Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TECENDO FIOS SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE: ENTRAVES E ESTRATÉGIAS PARA CONSOLIDAÇÃO
Renata fonseca Sousa Oliveira, Thais Paulo Teixeira Costa, Maria Aparecida Dias, Janete Lima de Castro

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


INTRODUÇÃO

As transformações ocorridas nas últimas décadas no mundo do trabalho decorrentes das inovações tecnológicas e organizacionais, modificou profundamente a estrutura produtiva, promovendo mudanças na organização, nas condições e relações de trabalho. No Sistema Único de Saúde (SUS), o processo de trabalho em saúde pressupõe um conjunto de ações de caráter individual e coletivo com vistas não só a efetivar mudanças no modelo de atenção, mas também de garantir ações desenvolvidas e coordenadas por gestores e trabalhadores com a finalidade de adequar a estrutura organizacional dos serviços de saúde em consoantes com os princípios basilares do SUS. No entanto, apesar dessa temática ser inserida em debate político-normativo do SUS, ainda é difundida de forma tangencial e se apresenta em constante processo de estruturação detendo de alguns entraves para a sua consolidação. Desse modo, conhecer as lacunas e dificuldades do processo de trabalho em saúde, a partir da emergência das vozes e olhares de atores sociais do SUS, significa tecer fios para uma discussão sobre a realidade do cotidiano dos serviços públicos de saúde, na perspectiva de se pensar estratégias para o fortalecimento da gestão do trabalho em saúde.

OBJETIVO:

Identificar entraves e ações estratégicas para enfrentamento dos problemas relacionados ao processo de trabalho que se apresentam nos serviços públicos de saúde, sob a prisma de trabalhadores gestores do SUS.

 

MÉTODO DO ESTUDO:

Trata-se de uma estudo documental de abordagem qualitativa. O estudo tem caráter descritivo, e é parte integrante da pesquisa “Gestão do Trabalho em Saúde: em busca do cálice não tão perdido”, promovida pelo Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os documentos objeto de pesquisa foram os Projetos de Intervenção resultantes dos trabalhos de conclusão do curso (TCCs) de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde para as regiões Sul e Sudeste, promovido pela UFRN em parceria com o Ministério da Saúde. O citado curso teve como propósito qualificar as equipes gestoras da área da Gestão do Trabalho e da Educação nas instituições de saúde. A equipe gestora foi compreendida por profissionais responsáveis pelas funções de assessoramento, coordenação ou gerência de recursos humanos/gestão do trabalho e da educação na saúde, em especial das áreas de gestão e de preparação de pessoal. Também foram contemplados: Secretários(as) de Saúde; diretores(as) de hospitais, gerentes dos distritos sanitários, gerentes de unidades básicas de saúde e das unidades de referência, diretores(as) dos escritórios das regionais de saúde. Para este estudo, foram analisados projetos de intervenção que abordavam problemas relacionados à Processos de Trabalho em Saúde, pertencentes a região Sul e Sudeste do país. Utilizou-se a análise temática de conteúdo proposto por Minayo (2013). O estudo seguiu as diretrizes da Resolução n.º 466/2012, que rege as pesquisas envolvendo seres humanos, com a devida aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – UFRN sob o número CAAE: 35108920.7.0000.5292.

RESULTADOS

Foram analisados 291 projetos de intervenção, destes 74 relacionaram ao tema processo de trabalho em saúde. No que concerne aos problemas relacionados a essa temática, observou-se que, por vezes, os fluxos de trabalho se apresentam de forma desorganizada; que os processos de trabalho, em muitos casos, não são resolutivo; que é possível identificar fragilidade na integração entre as equipes, bem como ser corriqueiro o manuseio de sistema de informação de forma ineficiente. Conforme pode ser observar nos documentos analisados: “Necessidade de reorganizar processos e adequar as ações e os serviços de saúde aos recursos disponíveis, de forma a otimizar tempo e recursos e melhor atender a população.”; “A descontinuidade no processo de trabalho ao longo do tempo, com impacto significativo nos indicadores de saúde, nos resultados alcançados relacionados à oferta de ações e serviços de saúde e na qualidade e satisfação da atenção à saúde prestada à população.”; “Os servidores apresentam problemas de convivência e não conseguem administrar bem suas diferenças, as más relações interpessoais têm o grande poder de comprometer todo o ambiente e o clima organizacional”; “dificuldade de se trabalhar em equipe, à uma comunicação ineficaz, aos conflitos no trabalho e às situações de agressividade e violência que surgem no ambiente laboral.” Como estratégia que direcionem para um alinhamento das ações para superar tais problemáticas, destacam-se a necessidade de (re)organizar os processos de trabalho a partir do desenvolvimento de ferramentas que proponham mudanças aos serviços de saúde, tais como: padronização de protocolos, utilização de ferramentas de planejamento e organização, capacitações e reorganização de fluxos gerenciais. Essas ações estão baseadas nos desafios que envolvem a gestão do trabalho no SUS e na necessidade em se dedicar maior atenção aos processos da gestão. Desse modo, estratégias como essas são iminente para se implantar ferramentas que proponham mudanças não só nos serviços de saúde, como também viabilizem uma mudança de prática e consequentemente promova uma melhor organização no serviço.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo possibilitou mostrar, a partir da investigação dos projetos de intervenção do Curso de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde os entraves nos processos de trabalho em saúde que se apresentam no cotidiano de gestores e trabalhadores do SUS, como também possíveis estratégias para se almejar avanços. A vista disso, compreende-se que processos de trabalho em saúde são complexos e singulares, e muitas vezes são organizados de forma rígida e automatizada o que acabam gerando consequências na qualidade da prestação de serviços e satisfação do usuário. Para mais, o incremento de novos meios de trabalho, com o propósito de superar as fragilidades das práticas em saúde, mediante a incorporação das tecnologias da informação, estímulo ao trabalho em equipe, espaços de trabalho coletivos, visando, sobretudo, redefinições sobre processo de trabalho em saúde, devem fazer parte da agenda dos gestores do SUS. Por fim, e dada a relevância dos achados, espera-se que o estudo possa subsidiar no (re)formulação de políticas coerentes com a realidade vivida por aqueles que trabalham nos serviços públicos de saúde, permitindo um maior direcionamento das intervenções dos gestores públicos de saúde nas tomadas de decisões, como também aguçar o fomento de uma maior articulação do serviços públicos de saúde com instituições formadoras, de modo a desenvolver e aperfeiçoar os processos de trabalho em saúde.