Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
SAÚDE É COISA DE HOMEM. NOVEMBRO AZUL É SÓ UM DETALHE
Maria Francinete Oliveira, Áquila Filêmon Andrade Costa, Jakson Antonio Bezerra da Silva Junior, João Luca Aguiar Silva, Ienzo Brayan Pessoa da Silva, Yan Bonifácio Guimaraes Arruda, Robson Moreira de Oliveira Filho

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


O projeto de Extensão “Projetos Integrados de Vigilância à Saúde: responsabilidades compartilhadas, organizado para ser executado em ambiente escolar, tem, entre outros objetivos, desenvolver ações de promoção da saúde no sentido de envolver e capacitar, principalmente, adolescentes, jovens e seus familiares para as escolhas de comportamentos saudáveis ​​e fazer mudanças que reduzam o risco de morbidades e mortalidade especialmente por causas evitáveis.  Isto posto, com este Relato de Experiência, pretendemos socializar nossas atividades durante o mês de novembro de 2021 com estudantes e seus familiares de seis escolas públicas do município do Natal, RN. As ações aconteceram de forma remota (síncrona) complementadas (assíncrona) com cartilhas, folders, vídeos e formulários enviados para o correio eletrônico das escolas e destas para estudantes e familiares. A ação “Saúde é coisa de homem. Novembro é só um detalhe”, foi planejada e executada em três fases. A primeira, de formação do grupo universitário, teve duas diretrizes: coletar informações sobre estudos, programas e projetos relacionados com a saúde do homem, especialmente do grupo adolescentes e jovens e; investigar, através de um formulário google, o conhecimento de escolares sobre comportamentos individuais e coletivos que promovem a saúde e os que levam ao adoecimento e morte. Adiantando os dados, encontramos um cenário que prevalece há mais de trinta anos: mais de 90% dos homicídios estão no universo masculino, principalmente entre os jovens. O suicídio, acidentes de carro e moto, atropelamento, afogamento, envenenamento e outros, acontecem mais entre os homens. A mortalidade masculina é maior do que a feminina em todos os ciclos da vida. Os trabalhos mais insalubres e perigosos são executados, na sua maioria, por homens. Estes sofrem mais de condições graves e crônicas de saúde do que as mulheres e têm menos acesso ao serviços de saúde. Em consequência disso, vivem menos do que elas. Quando analisamos e percebemos as diferenças, em todos os sentidos, entre homens e mulheres podemos inferir que sob a visão de gênero, os homens são socialmente construídos para ocuparem espaços e ter comportamentos que põem em risco sua saúde e sua vida. Portanto, a observação da maior morbimortalidade masculina nos leva a justificá-la, não como a variável biológica sexo, mas atribuí-la a fatores sociais e comportamentais (variável gênero). A agressividade resultante da construção da masculinidade ou masculinidades, erroneamente concebida como natural pela sociedade, assim como, o valor que o trabalho ocupa na identidade social de provedor, podem vitimizar os homens contribuindo para o aumento de todo o quadro anteriormente descrito. Nos últimos anos no Brasil, assim como em diversos países, pesquisadores e pesquisadoras, Organizações governamentais e não Governamentais (ONGs), e profissionais de saúde vêm investigando como a construção social das diferentes masculinidades afeta a saúde dos homens em suas diferentes fases de vida. Estes estudos oferecem ideias e caminhos para se trabalhar com o universo masculino de modo a promover a saúde e bem-estar, principalmente no ambiente escolar, cuja proposta de Educação Integral deverá fazer parte do Projeto Pedagógico. O resultado da segunda diretriz mostrou que os estudantes conhecem os comportamento individuais e coletivos que levam ao adoecimento e morte precoce, assim como foram capazes de listar aqueles que promovem saúde e o bem-estar. Finalizando a primeira fase podemos inferir que a escola é um ambiente propício para quebrar os paradigmas que transformam os homens em reféns da própria identidade de gênero, envolvendo-os em reflexões e ações que possam promover a ruptura com padrões culturais fortemente arraigados nas famílias, nas instituições educadoras e religiosas e por conseguinte, nas práticas dos serviços de saúde. A segunda fase foi a Ação propriamente dita, quando através da plataforma Google Meet o grupo da extensão (discentes e docentes da UFRN e do Departamento de Assistência ao Educando (DAE, Secretaria Municipal de Educação) conversou com os estudante do 6º ao 9º ano das 6 escolas sobre: O lado masculino da concepção; Novembro azul: precisamos falar sobre cuidados masculinos; Saúde do homem: IST’S, Câncer, Gravidez masculina, Aborto masculino, Responsabilidade paterna e a legislação. A seleção dos temos seguiu três critérios: a demanda das escolas, as prioridades do Programa Saúde nas Escolas (PSE) e os dados estatísticos sobre morbimortalidade masculina. Esta fase foi dividida em três momentos: o acolhimento, realizado pelo grupo do DAE, a explanação do tema, sob a responsabilidade da docente e discentes da UFRN e a avaliação, responsabilidade de todas as pessoas envolvidas no processo da ação. A terceira fase caracterizou-se por ser uma atividade de produção de instrumentos de Educação à Saúde (Cartilhas, folders, vídeos, Podcast, entre outros). Chamamos essa fase de literacia em saúde por atender um universo maior com informações importantes sobre saúde, permitindo que as pessoas envolvidas se tornem capazes de gerir sua saúde e bem-estar (o cuidado de si). A literacia em saúde consiste em obter, processar e interpretar informações básicas e/ou fundamentadas cientificamente que ajudam na tomada de decisões adequadas, além de desenvolver competências para exigir um serviço de saúde de qualidade e abrangência significativa no sentido da prevenção e promoção da saúde. Na execução da segunda e terceira fase entra em cena outro grupo de extensão: o de gestores e coordenadores das escolas. Dado a importância do seu papel em promover a comunicação com estudantes, familiares e os outros grupos de extensão (UFRN e DAE), ficou claro a necessidade de compromisso e envolvimento desde grupo para o êxito completo da Ação em questão. Ao afirmar esta sentença estamos considerando o fato de que houve maior participação (presença online) dos estudantes nas escolas em que houve maior empenho dos gestores e coordenadores no processo de comunicação. Sobre a avaliação da Ação ela foi considerada pertinente, significativa e essencial para o entendimento entre saúde e construção das masculinidades. De acordo com a comunidade escolar (docente, discentes e familiares) foi a primeira vez que o tema saúde do homem não se limitou apenas em “uma exposição didática e difícil de ser entendida” sobre câncer de próstata e infecções sexualmente transmitidas.  Essa avaliação tem um peso significativo, uma vez que, no momento pandêmico e de transição pandêmica projetos como este tornam-se essenciais visto que podem ser desenvolvidos usando-se a inteligência artificial e humana, assim como a nossa capacidade de resolver problemas de forma empreendedora.  Com uma cultura de tratar em vez de prevenir é possível que as ações desenvolvidas não receberam, por parte de algumas escolas seu devido reconhecimento. Mas, isso não é mais forte do que o reconhecimento do nosso papel na promoção da saúde e prevenção das doenças, principalmente dos homens adolescentes e jovens. Analisando a Ação em um sentido mais geral afirmamos que ela foi significativa enquanto atividade de Extensão Universitária, moldada na intersetorialidade, interdisciplinaridade e interinstitucionalidade, despertando nos grupos extensionistas a importância da Enfermagem nível superior no ambiente escolar para trabalhar na Atenção Primaria de Saúde, reduzindo a morbimortalidade e favorecendo, no futuro, uma velhice saudável e um percentual equivalente entre homens e mulheres idosas.