Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A presencialidade na formação em saúde: relato de experiência de cursos de Psicologia no RS e SC
Sônia Maria Lemos, Eliz Marine Wiggers, Gisele Dhein

Última alteração: 2022-02-02

Resumo


Apresentação: A presencialidade na formação dos profissionais de saúde já foi evidenciada em documentos do Conselho Nacional de Saúde (CNS), bem como entidades ligadas às profissões. Neste relato de experiência o foco será no curso de Psicologia, que por meio de campanhas da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP) e do Conselho Federal de Psicologia (CFP) têm reiterado o posicionamento do CNS: a Psicologia se faz com presença. Assim, este trabalho objetiva relatar as experiências de formação de profissionais de saúde vivenciadas em duas universidades de características distintas. Explicitam-se as experiências vivenciadas em uma universidade comunitária do Estado do Rio Grande do Sul e um Centro Universitário privado do Estado de Santa Catarina. Desenvolvimento do trabalho: Na Universidade do Vale do Taquari - Univates - Lajeado/RS as práticas de estágio, no ano de 2020 e 2021 foram sendo adaptadas conforme o campo de estágio e seguindo a publicação “Práticas de estágios remotos em Psicologia no contexto da pandemia da Covid-19” (CFP, ABEP, 2020). Até junho de 2020 as práticas foram suspensas e recuperadas posteriormente. Em um primeiro momento, tanto nos estágios Básicos quanto nos Específicos, realizou-se - Coordenação de Curso, Coordenação de Estágios, Orientadoras acadêmicas, Supervisoras locais e estagiárias - um diagnóstico situacional de cada campo de estágio, avaliando riscos e benefícios da presença de estagiários nos locais. Em mãos desse diagnóstico, teve-se que, por exemplo, encerrar as atividades em alguns locais e deslocar as estagiárias a outros campos. Todas estas movimentações sempre foram pactuadas com todas as envolvidas, colocando-se o cuidado à saúde e, posteriormente, questões pedagógicas em análise. Passados quase dois anos de experiência de estágio num cenário de pandemia de SARS-Cov-2, observamos que muitas práticas psicológicas - independente se locais públicos ou privados - sofreram modificações, seja na organização do setting, nos protocolos de atendimento ou, até mesmo, nas demandas que chegam à psicologia. No Centro Universitário Avantis – Uniavan - localizado em Balneário Camboriú - SC se vivenciou nos anos de 2020 e 2021 no curso de graduação de Psicologia a defesa inegociável, no contexto da Pandemia, de que os estágios e práticas fossem realizados presencialmente. Destacam-se algumas experiências práticas, sendo que o ensino, neste período, foi realizado de modo remoto emergencial, considerando a excepcionalidade da pandemia de SARS-Cov-2. No sétimo semestre do curso foram abordadas no Estágio Básico Interdisciplinar as diferenças entre prevenção e promoção de saúde, a clínica peripatética e os aspectos éticos da atuação profissional do psicólogo. Desse modo, como prática do Estágio Básico os acadêmicos foram mobilizados a conhecer presencialmente, quando o contexto assim permitia, diferentes serviços de saúde dos Municípios que compreendem a região do litoral catarinense, e conhecer a prática de pelo menos dois profissionais de saúde distintos. Este Estágio Básico Interdisciplinar foi organizado com o intuito de ser subsídio para que os acadêmicos pudessem estar preparados para as experiências do Estágio Específico Supervisionado. Já no Estágio Específico Supervisionado, vivenciados nos oitavo, nono e décimo semestres da graduação de Psicologia, os acadêmicos puderam estar atuando no contexto da atenção básica e também no contexto hospitalar, dando suporte à saúde mental de profissionais de saúde, sendo que esta demanda surgiu destes contextos ao Centro Universitário. Como também vivenciaram na atenção primária à saúde a prática de acolhimentos psicológicos aos usuários do SUS, e em alguns casos, de acordo com a disponibilidade da pessoa acolhida psicologicamente, a articulação para o encaminhamento para a psicoterapia no SUS, ou no Serviço Escola do Centro Universitário. Estas práticas de Estágio Específicas Supervisionadas foram vivenciadas no Sistema Único de Saúde dos Municípios de Camboriú e de Balneário Camboriú. Resultados e/ou impactos: Na Univates, as estudantes puderam/estão podendo experienciar novos protocolos sendo elaborados, bem como efeitos biopsicossociais de uma pandemia “em tempo real”, estudando e aprendendo junto com suas orientadoras e supervisoras. Lajeado localiza-se no Vale do Taquari, uma região com cerca de 40 municípios, dos quais 90% possuem população inferior a 10 mil habitantes. As estudantes, na sua maioria, residem nestas localidades. Optamos, avaliando os campos de estágio e levando em consideração as questões de biossegurança, que neste período o ideal seria as estagiárias permanecerem em seus municípios de origem, o que tem sido avaliado como positivo. As estudantes puderam/estão podendo contribuir com o cuidado em seus municípios, corroborando com a características comunitárias e o papel regional da universidade. Na Uniavan, os impactos das experiências vivenciadas demonstram que os alunos se surpreendem com as possibilidades da clínica peripatética, a qual oportuniza criar, ser uma clínica da escuta ao caminhar, fora do espaço convencional da sala com sofá ou do divã, e ser uma clínica dialógica em qualquer espaço. Isso pôde proporcionar autonomia ao acadêmico, de modo supervisionado com as orientadoras, e o entendimento de que pode criar, mas para isso demanda estar sustentado de modo teórico, e compreender o método que realiza e por quê. Os aspectos éticos e as resoluções como subsídio para a prática percebe-se que proporcionam segurança e possibilitam o protagonismo ao acadêmico tanto no Estágio Básico Interdisciplinar, como no Estágio Específico Supervisionados. Assim, se pode, mesmo na pandemia de SARS-Cov-2, notar a potência da articulação entre ensino, serviço e comunidade, apesar de os subsídios teóricos e os diálogos terem sido realizados de modo remoto. Considerações finais: A pandemia de COVID-19 traz consigo inúmeros desafios para os diferentes contextos, realidades e setores das sociedades. As experiências na realização das práticas e estágios em Psicologia nas duas universidades apontam questões importantes e propõem uma reflexão profunda sobre a formação em saúde. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) no ano de 2020 e 2021 produziu documentos com recomendações e pareceres técnicos que orientaram as Instituições Ensino Superior (IES) para a realização das atividades práticas e estágios de modo presencial, pois há um entendimento que cuidado em saúde se faz na presencialidade, é relacional. Esses documentos foram balizadores e contribuíram na construção das recomendações da ABEP para os cursos de Psicologia brasileiros. Portanto, a presença dos estudantes e professores nos serviços, em tempos de pandemia, era e é fundamental para que se possa compreender e intervir em situações de emergência sanitária, como apresentado pelas experiências relatadas no presente trabalho. A tomada de decisão das entidades da Psicologia em seguir essa orientações do CNS possibilitou uma aprendizagem única, ética e comprometida com as populações atendidas. A defesa da presencialidade na formação em saúde é a garantia de implicação e compromisso social com o cuidado em saúde e o atendimento dos princípios e diretrizes do SUS.