Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-01
Resumo
A problemática do uso de álcool e outras drogas guarda relação com as suas consequências na saúde do usuário e na vida em sociedade, cujo enfrentamento deve envolver uma compreensão ampliada com base em dimensões socioculturais, biológicas, psicológicas, político-econômicas e antropológicas. Com efeito, a produção do cuidado integral aos usuários destas requer atuação da rede de atenção à saúde, iniciando-se pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), sendo orientado pelo acolhimento, formação de vínculo, buscando a responsabilização compartilhada da equipe multiprofissional. Nesse contexto, o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), reconhece que tem o potencial de ampliar o cuidado no território, porém ainda persistem práticas alicerçadas em preconceitos e estereótipos, o que demostra a necessidade da formação dos ACS para oferecer suporte às pessoas em uso de álcool e outras drogas. Este estudo tem por objetivo analisar o saber-fazer dos ACS Saúde sobre o cuidado aos usuários de álcool e drogas no território da ESF. Trata-se de uma pesquisa-ação colaborativa, desenvolvida junto numa Unidade de Atenção Primária à Saúde do município de Fortaleza, Ceará. Participaram nove ACS, considerado colaboradores e coprodutores de informações para o estudo. Como estratégia utilizada para coleta e produção das informações, foram realizados encontros reflexivos sobre drogas, os quais problematizaram conhecimentos, saberes e práticas. O diário de campo foi utilizado na pesquisa para registrar de forma sistemática todas as atividades realizadas. Os resultados foram organizados e analisados com base na análise de conteúdo categorial temática, numa perspectiva crítica. Evidenciou-se os ACS reconhecem o uso de álcool e drogas como um problema de saúde, embora ainda sinalizem um saber embasa em aspectos jurídico-morais e clínico-sanitários, desconsiderando as questões subjetivas que constituem os sujeitos, numa perspectiva mais ampla da vida em sociedade, que abrange dimensões políticas, sociais, culturais e econômicas. No seu fazer cotidiano, demonstram sentimento de pertencimento ao território e à comunidade, lugar onde mora e trabalha, tendo conhecimento sobre os problemas existentes naquele espaço. Denota-se que isto, por sua vez, facilita a construção de vínculos e as relações com os usuários e com as famílias. Sinalizam que a família pode ser aliada e unidade que também precisa ser cuidada. Neste sentido, buscam ampliar o acesso às equipes da ESF e aos demais equipamentos de saúde. Contudo, encontram desafios à execução do seu trabalho no território, os quais se relacionam ao estigma e preconceito com as pessoas que usam álcool e drogas, à violência e à continuidade do cuidado em saúde, muitas vezes devido à dificuldade de acesso aos equipamentos da rede de atenção. Mostra-se necessária a implementação de processos de educação permanente para esses trabalhadores, com ampliação da discussão sobre a problemáticas das drogas pelas equipes de saúde e o desenvolvimento de ações de prevenção mais abrangentes no território. Além disso, a ampliação do acesso dos usuários aos equipamentos de saúde, com acolhimento e escuta qualificada, primando-se pela redução de danos.