Foi constatada também a necessidade de promoção de ações para prevenção da violência no trabalho, bem como a organização de fluxos para acolher, avaliar, notificar, acompanhar e monitorar os trabalhadores vítimas da violência no trabalho no SUS/Betim.

Diante da complexidade do fenômeno e da necessidade de fundamentação teórica para o desenvolvimento e implementação do Protocolo de Enfrentamento da Violência no Trabalho no SUS Betim, os profissionais do GT iniciaram um processo de investigação, leituras científicas, reflexões e produção de debates referentes ao tema. A partir disso, foi definido que a realização de uma pesquisa junto aos trabalhadores seria essencial para conhecer a realidade da violência no trabalho no SUS Betim.

A pesquisa objetivou identificar e analisar os atos de violência vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores da saúde do SUS Betim.

A abordagem metodológica quantitativa e qualitativa foi definida diante da necessidade de conhecer a ocorrência dos atos de violência no trabalho e de ouvir a opinião dos trabalhadores da saúde sobre esse tema.

Para isso, foi disponibilizado para os trabalhadores um questionário semi-estruturado,  composto  por 18 questões incluindo sócio-demográficas, identificação de cargo e unidade/setor de trabalho e tipo de vínculo.

Além disso, questões relacionadas à violência no trabalho como tipo de violência sofrida ou presenciada, local de ocorrência, impactos físicos e emocionais do trabalhador e características do agressor.

Também foi solicitado ao participante que apresentasse propostas de medidas de promoção da cultura de paz e prevenção da violência no trabalho a serem desenvolvidas pelos trabalhadores e gestores.

O questionário foi disponibilizado de forma on line por meio do google forms, sendo disponibilizado um link na área do contra-cheque do servidor. Foi inserido antes do questionário, um link contendo o TCLE. O projeto de pesquisa teve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa do Município de Betim.

A pesquisa foi divulgada no site da prefeitura, em grupos do aplicativo WattsApp, e-mails institucionais das unidades de saúde, e-mail pessoal dos servidores, em reuniões diversas das SMS/Betim, Conselho Municipal de Saúde e MMNP/SUS Betim.

Local do Estudo

Betim, município com estimativa populacional de 450.024 habitantes (IBGE, 2021), possui extensão territorial de 343,884km2 (IBGE, 2020) e densidade populacional de 1.102,80 hab/km², ocupando o 8º lugar de município mais populoso do estado (IBGE, 2010). Está habilitado em Gestão Plena do Sistema de Saúde, sendo responsável por todas as atividades de gestão dos serviços e ações de saúde ambulatoriais, hospitalares e ações de vigilância à saúde e controle das doenças de seu território. Para isso conta com aproximadamente 6 mil servidores com vínculos específicos.

 

Resultados/Impactos

No período de dezembro/2020 a maio/2021, 582 trabalhadores responderam a pesquisa, sendo 500 (85,9%) do sexo feminino, 77(13,2%) do sexo masculino e 5 (0,9%) preferiram não declarar. Sobre a faixa etária, a maioria dos participantes está entre 40 e 49 anos, 205 (35,2%), seguido de 30 a 39 anos 196 (33,7%) e 50 a 59 anos 143 (24,6%), totalizando 93,5% dos participantes.

Em relação à Raça/Cor 287 (49,3%) declararam pardos, 177 (30,4) brancos, 90 (15,5%) pretos, 6 (1%) amarelos, 3 (0,5%) indígenas e 19 (3,3%) preferiram não informar.

Do total de participantes, 427 (73,4%) declararam ter sofrido algum tipo de violência no trabalho nos últimos 12 meses e 155 (26,6%) declararam não ter sofrido nenhum tipo violência no período.    Destaca-se que a maior parcela dos participantes que relataram ter sofrido violência no trabalho foram as mulheres 371 (63,7%).

 

Considerações finais

Os resultados apresentados, até o momento, permitiram uma análise descritiva e exploratória sobre a violência ocorrida nos ambientes de trabalho no SUS/Betim, possibilitando o conhecimento da realidade local. Essas informações serão alicerce para o desenvolvimento de políticas públicas para a promoção da cultura de paz, prevenção da violência acolhimento e acompanhamento dos trabalhadores vítimas da violência no trabalho. O  estudo continua em processo de análise das informações obtidas.

Consideramos que para o enfrentamento da violência no trabalho é essencial a escuta e o envolvimento dos trabalhadores e gestores em todo o processo. Desde o diagnóstico do problema, a implementação de ações para a prevenção, para a redução e o monitoramento. Além das ações de educação em saúde/permanente sobre o tema.

Atualmente o GT está envolvido na elaboração de proposta do Protocolo de Enfrentamento da Violência no Trabalho no SUS Betim. E é nosso desafio sensibilizar a todos quanto à necessidade de prevenir, evitar, enfrentar e eliminar as práticas discriminatórias e as diferentes formas da violência no trabalho no SUS/Betim.