Introdução: A pesquisa “Práticas Integrativas e Complementares na Atenção Primária à Saúde nas Regiões Metropolitanas de Porto Alegre, Fortaleza, Campinas e Goiânia” encontra-se em andamento desde 2018 e seu objetivo é analisar a oferta das PIC nos serviços de Atenção Primária à Saúde dos 93 municípios das quatro regiões, por meio de entrevistas telefônicas. Objetivo: relatar o processo de construção compartilhada em que as diferenças dos participantes tornaram-se potência para a construção de um Manual de Entrevista Telefônica. Metodologia: Em encontros virtuais quinzenais dos pesquisadores, realizados pelo Google Meet, identificamos que os principais fatores que dispararam a necessidade da produção do Manual foram: a diversidade de abordagem que cada pesquisador/a trazia; a diversidade dos territórios envolvidos na pesquisa; os diferentes níveis de articulação em cada território; e a diversidade de meios que cada entrevistador/a dispunha para a realização de suas funções. Também nos encontros virtuais identificamos os critérios utilizados para qualificar o Manual, quais sejam: praticidade, normatização dos procedimentos e redução de custos da pesquisa. Para produzir o manual, além das experiências prévias dos pesquisadores, foram realizadas entrevistas piloto e exercícios de chamadas telefônicas, gravações e armazenamento das entrevistas.

Resultados: O manual ficou composto por cinco partes: Contexto da pesquisa; Planejamento da entrevista; Realização da entrevista; Transcrição da entrevista; e Apêndices. O Manual mostrou-se potente para uma padronização mínima do processo de pesquisa de campo, desde a abordagem inicial com os serviços e gestores, à coleta e armazenamento dos dados. Além disso, a inclusão dos saberes prévios dos pesquisadores/as de campo na construção do Manual acabou interferindo em mudanças no próprio instrumento de coleta. Este exercício de construção compartilhada do conhecimento, ao inserir atores vistos hegemonicamente apenas como coletadores de dados, geralmente apartados da construção dos instrumentos de coleta de informações, deixou clara a possibilidade de transformar diferenças em potência na produção de conhecimento. Contudo, mesmo com toda a preparação, o trabalho de campo mostrou-se adverso pela sobrecarga dos coordenadores dos serviços em meio à pandemia, pela desconfiança destes em relação ao contato telefônico, por vezes, sem aviso prévio e com sotaques diversos dos de suas regiões, além da ausência das PIC em territórios registrados como ofertantes. Tais fatores fizeram emergir questões que não foram abarcadas previamente no Manual, mas que foram rapidamente contornadas devido as discussões coletivas desenvolvidas previamente durante a construção do Manual. Conclusão: A elaboração do manual mostrou-se potente para uma estruturação do processo das entrevistas telefônicas na pesquisa de campo. As adversidades que não estavam previstas foram contornadas nas reuniões semanais de equipe do projeto. Concluímos, portanto, que a inclusão dos saberes prévios dos pesquisadores/as de campo na construção do Manual evidenciou a possibilidade de transformar diferenças em potência na produção de conhecimento.