Apresentação: No Brasil, a Atenção Primária à Saúde (APS), porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS) e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde do SUS, estabelece ferramentas que possibilitam a acessibilidade, o acolhimento dos usuários e a responsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde, incorporando uma lógica de organização e funcionamento da atenção básica adequada às diversas realidades do território nacional e com as diretrizes e princípios do SUS como universalidade, integralidade e equidade. Dada à importância de compreender e sistematizar os conhecimentos produzidos sobre APS, o objetivo deste estudo foi analisar o perfil das produções científicas sobre APS no contexto brasileiro por meio de técnicas bibliométricas delimitando o padrão de crescimento dos artigos primários e secundários publicados nos periódicos nacionais e internacionais, a ocorrência das suas palavras-chave, as características de autoria e das fontes de publicação. Desenvolvimento: realizou-se um estudo bibliométrico descritivo, com abordagem quantitativa de base documental. Para a coleta de dados, no mês de março de 2021, foi utilizado o portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), além de bases de dados como Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), PubMed, Scopus e Web of Science. Para recuperar os documentos foi construída a estratégia de busca utilizando os DECS/MESH (Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings) e os sinônimos na língua inglesa para “Saúde Pública” e “Atenção Primária à Saúde” e “Brasil/brasileiros”. Os campos de busca utilizados foram título, resumo e palavras-chave. Como critérios de inclusão para seleção da amostra: documentos tipo artigos primários e secundários referentes ao âmbito da APS brasileira, publicados nas línguas portuguesa, inglesa ou espanhola, sem restrição do ano de publicação, disponibilizados na íntegra para acesso online. Como critérios de exclusão, publicações de estudos em modelos não humanos, tipos de documentos como livros, capítulos de livros, boletins, editoriais, comentários, conferências e notas. O processo de seleção foi realizado no software Rayyan que auxiliou o armazenamento, organização, eliminação de duplicatas e avaliação por pares. Para a inclusão das publicações realizou-se a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos artigos avaliando os critérios de elegibilidade estabelecidos. Esta etapa da triagem foi feita por pares, as divergências de seleção foram discutidas e resolvidas por consenso entre os avaliadores. Os documentos selecionados foram exportados para um banco de dados construído em Microsoft Office Excel com informações como título do artigo, ano de publicação, nome do autor principal, periódico e as palavras-chave, os sinônimos destas últimas foram identificados e integrados segundo os DECS/MESH. As unidades de análises foram os anos de publicação, as fontes, os autores e suas filiações e as ocorrências das palavras-chave utilizando estatística descritiva para calculo de frequências, além da utilização de indicadores bibliométricos respectivos. Resultados: A partir da utilização da estratégia de busca foram identificados 7.552 registros, sendo excluídas 1.443 duplicatas. Para leitura de título, resumo e palavras-chave foram selecionados 6.109 artigos, dos quais 3.632 foram excluídos por não corresponderem especificamente a APS no país. A amostra final foi composta de 2.477 publicações. Os primeiros registros datam de 1978. Na evolução temporal destes artigos identificam-se três períodos de tempo, evidenciando um progresso díspar entre eles: o primeiro, de 1978 a 2001, quando o quantitativo de publicações apresenta uma faixa de 0 a 3 documentos/ano, respondendo por apenas 1,1% (n=27) do total das publicações. O segundo período, de 2002 a 2009, com quantitativo entre 10 e 100 documentos/ano, correspondente a 11,87% (n=294) do total das publicações; enquanto 87,03% (n=2.156) restante estão concentrados nos últimos 12 anos, no período de 2010 a 2021, apresentando acima de 100 documentos/ano. Evidenciou-se um avanço importante a partir de 2006 no aumento progressivo das publicações, ano em que foi instituída a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Enquanto às fontes de publicação, 20 periódicos foram os mais representativos, contendo 56% (n=1392) publicações do total da amostra, 17 periódicos nacionais, sendo 12 deles vinculados a universidades públicas brasileiras. Pelo número de publicações, a nível nacional, destacam-se Ciência & Saúde Coletiva (15,1%, n=374), Cadernos de Saúde Pública (5,2%, n=130) e Physis: Revista de Saúde Coletiva (3,9%, n=97) e a nível internacional, Revista de Salud Pública (2%, n=51) e PloS One (1,3%, n=31). Pelo Fator de Impacto (FI) de 2020 segundo o Incites Journal Citation Reports (JCR) destacam-se PloS One (3.240), a Revista de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (2.106), Cadernos de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (1.632) e Ciência & Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) (1.336). Referente à caracterização da autoria, observa-se que 98% (n=2.428) dos artigos foram de múltipla autoria com média de cinco autores por publicação. Este resultado pode indicar grupos de pesquisa consolidados que trabalham este objeto de estudo. Baseada no primeiro autor, uma análise dos 10 pesquisadores mais produtivos na amostra, apresenta métricas do autor segundo o relatório de citações da Web of Science, com total de publicações entre 22 e 130 e total de citações entre 61 e 8176 com índices H entre 4 e 36; igualmente, evidencia-se que sete cientistas são da região sudeste (FIOCRUZ, UERJ, UFSC, USP), dois da região sul (UFSC, UFFS) e um da região centro-oeste (UNB), dados que podem sugerir a concentração regional da atividade científica como em outras áreas de conhecimento. Sobre a ocorrência das palavras-chave, em 2.477 artigos analisados foram identificadas 1.546 palavras-chave (PC) e o somatório das suas frequências contabilizaram 13.838. Do total, apenas 12% (n=186) das PC teve uma frequência igual ou maior a 10. As PC mais frequentes corresponderam a “atenção primaria à saúde” (n=1.232), “saúde da família” (n=480), “estudos transversais” (n=242), “estratégia saúde da família” (n=153), “saúde pública” (n=128), “atenção à saúde” (n=119), “sistema único de saúde” (n=115), “promoção da saúde” (n=113), “pesquisa qualitativa” (n=109), “centros de saúde” (n=107) e “pessoal de saúde” (n=106). No estudo se evidencia um conjunto representativo de PC associadas à avaliação da APS, produto de diversas ações para sua institucionalização nos últimos anos: “pesquisa sobre serviços de saúde” (n=77), “qualidade da assistência à saúde” (n=63), “avaliação de programas e projetos de saúde” (n=34), “avaliação em saúde” (n=37), “avaliação” (n=12) e “garantia da qualidade dos cuidados de saúde” (n=11), totalizando 234 ocorrências. Pela sua frequência, na última década, destacam-se as PC: “idoso” (n=173), promoção da saúde” (n=92), “saúde mental” (n=88), “acesso aos serviços de saúde” (n=83), “fatores socioeconômicos” (n=82), “educação em saúde” (n=70) e “saúde bucal” (n=70). Considerações finais: Evidenciou-se o incremento progressivo no quantitativo de publicações demonstrando o crescente interesse da comunidade acadêmico-científica neste campo e seu posicionamento na atividade científica no país, além da existência de redes de colaboração científica. O conjunto de PC apresentou a pluralidade temática que abrange a APS. O perfil das produções científicas estudadas apresenta a diversidade e crescente consolidação da APS brasileira.