Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Iniciativa HEARTS-OPAS/OMS uma proposta para qualificação do cuidado as doenças cardiovasculares a partir da atenção primária em saúde no Sistema Único de Saúde. .
Rafael Dall Alba, Elisa Prieto, Antonio Ribas

Última alteração: 2022-01-31

Resumo


A iniciativa HEARTS é uma ação coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que conta com a participação ativa de stakeholders como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a Iniciativa Resolve to Save Lives, a Sociedade Internacional de Hipertensão e Nefrologia, a Liga Mundial de Hipertensão e Federações Mundiais de Diabetes e Coração. Para a região das Américas cabe ao Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Organização Pan-Americana da Saúde (NMH/OPAS) o papel de liderar a implantação e implementação do HEARTS, divulgando as melhores práticas para a prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares (DCV) com o objetivo de impactar positivamente sobre a carga atribuível dessas doenças e avançar em direção ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030. Esse processo parte da cooperação técnica com as autoridades sanitárias dos países, buscando integrar-se de maneira harmoniosa e progressiva aos serviços de saúde já existentes para promover a adoção das melhores práticas globais de prevenção e controle de DCV, e melhoria do desempenho dos serviços por meio de melhor controle da hipertensão (HAS), diabetes (DM) e promoção da prevenção secundária com ênfase na Atenção Primária à Saúde. Hoje se encontram aderidos a iniciativa mais de 21 países para incluir 1,045 centros de saúde em toda a Região das américas. O Brasil tem um potencial de implementação expressivo com mais de 44 mil unidades de saúde na atenção primária configurando-se como um membro estratégico para a iniciativa.

É importante destacar que tanto no Brasil, nas Américas e em todo mundo, sofrem com as consequências sociais, financeiras e sanitárias que as DCV causam. No maior país da América do Sul, as DCV tem sido a principal causa de morte e representam uma porcentagem substancial de todas as hospitalizações. Em 2016, por exemplo 31% de todas as mortes foram ocasionadas por Doenças Cardiovasculares, com ênfase para as doenças isquêmicas do coração (10%) e as doenças cerebrovasculares (30%). As evidências mostram também que os gastos com as DCV chegam próximo a 1% do PIB nacional onerando o sistema de saúde e o Estado. Para além da ampla dimensão territorial, o Brasil é uma nação com relevantes desigualdades socioeconômicas, uma situação que inevitavelmente está relacionada com maior mortalidade por doenças não transmissíveis, especialmente DCV. Apesar do impacto positivo na redução da mortalidade das DCV a partir das ações conduzidas nas últimas décadas pelo SUS, nos últimos anos vemos uma retomada no  aumento na incidência da mortalidade incrementada pelo cenário da pandemia de Covid-193. É necessário destacar que as DCV se configuram como um fator de risco importante para o agravo e morte causado pela COVID-19. Até dezembro de 2021 a Sars-CoV-2 havia causado a morte de mais de 600 mil pessoas e gerado uma sobrecarga jamais dantes vista na história do SUS, requisitando ajustes e reconfigurações importantes em todos os níveis de atenção do sistema para que o mesmo conseguisse amparar a população.

Essa reorganização súbita do sistema impacta em todas as frentes, incluindo no cuidado às DCV. A reorientação dos serviços de saúde para controlar e combater a pandemia infelizmente tem contribuído para o represamento da demanda de DCV e o impacto sanitário já é observado pelas equipes de saúde.

Portanto as estratégias de promoção da saúde e prevenção dessas doenças devem ser priorizadas e fortalecidas nas agendas de governo e planos nacionais, estaduais e municipais de saúde. Respondendo a esse desafio, o HEARTS a partir de seu acrônimo apresenta módulos estruturantes para enfrentamento das DCV, sendo eles:

-H Hábitos Saudáveis: controle de fatores risco para promover a adoção de estilos de vida saudáveis - modulo com forte ligação com a promoção da saúde, com o fortalecimento das estratégias de nutrição, atividades físicas, autocuidado e empoderamento dos pacientes.

-E Evidências: protocolos para padronizar a abordagem clínica no manejo da HA e diabetes – revisão e simplificação dos protocolos clínicos pra o manejo da hipertensão e diabetes.

-A Acesso: medicamentos, tecnologia e gestão de insumos – revisão do arsenal medicamentoso, atualização e padronização dos dispositivos e técnicas para mensuração da pressão arterial.

-R Risco: estratificação e manejo do risco cardiovascular – estruturação e implementação de uma ferramenta de risco cardiovascular para dar suporte a clínica e melhorar estratificação da população.

-T Trabalho em equipe: organização de cuidado em equipes multidisciplinares – compartilhamento de tarefas e condutas clínicas (Brasil com uma grande oportunidade de valoração dos agentes comunitários de saúde).

-S Sistema: Indicadores e instrumentos padronizados e avaliação de resultados – inserção de informações chaves nos sistemas de informação e protocolos clínicos adaptados a fim de conseguir gerar resultados para a equipe e gestores dos diversos níveis.

Disponibilizando também módulos específicos de implementação e controle do diabetes.

Ressalta-se que esses módulos são adaptáveis aos contextos dos países e regionalidades e necessitam do envolvimento dos atores estratégicos para estruturação e implementação.

Nos países que implementaram a iniciativa temos evidências do aumento significativo da taxa de hipertensão controlada na população, além da otimização e simplificação de protocolos clínicos, padronização de aparelhos e técnicas para a aferição da pressão arterial, atualização dos medicamentos, bem com a restruturação do trabalho de equipe.

Dentre as ofertas do HEARTS são ofertados suporte técnico a partir de especialistas de renome mundial dentro de cada módulo para orientar a adaptação e implementação dos projetos locais. Além disso estão sendo adaptados cursos para os profissionais de saúde, atualizando desde aspectos clínicos como os protocolos e a organização da equipe e estratégias de implementação.

No Brasil, a iniciativa HEARTS teve início oficialmente a partir da adesão pelo Ministério da Saúde da Saúde. Disparando a construção da Câmara Técnica Nacional (CTN) que reúne representantes das Sociedade Científicas, tais como as Sociedades de Cardiologia, Hipertensão, Diabetes, Medicina de Família e Comunidade e Acidente Vascular Cerebral, servidores e técnicos de coordenações e departamentos do Ministério da Saúde, além de representação da sociedade civil organizada. Outro movimento importante está sendo o fortalecimento de parcerias diretamente com as Secretarias de Saúde, principalmente no âmbito Estadual. Almeja-se disparar e formalizar um processo de adesão em 2022 que, a priori, contemple todas as regiões geográficas do país, abarcando municípios e Unidades Básica de Saúde que tanto estejam em regiões de alta vulnerabilidade social, quanto tenham capacidade de gestão para gerar impacto e escalonamento da iniciativa no território brasileiro.

A formalização da entrada dos municípios e a definição das equipes de Saúde da Família e Unidades Básicas de Saúde que irão compor a iniciativa HEARTS-Brasil é a principal prioridade para 2022. Assim o HEARTS se configura como uma janela de oportunidade de enfrentamento das DCV e necessita do apoio de todos os entes federativos, gestores e trabalhadores do SUS para qualificar o cuidado e os serviços. A OPAS coloca-se a disposição para apoiar os territórios interessados na implementação da proposta.