Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS: ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NO ESTADO DO MARANHÃO
Aclênia Maria Nascimento Ribeiro, Gabriela Oliveira Parentes da Costa, Carolina Silva Vale, Felipe Nascimento Vidal, Pâmela Caroline Guimarães Gonçalves, Yara Maria Rêgo Leite, Ravena de Sousa Alencar Ferreira

Última alteração: 2022-02-01

Resumo


1 INTRODUÇÃO

As mudanças demográficas, epidemiológicas e tecnológicas, nos últimos anos, motivaram a dinâmica do perfil de mortalidade da sociedade brasileira, ocasionando redução nas mortes decorrentes das doenças transmissíveis, bem como aumento naquelas ocasionadas por causas externas. As mortes e sequelas provenientes das causas externas, são consideradas demandas significativas para que políticas públicas de segurança e saúde sejam criadas e efetuadas no Brasil.

Nesse sentido, é possível inferir que as causas externas representam um grande problema de saúde pública, estando entre as principais causas de óbito mundialmente, com índice significativo de acometimento em faixas etárias jovens.

Além de sua interferência na mortalidade, as causas externas também são responsáveis por danos a milhares de indivíduos, gerando aumento na taxa de internação, atendimentos ambulatoriais e de emergência.  Em nosso país, em 2015, as causas externas ocasionaram 145 mil mortes, sendo assim, a terceira principal causa de morte no país, representando também a terceira causa de internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Cerca de 5,1 milhões de óbitos são atribuídas às causas externas e isso representa 9% da taxa de mortalidade em todo o mundo. No Brasil, nos últimos 25 anos, nota-se aumento na taxa de mortalidade por causas externas.

É importante ressaltar que as causas externas estão relacionadas aos fatores externos ao corpo humano que ocasionam lesões ou efeitos adversos no organismo. Assim, estão inclusos nessa definição, homicídios, acidentes de trânsito, suicídio, outras violências (quedas, afogamento, queimaduras, acidentes de trabalho, intoxicações, etc) e causas externas não especificadas se acidentais ou intencionais.

Esse indicador não apenas retrata características culturais e de desenvolvimento socioeconômico com variados fatores de risco específicos para cada tipo de acidente ou violência, como também demonstra as condições da assistência médica que são oferecidas à população e a qualidade do registro das ocorrências.

Diante desse cenário, o objetivo proposto deste estudo foi de realizar uma análise sobre o perfil epidemiológico da mortalidade relacionada às causas externas no Maranhão nos anos de 2014 a 2018.

2. MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo e retrospectivo realizado por meio de dados secundários provenientes do banco de dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), utilizando-se um formulário especifico construído com as seguintes variáveis: ano do óbito, sexo, faixa etária, raça, escolaridade e grupo CID 10.

Foram coletadas as informações referentes aos óbitos ocorridos no período de 2014 a 2018 e que tiveram como causa de morte, os óbitos decorrentes do Capitulo XX do CID-10 (Causas externas de morbidade e mortalidade). Após a coleta, os dados foram classificados de acordo com seus grupos de causas apresentados pelo CID-10, divididos da seguinte forma: V01-V99 acidentes de transporte; W00-X59 outras causas externas de lesões acidentais; X60-X84 lesões autoprovocadas voluntariamente; X85-Y09 agressões; Y10-Y34 eventos cuja intenção é indeterminada; Y35-Y36 intervenções legais e operações de guerra; Y40-Y84 complicações de assistência médica e cirúrgica; Y85-Y89 sequelas de causas externas e X60-X84 lesões autoprovocadas voluntariamente

Os dados coletados foram organizados em uma planilha e analisados no Programa Microsoft Excel 2010®. Para a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva por meio de cálculos de frequência absoluta e relativa.

Convém enfatizar que esses dados são de domínio público e não apresentam identificação nominal, motivo pelo qual não houve necessidade de submissão ao comitê de ética.

3. RESULTADOS

O estudo permitiu verificar que no período de 2014 a 2018 foram registrados 26.301 óbitos por causas externas no estado do Maranhão.

Em relação aos anos estudados, observou-se que houve uma redução na taxa de mortalidade no decorrer desses anos, porém foi observado uma pequena elevação no número de óbitos no ano de 2016 se comparado ao ano de 2015.

Quanto ao sexo, verificou-se a predominância do sexo masculino, vitimando 85,94% dos homens nos anos estudados. Esses dados também foram relatados em outras pesquisas comparando o número de óbitos por sexo, demonstrando que o sexo masculino é mais afetado pelas causas externas de mortalidade.

Ao analisar o quantitativo de óbitos por faixa etária, os resultados mostraram prevalência de óbitos em todas as faixas etárias, com destaque para faixa entre 20 a 39 anos, com 28,75% do total de óbitos, seguida da faixa etária de 30 a 39 anos, com 22,09%.

Esses resultados demonstram o impacto das causas externas para a faixa etária dos adultos jovens, afetando diretamente na dinâmica de toda a sociedade, por se tratarem de pessoas que estão no início ou já estão no ápice da idade produtiva intelectual e laboral.

A análise dos dados relacionados à raça, demonstrou que a raça com maior número de indivíduos vitimados por causas externas foi o dos pardos, representando 73,34% da amostra.

Quanto à escolaridade, observou-se que a maioria das mortes ocorreram em indivíduos com 4 a 7 anos de estudos (31,63%), seguida de 8 a 11 anos (26,22%), reafirmando os dados encontrados em um estudo realizado em 2006 na cidade de Cuiabá – MT, que identificou que a maior parte dos óbitos por causas externas envolveu indivíduos com escolaridade entre 4 a 7 anos seguidos de 1 a 3 anos.

Dentre as causas básicas de mortalidade, a de maior ocorrência foi por agressão, com 43,58% do total de óbitos por causas externas, seguida por acidentes de transportes com 30,68%.

A violência e os acidentes que são um grupo relevante de causas externas, são compostas pelos acidentes de trânsito, homicídios, suicídios, intoxicações, acidentes de trabalho, queimaduras, quedas, afogamentos e são considerados importantes fatores de morbidade e mortalidade de adultos jovens. No Brasil, os homicídios não estão mais centralizados unicamente nas grandes cidades, mais sim disseminados de maneira mais generalizada nas últimas décadas, atingindo também as cidades de médio porte do interior.

Em vista disso, percebe-se que o conhecimento sobre os óbitos por causas externas contribui para a execução de estratégias de prevenção e desenvolvimento de ações de enfrentamento abrangentes. Por esse motivo, é importante enfatizar que o brasil apresenta vasta extensão territorial e uma grande diversidade cultural, demográfica e socioeconômica, o que explica a importância da identificação dos contrastes regionais que interferem na vida e saúde da população, favorecendo o planejamento e a execução de ações direcionadas aos grupos de maior risco.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstrou que apesar dos dados terem mostrado que houve redução no quantitativo de óbitos por causas externas no período estudado, ainda são altas as taxas relacionadas a essa causa de mortalidade.

Assim, acredita-se que as informações aqui apresentadas podem servir de incentivo para discussões futuras acerca da necessidade de medidas preventivas das causas externas, com consequente prevenção de mortes precoces, diminuindo, portanto, o impacto econômico dos custos com hospitalizações e das perdas de vida produtiva. Além disso, este estudo mostrou a importância dos profissionais da saúde, especialmente do enfermeiro, nas atividades comunitárias, por intermédio de práticas educativas, para o enfrentamento e prevenção dessa problemática.