Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CRUZANDO HISTÓRIAS DO POVO E COM O POVO: CAMINHOS PELA SAÚDE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CHÃ DOS NEGROS, NO MUNICIPIO DE PASSIRA-PE.
Alexsandro de Melo Laurindo, Ana Carulina Nascimento Soares, Marcela Martins da Silva Nascimento, Maria Gorete Martins do Nascimento, Maria Martins Nascimento, Pedro Henrique Pereira de Lucena

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


1- Apresentação

Passira está localizada na região do agreste setentrional de Pernambuco. O nome do município em tupi-guarani quer dizer "acordar suave". O municipio possui ao total cinco comunidades quilombolas: Chã dos galdinos, Riacho de Pedra, Chã dos Lira e Chã dos Negros, todas estão localizadas em terrenos mais elevados da zona rural, locais estratégicos segundo os mais velhos, por uma questão de segurança, dali podiam enxergar ainda de longe quem tentava se aproximar. A Comunidade Quilombola Chã dos Negros está localizada à 20 Km da cidade de Passira. Auto reconhecida em 04 de março de 2004 pela Fundação Cultural dos Palmares (FCP), na qual certificou que a Comunidade da Chã dos Negros é remanescente das Comunidades de Quilombo, conforme a portaria interna FCP; número 06 de 01 de março de 2004 publicada no Diário Oficial da união. A comunidade possui cerca de 346 moradores, sendo dividido em; Parte das mulheres trabalham com artesanato, em comércio próprio ou pequenos empreendimentos locais; as crianças e adolescentes estudam em escolas próximas a comunidade, boa parte dos moradores da comunidade são: Professores (as), artesãs, profissionais de saúde, comerciantes e trabalhadores rurais. A Unidade Básica de Saúde (UBS) de Vertentes Seca, que cobre o território, está localizada a 15 min da comunidade chã dos negros e possui uma estrutura física limitada, contando com Enfermeira, Técnica de Enfermagem, uma auxiliar de serviços gerais e seis Agentes Comunitários de Saúde (ACS), uma delas cobre o território de chã dos negros. Para além da limitação física, a unidade não possui Equipe de Saúde Bucal (eSB) e Médico fixo no quadro profissional, sendo um fator presente em boa parte das eSF da zona rural. Diante disso, como pensar o acesso à saúde desta comunidade quilombola? Como traçar e pensar possibilidades e caminhos na saúde, frente a atual conjuntura? Frente a algumas limitações e potencialidades do fazer saúde no campo e encontrar caminhos de modo transversal nesse território, a essa vivência aqui caracterizada enquanto estágio estratégico da Residência em Saúde da Família com ênfase em Populações do Campo (Universidade de Pernambuco), tem por objetivo elucidar as vivências da atuação, o atravessamento das histórias, e os caminhos de um Sanitarista Residente em seu estágio na comunidade quilombola de chã dos negros, municipio de Passira- PE.

2 - Desenvolvimento do trabalho

O inicio do estágio estratégico se deu no período de Julho a Agosto de 2021, na comunidade quilombola Chã dos negros, na zona rural de Passira- PE. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e a Associação de moradores quilombolas chã dos negros, compreendido por uma apresentação e discussão acerca do plano de trabalho, para que a experiência ocorresse de modo compartilhado. Podemos delimitar a experiência em algumas frentes de trabalho: 1) Articulação e parcerias transversais; 2) Territorialização de caminhos compartilhados com as Marias; 3)Atividades e possibilidades de ações com e para o povo. Podemos traçar a primeira frente enquanto pontapé inicial de compreensão da rede municipal de saúde, do comportamento das demandas na rede, das iniciativas de participação popular da comunidade, do movimento de equipamentos sociais. Uma das principais atividades desenvolvidas nessa frente foi a necessidade de ampliar atividades de cunho participativo e popular junto com instituições sociais e de saúde, como a articulação com a eSF, NASF-Ab do municipio, Secretaria de Política da Mulher, Centro de Referencia da Assistência Social(CRAS), Associação de Moradores quilombolas e a Secretaria de Educação. No que diz respeito a segunda frente podemos dizer de uma necessidade primária do trabalho na APS, a territorialização, o reconhecimento do território de modo continuado. Com a ajuda da ACS, duas moradoras da comunidade e uma estudante de enfermagem (algumas marias) conseguimos compreender como se estrutura, como se organiza, quais a dificuldades, quais as histórias desse lugar, porque todos fazem parte da mesma família, como começou, quem viveu. Durante o período de uma semana conseguimos traçar minimamente onde começa e onde termina esse território com tantas marcas e atravessamentos de Racismo, negacionismo de direito e muita potencia, muita cultura, histórias de fé e muita esperança. Podemos elencar no que tange a terceira frente algumas atividades desenvolvidas na comunidade que continham por base a construção metodologica partindo da educação popular em saúde: Elaboração do Diagnóstico Rural Participativo, se utilizando a metodologia do Mapa Falado; Construção e aplicabilidade de estratégias no enfrentamento a COVID-19 via comunicação social, como cartazes e panfletos; Suporte a campanha nacional de vacinação quilombola via eSF; Atividades com as crianças quilombolas sobre racismo e o brincar na Pandemia; Contação de Histórias com professoras da comunidade; Roda de conversa sobre a violência contra a mulher; Oficina sobre o uso de medicamentos e plantas medicinais; Encontro com as lideranças da comunidade; Oficina com as crianças sobre o lugar que vivo entre outras atividades que contaram a participação da eSF, do NASF-Ab, de estagiárias de odontologia do municipio, núcleo de educação permanente, secretaria de política para mulheres, secretaria de educação e saúde.

3- Resultados e/ou impactos

Podemos considerar enquanto efeito potencial das frentes de trabalho: A colaboração e ampliação acerca do olhar para a saúde quilombola de algumas instituições e entidades, afim de considerar a visibilização e priorização da política do campo, das águas e florestas enquanto estrátegia macro de garantia de direitos. Na frente dois, podemos colocar a ferramenta da territorialização enquanto chave para vários processos, desde a compreensão da situação social e de saúde da comunidade, até a inserção organica, num território acolhedor, cheio de afetos e atravessamentos, no qual pode-se perceber o quanto a saúde não chega para muitos usuários; o único ator que representa o setor saúde é a ACS, com seus poucos recursos de trabalho, porém com muita vontade de fazer uma saúde justa e equânime. No sentido da terceira frente podemos considerar a efetividade no que tange a execução das atividades propostas adoção de algumas estratégias de trabalho pela eSF; adesão da comunidade as diversas atividades no qual participaram enquanto atores construtivos e protagonistas, desde o planejamento à execução; a compreensão da necessidade de organização política local e o incentivo à continuidade das atividades que ali foram executadas no período de um mês. Ainda conseguimos finalizar com uma roda de conversa e confraternização sobre as atividades na comunidade e apresentação do relatório de estágio desenvolvido na secretaria de saúde.

4 Considerações finais

As construções, possibilidades, caminhos percorridos e apresentados até aqui fazem parte de uma constante formação com e pelo povo do campo. Diz sobre a concretização da aplicabilidade da educação popular na saúde de diversas formas e jeitos de um “fazer” coletivo para a população negra, com seus diversos atravessamentos. O impacto e aprendizado dessa pequena experiência por um homem branco, que foi aprendiz do território, tendo como principais protagonistas mulheres negras, as diversas marias de chã dos negros, diz sobre compartilhamento de saberes, ancestralidade, e muita esperança, no que foi, no que há de ser, e no que ainda virá.