Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNA DE MULHERES NEGRAS NO BRASIL
Karina Telles Guimarães Carlos, Louise Paulo de Souza, Ingrid Barcelos Andrade, Miriam Marinho Chrizostimo

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


Na apresentação deste trabalho pensa-se na temática mortalidade materna entre as mulheres negras, sendo assim, busca-se o eixo de Saúde da População Negra, que é reconhecido na agenda do Ministério da Saúde como eixo prioritário para pesquisas. Assim, dentro desse eixo, destaca-se a necessidade de avaliação de estratégias para a redução da mortalidade materna dentre as mulheres negras. Diante desse contexto, considera-se relevante a busca de novas perspectivas sobre o assunto, o que ressalta o objeto deste estudo: redução da mortalidade materna de mulheres negras. A relevância está na possibilidade da discussão para a construção das mudanças positivas permanentes para a realidade observada. Com esse pensamento, o problema decorre do como a política pública pode influenciar na redução da mortalidade materna no contexto da mulher negra, levando a questão norteadora: quais são as estratégias utilizadas para a redução da mortalidade materna entre as mulheres negras? Bem como, o objetivo do trabalho é discutir sobre a realidade da mortalidade materna da população negra no Brasil com avaliação das possíveis estratégias para a redução desses casos. O desenvolvimento deste trabalho foi realizado no período de novembro de 2021 a janeiro de 2022, por meio da pesquisa integrativa com abordagem qualitativa . Ressalta-se que para a realização desta pesquisa foram percorridos os seguintes passos, a saber: 1) identificar o tema e formular a questão norteadora; 2) estabelecer critérios para inclusão e exclusão dos estudos; 3) definir as bases de dados da pesquisa; 4) definir os recursos da busca bibliográfica; 5) definir informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 6) avaliar os estudos incluídos; 7) interpretar os resultados; e 8) apresentar a revisão. Assim, com o tema definido e a questão norteadora elaborada, os critérios de inclusão e exclusão foram estabelecidos, os quais estão aqui mencionados respectivamente:  atendimento aos descritores selecionados; produções científicas que abordassem o tema do estudo; e produções que discutem questões relacionadas à educação em saúde e ao Sistema Único de Saúde (SUS). Os critérios de exclusão: artigos incompletos; produções que não abordassem cenário brasileiro; produções científicas que contivessem enfoques regionais; e as que se repetissem nas bases de dados. As bases de dados selecionadas fazem parte do Portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) do Ministério da Saúde (MS), sendo elas a Literatura Latino-Americana  e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e o Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE). Para os recursos de busca não foram utilizados filtros, o que deixou a pesquisa livre e a qualificou para o próximo passo que é a leitura seletiva. Para a busca, utilizou-se o operador booleano AND, da seguinte forma: mortalidade materna AND racismo; população negra AND mortalidade materna; enfermeiras e enfermeiros AND mortalidade materna; formação profissional AND mortalidade materna. Posteriormente a esta etapa foi realizada a leitura seletiva das produções científicas que emergiram dessa busca: mortalidade materna AND racismo (81); população negra AND mortalidade materna (35); enfermeiras e enfermeiros AND mortalidade materna (123) formação profissional AND mortalidade materna (42), o que totalizou 281 produções. Dessa forma, houve a definição das produções selecionadas, das informações extraídas dos estudos e a avaliação dos incluídos no mesmo, juntamente à interpretação dos resultados e a apresentação da revisão. Como resultado, foram selecionados seis artigos científicos, que estão centrados nas bases de dados: LILACS (3), BDENF (2) e MEDLINE (1). Os impactos que o estudo evidenciou foram percebidos nos resultados encontrados na pesquisa, que são: as questões abordadas ao longo do trabalho, como equidade de gênero e raça no acesso à saúde entre outros âmbitos. É inegável que com o passar dos anos há alguns avanços, sendo o Sistema Único de Saúde (SUS) e as políticas públicas que o envolvem, como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) e a Política Nacional de Humanização (PNH), que juntas corroboram para a saúde se tornar humanizada, o que propõe a visão holística do indivíduo atendido, com auxílio do entendimento das singularidades do indivíduo e necessidades. Apesar de eficazes, essas medidas sozinhas não se mostram suficientes para suprir certas demandas. A partir desse estudo foi visto que a mortalidade materna no Brasil é um problema grave de saúde pública que atinge principalmente algumas camadas sociais específicas e poderia, por muitas vezes, ser evitado. Quando se fala sobre mortalidade materna de mulheres negras, a temática se torna complexa, visto que a interseccionalidade de minorias sociais associadas a essa parcela da sociedade requer estudo aprofundado sobre as questões de gênero e raciais. Analisando criticamente os artigos encontrados, percebe-se a imersão do Brasil em um racismo estrutural que impede, inclusive, a obtenção de dados a respeito desse tema. Essa realidade exprime a marginalização das mulheres negras e a necessidade de maior atenção a essa demanda. O registro de dados sobre essa parcela da sociedade é essencial para auxiliar na elaboração de estratégias para a redução da mortalidade materna de mulheres negras, por meio da fomentação de estudos científicos a partir desses dados, visto que só é possível obter resultados a partir de indicadores e informações para que se faça uma análise. Torna-se fundamental a desconstrução pessoal e coletiva a partir do reconhecimento dos mecanismos que racismo estrutural e institucional utilizam para marginalizar a população negra. Observa- se que esses dois aspectos funcionam como entraves na redução da mortalidade materna de mulheres negras, uma vez que excluem um dos princípios do SUS: a equidade. As diversas formas de racismo impedem que as autoridades, profissionais de saúde e população enxerguem essas mulheres como iguais e corrobora com atitudes consideradas absurdas. Tais situações evidenciam o distanciamento da equidade no sistema de saúde, uma vez que mulheres negras são impedidas a ter acesso à saúde frente ao racismo institucional e quando conseguem passar por cima disso, sofrem com a violência do racismo estrutural. Nas considerações finais afirma-se que, frente a esse cenário, o objetivo do trabalho foi alcançado, pois o mesmo discute sobre a realidade da mortalidade materna da população negra no Brasil, com avaliação das possíveis estratégias para a redução desses casos. Percebe-se como as políticas públicas podem influenciar na redução da mortalidade materna de mulheres negras,  bem como atuar na recuperação da autoestima a partir da educação em saúde de forma humanizada. Com isso, essa pode ser uma das saídas para auxiliar no combate à mortalidade materna de mulheres negras, visto que acolhimento humanizado nas unidades de saúde, baseado nas políticas públicas voltadas para essa demanda, tem a possibilidade de resgatar a equidade do cuidado.