Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CARTOGRAFIAS DA RESISTÊNCIA: MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA, SAÚDE MENTAL E PANDEMIA
Fernanda Carla de Moraes Augusto, Flávia Liberman, Luciana Vieira Caliman

Última alteração: 2022-02-20

Resumo


Este trabalho pretende apresentar e discutir sobre uma pesquisa em desenvolvimento. A proposta é de uma cartografia da resistência de mulheres em situação de rua, de suas estratégias de enfrentamento a violações de direitos e violências a que são expostas, e com suas narrativas de vida, problematizar as políticas públicas, em especial de saúde mental e atenção psicossocial, analisando elementos que direcionem no sentindo de sua potencialização, na perspectiva de dimensões macropolíticas e micropolíticas. As configurações do capitalismo, atravessadas por relações de poder, produtoras de miséria, exploração e assujeitamento, provocam a contínua necessidade de criação de estratégias de resistência, em processos de subjetivação instauradores de novos modos de existência, na potência política da vida. A participação e o protagonismo da população em situação de rua e de seus movimentos sociais na elaboração e no controle social de diferentes políticas e serviços intersetoriais, articulados em rede, orientados ao seu atendimento e garantia de direitos, é fundamental. A Atenção Psicossocial no SUS implica em uma contínua criação conjunta de estratégias, a partir das singularidades dos territórios, nos quais a pandemia de Covid-19 veio evidenciar problemáticas complexas, e a necessidade de ações de saúde mental, atenção psicossocial e proteção social em situações de emergências e calamidades. Elementos imprescindíveis de análise perpassam as relações assimétricas de poder entre os gêneros e a interseccionalidade. Os objetivos buscam cartografar estratégias de resistência de mulheres adultas em situação de rua; acompanhar as possíveis relações estabelecidas por elas com organizações coletivas e seus efeitos; problematizar os atravessamentos de políticas públicas nas singularidades de vida e as implicações da pandemia de Covid-19; pesquisar pontos de rupturas necessárias em práticas e discursos instituídos de serviços e profissionais de saúde; analisar linhas que atravessam e compõem a coexistência da macropolítica e da micropolítica, na produção de realidade psicossocial, e as conexões promotoras de transformações em processos de subjetivação. A cartografia compõe um método de pesquisa-intervenção, de coemergência de teoria e prática, em um plano da experiência, de redefinição de fronteiras entre subjetividade e objetividade, entre sujeito e objeto, com a presença de ferramentas conceituais e operadores analíticos. A experiência cartográfica acompanha processos, intervém na realidade, aposta em processos de mudança de si e do mundo. Esta pesquisa propõe promover encontros com as mulheres participantes, que podem ser individuais e em grupo, com perguntas-guias para entrevistas abertas, e com o uso de literatura (leitura conjunta de textos, contos, poesias, músicas), sobre temáticas relacionadas, para a emergência de narrativas de vida, para produzir movimentos, intervenções, aberturas à experiência e a linhas de criação para outro território existencial possível. Uma produção conjunta de conhecimentos, com escuta e valorização de histórias, atenta a devires-minoritários. A cartografia de paisagens psicossociais acompanha e se faz simultaneamente à formação de outros mundos, em uma perspectiva ético-estético-política comprometida com transformações sociais e com a potencialização da vida.