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O Consultório na Rua (CnaR) é um serviço que produz o cuidado em saúde para os viventes das ruas nos locais de permanência deste grupo social, a partir de uma atuação que busca o acolhimento efetivo dessa população que por discriminação, preconceito entre outros motivos e circunstâncias não busca o serviço de saúde quando necessita, além de também realizar ainda a interlocução com a rede de serviços do SUS. Aqui apresentamos um estudo cartográfico realizado em uma vivência em um CnaR. Esse estudo faz parte de uma pesquisa maior intitulada: Análise dos novos movimentos sociais e a produção da saúde na periferia da região metropolitana de Londrina (PR). Cadastrada e aprovada no comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Operada por um grupo de pesquisa que partilha os aprendizados e processa junto os deslocamentos vividos no campo de pesquisa. Para esse resumo escolhemos partilhar uma cena vivida junto com uma gestante, vivente da rua, mas que possui uma relação ainda próxima com seus familiares, por isto alterna sua habitação entre a rua, mocós e a casa dos pais. Somado a esta mudança ela se encontrava em intenso uso de drogas. Ela não estava distante dos serviços de saúde, comparecendo a todas as consultas de pré-natal na Unidade Básica de Saúde de referência. Contudo, no decorrer de sua gestação, o uso de drogas foi se intensificando e os caminhos da gestante, sua mãe e o CnaR se cruzaram. Encontro agenciado pela dificuldade da mãe da gestante em conduzir o cuidado nos momentos de uso de drogas. A dificuldade de encontrar a gestante era constante, a equipe buscava a casa de sua mãe para procurar informações, e em decorrência a esta proximidade, especialmente da psicóloga via aplicativo de mensagens, um vínculo foi se construindo com a mãe, o que não havia ocorrido em outros pontos da rede de atenção à saúde. Esse foi um processamento importante realizado no grupo de pesquisa, levantando questionamentos sobre por que outros pontos de atenção do SUS não acolhem as demandas das pessoas em situação de rua? ou por que os trabalhadores não conseguem estabelecer um vínculo com tais pessoas? Em um momento de crise, onde a gestante estava com sangramento, em discussões com a família para sair de casa para usar drogas, e na dificuldade em lidar com a situação, essa abertura, possibilitou que a mãe se sentisse à vontade em contatar o CnaR,  com acolhimento imediato pela equipe que desviou sua agenda para atendê-las. No local, a equipe encontra uma situação grave indicando que a gestante precisaria de atendimento de urgência na maternidade de alto risco. Após transporte de emergência via Samu ela entrou em trabalho de parto com o nascimento do bebê. Nessa cena vivenciada é possível perceber a importância que o vínculo exerceu no desfecho de um caso que poderia ser potencialmente negativo, além de expor as fragilidades da rede “formal” em  lidar com o vivente na rua, e de construir vínculo com este.