Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DAS DESCOBERTAS AOS DESAFIOS DO SANITARISTA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DO CAMPO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA PERSPECTIVA DO DESCONHECIDO
Alexsandro de Melo Laurindo, Amanda Rodrigues Lima dos Santos, Hariadny Ashilley Neves Clemente Saraiva, Joseane da Silva Ferreira, Mateus dos Santos Brito, Itamar Lages, Maria Bernadete de Cerqueira Antunes, Viviane Maria de Arantes

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


1- Apresentação

O Sanitarista é um profissional que, historicamente, tem sua atuação voltada para o fortalecimento da promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva. Podendo atuar em vários setores e espaços da saúde, desde a criação, articulação e implementação de políticas, programas de saúde, quanto em áreas como a epidemiologia, auditoria, vigilância em saúde e a gestão de sistemas e serviços de saúde para atuar frente ao fortalecimento e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Nota-se uma expansão nos cursos de graduação nos últimos anos em todo o país, com isso a necessidade de consolidação da profissão despertam algumas indagações, afinal, qual o papel no sanitarista nos serviços de saúde? O que esse profissional faz na atenção primária ou na gestão de serviços? Qual o diferencial deste profissional dentro de uma equipe multiprofissional? Diversos programas de residência e instituições do estado de Pernambuco discutem e defendem hoje a inserção do Sanitarista na Atenção primária enquanto um profissional base para o processo de trabalho multiprofissional, integral e equânime. Um deles é o Programa de residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase em Populações do Campo (RMSFC) da Universidade de Pernambuco (UPE), criado em 2015, por iniciativa de alguns movimentos sociais em um momento histórico-político de avanços da discussão da saúde pública e da saúde do campo. Os profissionais Sanitaristas que atuam na RMSFC acompanham e constroem Equipes eNASF-Ab na zona rural dos municípios de Caruaru e Garanhuns, localizados no agreste pernambucano. Com o objetivo de apoiar Equipes de Saúde da Família (eSF) as equipes não possuem espaço físico próprio e são volantes nos territórios que as mesmas cobrem. Logo esse relato tem por objetivo central apresentar possibilidades e desafios da atuação do Sanitarista na Atenção Primária a Saúde do Campo, no municipio de Caruaru-PE.

2- Desenvolvimento do trabalho

A Saúde Coletiva surge para romper com o paradigma de trabalho fragmentado, de um fazer saúde individualizado, do famoso “cada um dentro de sua caixinha”. O profissional Sanitarista é habilitado na perspectiva da interprofissionalidade, e colocado no campo do trabalho em equipe, buscando trazer à tona a importância e necessidade de uma sincronia mutua diante do fazer saúde. No entanto torna-se desafiante atuar nessa perspectiva, os conflitos externos do modo de trabalho e os conflitos individuais representam desafios diários. Frente a isto, como superar o desconhecido? Como reafirmar ou determinar no campo da prática de saúde, qual o seu processo de trabalho, qual o seu fazer dentro de uma equipe multiprofissional e no território? Apartir desses questionamentos uma possível estrátegia operacional é no cotidiano do processo de trabalho, investir no reconhecimento do papel do sanitarista através das experiências construídas em serviço junto a eSF, Secretarias Municipais de Saúde, Instituições e dispositivos sociais, e para a própria comunidade. Diante disso podemos destacar esse “fazer” em algumas frentes de processo de trabalho: 1) Atenção à saúde com base territorial; 2) articulação de redes intersetoriais e intrasetoriais; e 3) a reorganização do trabalho multiprofissional na APS. No que tange a primeira frente podemos destacar atividades, iniciativas e um fazer saúde de base territorial, estando presente na comunidade, dando suporte a casos e usuários que as equipes acompanham, desenvolvendo atividades de promoção, prevenção e vigilância popular em saúde, uso das Práticas Integrativas em Saúde, dando um ênfase as tecnologias leves como: o acolhimento, a criação de vinculo e o “estar com” enquanto estrátegia de compreensão do território através da garantia do acesso a serviços e dispositivos na rede. A segunda frente diz sobre as articulações que são necessárias para minimizar ou resolver problemas sociais e de saúde encontrado pela equipe nos territórios adscritos; seja na secretaria municipal de saúde, nas políticas de assistência, em instancias colegiadas como os conselhos de saúde, CRAS, CREAS, CAPS, associação de moradores, feira comunitária, igreja, delegacia de polícia, conselho tutelar, entre outros. A terceira frente de trabalho diz respeito às conduções e priorização de reuniões clínicas, planejamento de atividades, projetos e ações, espaços de educação permanente, matriciamento, elaboração de agendas coletivas, resolução de conflitos, comunicação e apoio institucional com a gestão municipal, elaboração de instrumentos coletivos de vigilância e classificação de prioridades da eNASFAB.

3- Resultados e/ou impactos

A experiência de estar na atenção primária do campo, é vislumbrada por diversos profissionais enquanto algo desafiante, pela estrutura, dificuldade no acesso, e a diversos fatores que atravessam o trabalho efetivo na saúde do campo. A primeira frente: atenção á saúde com base territorial, se mostrou enquanto uma estrátegia chave na consolidação desse processo, diante do desconhecimento dos atores comunitários sobre esse profissional, foi-se compreendido no dia-a-dia, nas possibilidades, nas ações, atividades e na resolução de problemáticas, mostrando de tal forma, que existe esse profissional, e que ele pode e precisa estar conectado com território para pensar e operacionalizar. A segunda frente teve um impacto significativo e essencial diante da perspectiva continuada do trabalho na APS, no sentido mobilizador e tensionador; pois apartir do momento em que o profissional incomoda, articula ou questiona determinado serviço ou setor frente a uma problemática ou entrave da rede, ele instiga e coloca em jogo a reflexão crítica acerca do questionamento, deixando ali uma semente de dúvida ou possibilidade. Em consonância com o exposto podemos elucidar também o impacto da atuação do sanitarista na terceira frente de trabalho. Trazendo para a discussão nas equipes a importância notória da priorização de reuniões enquanto parte do trabalho NASF-Ab e eSF, do planejamento e avaliação de processos multiprofissionais, das articulações, aproximações e construção de comunicação entre setores, dispositivos ou redes, do apoio técnico entre gestão e serviço. Principalmente apartir do momento que atentamos para o recorte da zona rural, do campo; onde as barreiras de acesso, a rede, as políticas públicas, fatores socioeconômicos, culturais e de modos de vida atravessam e determinam a situação de saúde dessas populações.

4 - Considerações finais

Os territórios e comunidades são cenários vivos de trabalho na saúde, afinal como construir políticas, programas ou estratégias em saúde pública sem que faça sentido para os territórios, ou que realmente sejam necessidades de saúde na compreensão de gestores locais. É nesse sentido que um fazer saúde do campo com base territorial, participação popular e orgânica precisa ser fortalecida, apoiada e construída. E por mais desafiante que seja pensar e construir um processo de trabalho nos moldes “ideais” da saúde coletiva no contexto da APS do campo, existe uma descoberta que esta atrelada ao fazer saúde de modo orgânico, que é um fazer com sentido, sendo necessidade para tal realidade, transformandose assim em uma prioridade coletiva futuramente. Se nos colocarmos neste lugar de transformação crítica da saúde, aos pouquinhos, avançaremos no fortalecimento do SUS, pois são apartir de pequenas experiências que avançamos nas discussões e possibilidades de um fazer saúde da forma que acreditamos, frente a reafirmação dos direitos, principalmente na atual conjuntura política em contextos de populações invisibilizadas, como a saúde do campo.