Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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COVID-19: a imagem da morte no contexto da Saúde Pública no Amazonas
Nara Esquivel, Francileide Bindá

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


APRESENTAÇÃO

Diante do cenário pandêmico provocado pela COVID-19 (coronavírus disease) desde janeiro de 2020, considerou-se, dentre os vários aspectos de reflexão que este texto trouxe, o tema da exploração da imagem da morte pela doença, a partir de registros fotográficos e vídeos (jornalísticos ou não) que dividiram a opinião pública e evidenciaram as fragilidades da Saúde Pública, bem como motivaram intensos debates sobre a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) no enfrentamento da pandemia. A publicação de imagens durante a pandemia foi notoriamente explorada ao extremo, expondo, de forma sensacionalista, a dor e o desespero daqueles que enfrentaram a face mais cruel dessa doença: o sofrimento no isolamento hospitalar e a morte solitária.

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a exploração da morte na pandemia de COVID-19, através do uso de imagens, publicização das fragilidades e potencialidades da saúde pública diante da emergência e desafios. A literatura utilizada para fundamentar tais reflexões, pautou-se em artigos científicos e reportagens que tratavam especificamente sobre a pandemia no contexto amazônico, além de referências bibliográficas que nos deram embasamento para a abordagem da imagem na construção argumentativa deste texto

 

DESENVOLVIMENTO

O alerta mundial emitido no final de dezembro de 2019 sobre os vários casos de pneumonia em Wuhan (China) trouxe uma nova doença causada pelo beta-coronavírus Sars- CoV-2 denominada COVID-19 (coronavírus disease), a qual foi declarada Pandemia mundial pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março de 2020.

As imagens produzidas durante a pandemia de COVID-19 e publicadas não trazem corpos expostos, dilacerados, amputados ou violentados, entretanto, as imagens captadas pelas diversas lentes chocaram por retratar câmaras frigoríficas em frente aos hospitais que acondicionariam os corpos das vítimas da doença ou por registrarem doentes e cadáveres compartilhando o mesmo ambiente dentro dos hospitais.

As imagens jornalísticas das covas coletivas abertas para sepultar aqueles que morreram, muitas vezes de forma solitária e que não puderam ter o ritual de despedida, levando mais dor às famílias era um dos retratos da pandemia no município de Manaus.

Igualmente chocantes foram as imagens de profissionais de saúde nas unidades hospitalares realizando a manobra mecânica de oxigenoterapia em virtude da falta de oxigênio hospitalar. Mas estes profissionais eram poucos, exaustos e angustiados diante da missão impossível de salvar a todos, no dia 14 de janeiro de 2021, quando a capital do Amazonas teve seu sistema de saúde em colapso, e vidas em estado grave de COVID-19 foram a óbito por asfixia. O desespero das famílias foi registrado e divulgado massivamente nos meios de comunicação.

Destaca-se, ainda, que a exploração das imagens de pessoas mortas pela COVID-19 também foram exploradas   pela polarização política que vivenciamos no país, na qual, o negacionismo e a ideologia produzem a morte devido às decisões necessárias para o enfrentamento da covid.

O aumento exponencial de casos de COVID-19 sobrecarregou e colapsou os sistemas de saúde dos países no mundo todo.           É nesse cenário que o Amazonas se destaca com sua dinâmica particular vivenciada no enfrentamento à pandemia, principalmente no pico da primeira e segunda onda da COVID-19, quando as notícias e imagens divulgadas nacional e internacionalmente, evidenciaram, sem censura, a agonia da morte e as fragilidades do sistema de saúde local.

Além das fragilidades na condução das respostas e estratégias para a pandemia, o Amazonas teve que lidar com a má gestão dos recursos público destinados para o seu enfrentamento e os escândalos de corrupção noticiados na mídia, sendo expressa por um cenário caótico nos Serviços de Pronto-Atendimentos (SPA) e Hospitais lotados, culminando no colapso do sistema de saúde quando houve a falta de oxigênio hospitalar em toda a Rede do Estado no dia 14 de janeiro de 2021.

Nos dados oficiais divulgados no Portal da FVS/AM sobre os casos confirmados de COVID-19 no Amazonas de março/2020 a março/2021, onde foram registrados 36.123 mil casos no pico da 1ª onda em abril/2021, e 66.281 mil casos no pico da 2ª onda em jan/21, observa-se um agravamento do cenário pandêmico por vários fatores, um dos quais foi citado na reportagem da BBC News, publicado em 22 de abril 2020.

As reportagens e imagens daquele momento, não expressam somente o terror da contaminação e a dor das mortes por COVID-19, mas evidenciam também os limites e equívocos da gestão pública na abordagem e condução divergentes sobre entre as esferas Federal, Estadual e Municipal das estratégias de enfrentamento da pandemia.

Destaca-se, ainda, a demora nas negociações para a aquisição das vacinas e, mesmo com posicionamento inicial do Governo Federal que propagava a imunidade de rebanho e colocava em questão a credibilidade e eficácia dos imunizantes, culminou no aumento do contágio e letalidade do vírus, principalmente na segunda onda.

Sob o olhar da população já fragilizada pelo contexto em si, o Estado foi sendo desvelado em suas ações interventivas mal ajustadas (omissões, negacionismo, corrupção, entre outras).

RESULTADOS

As imagens e relatos sobre a tragédia da morte na pandemia causaram comoção e espanto frente aos noticiários, muitas vezes sob efeito de questionamentos acerca da ética em transformar a dor e sofrimento pelas mortes por COVID-19 em imagens, ou ainda, se seria oportuno divulgá-las, como uma forma de provocar o debate sobre o caos provocado por uma doença tão devastadora e traiçoeira, agravado pela ineficiência das estratégias do poder público.

As imagens (jornalísticas ou não) da pandemia trouxeram o terror às nossas casas, conflitos em nossas mentes e um desejo sobre-humano de que aquilo tudo cessasse, como tentado inutilmente findar um pesadelo ao forçar o acordar.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a pandemia tomou contornos particulares, vivenciados diferentemente nas várias regiões do país.. Como resultado, passamos a ser o segundo país com o maior número de mortes por COVID-19. Quando este ensaio foi escrito, o cenário da COVID-19 já havia mudado em todo o país, devido ao avanço da imunização, contudo as marcas da pandemia, deixou um rastro de quase 600.000 mortes, destas mais de 13.000, só no estado do Amazonas, desde a confirmação do primeiro caso, em 13 de março de 2020.

Diante dessa difícil realidade, é interessante observar o quadro que foi sendo delineado sobre a pandemia no país, a partir da exploração das imagens da morte. Em torno desse tema, o governo, principalmente nos níveis federal e estadual tiveram suas gestões analisadas, avaliadas e duramente criticadas. Na pauta dos noticiários diariamente o número de mortes foi contabilizado e sua vinculação diretamente creditada na omissão da gestão pública.

Portanto, é possível verificar que a imagem da morte na pandemia de COVID-19 em meio à crise sanitária mundial evidenciou não só a fragilidade da gestão dos diversos sistemas de saúde, mas também, as subjetividades e as histórias de vidas das pessoas, cuja dor da perda fazem emergir com mais força a nossa própria humanidade, incentivando-nos à sensibilidade e solidariedade com o outro, ao mesmo tempo em que nos provoca a pensar e refletir sobre o nosso papel como sujeitos políticos na consolidação da democracia no Brasil.