Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação em saúde como ferramenta de intervenção de um protocolo interdisciplinar remoto para o cuidado com a obesidade grave: um relato de experiência
Maria Julia Carreiro Vieira de Souza, Renata De Lorenzi Teixeira, Ramon Franco Carvalho, Dartcleia Moura Martins Neves, Luciane Pires da Costa

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Introdução: A obesidade é uma doença crônica, que apresenta crescimento expressivo no Brasil e no mundo, e está associada à comorbidades físicas, psíquicas, emocionais e comportamentais. Devido a sua etiologia multifatorial, a obesidade constitui-se como um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto a necessidade de implementação de tratamentos capazes de transpor as intervenções tradicionais, que em sua maioria apresentam inúmeras limitações no cuidado de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Diante do atual cenário sanitário, tornou-se ainda mais desafiador desenvolver práticas de saúde, que pudessem fornecer assistência às demandas desta população de forma segura, já que, pessoas com obesidade compõem o grupo de risco para o SARS-CoV 2 (COVID-19). O distanciamento social e as restrições impostas como forma de cuidado neste período pandêmico, contribuíram para o agravamento de sintomas relacionados aos transtornos mentais e comportamentais associados à obesidade. O que favorece a manutenção do comer emocional e impulsivo, humor deprimido, ansiedade, baixa aderência à prática de atividade física, alterações do sono e a diminuição da qualidade e expectativa de vida. Considerando a complexidade da doença, diretrizes de diferentes partes do mundo sugerem que sejam desenvolvidos modelos de intervenções multidisciplinares, que visem a flexibilização destas ações, através de experiências de aprendizagem proporcionadas pela educação em saúde. Caracterizada por um processo de construção de conhecimento aprofundado acerca da saúde do indivíduo, objetivando promover a criação de conscientização, maior aderência com a proposta de tratamento e autonomia de cuidado em saúde, principalmente para as DCTNs. Desta forma, algumas ações para viabilizar a assistência a essas populações vêm sendo difundidas, como por exemplo, a prática de teleatendimento. E considerando o cenário atual justifica-se a utilização desta ferramenta como um possível método de intervenção a ser implementado para o cuidado de pessoas com obesidade. Objetivo: Relatar a experiência dos voluntários que participaram das atividades de educação em saúde no protocolo remoto interdisciplinar do Grupo de Estudos e Promoção de Saúde na Obesidade. Desenvolvimento: Estudo descritivo, a partir dos relatos de experiência coletados dos voluntários, durante as intervenções em grupo, em que participaram 14 sujeitos (45,5 ± 10,8 anos) com IMC ≥ 35. As atividades contaram com a atuação interdisciplinar dasequipes de Nutrição, Educação Física e Psicologia, durante o período de três (3) meses, de 14 de setembro a 17 de dezembro de 2020. Os encontros remotos da equipe de psicologia, ocorreram de forma coletiva e individual, ambos com seis (6) sessões cada, totalizando doze (12) encontros. A equipe de educação física realizou dois encontros semanais, totalizando vinte e quatro (24) encontros, enquanto a equipe de Nutrição realizou três (3) sessões individuais e seis (6) coletivas, totalizando nove (9) encontros. Visando integrar os saberes técnico-científicos com as crenças populares que os indivíduos carregam, as equipes desenvolveram de forma conjunta a elaboração de ações pautadas no conceito de educação em saúde a fim de suprir as demandas dos voluntários direcionada às atividades de cada equipe. Para as intervenções de nutrição, foram realizadas diferentes oficinas interativas com propósito educativo sobre o valor nutricional dos alimentos, modo de conservação, leitura crítica dos rótulos e embalagens, funcionamento e importância da microbiota intestinal, além de reflexões sobre o estigma de alimentação ideal para si e a criação de hábitos que estimulam uma alimentação saudável. E ainda em conjunto com a psicologia desenvolveu dinâmicas que envolveram o processo de autorresponsabilização. Durantes as sessões da equipe de psicologia, foram desenvolvidas atividades psicoeducativas sobre temas relacionados às dificuldades vivenciadas no cotidiano e possíveis estratégias de enfrentamento, como: a influência do contexto de estereótipo, rotina e hábitos, autocuidado, motivação, autoconhecimento, estratégias autorreguladoras, visando flexibilizar sintomas e comportamentos associados a transtornos mentais relacionados à obesidade. As sessões de Educação Física incluíram a prática de exercícios aeróbicos, resistidos e alongamentos, tendo como base de prescrição as diretrizes do American College of Sports Medicine (ACSM), além de atividades variadas como aulas de dança instruídas pelos profissionais de educação física. Durante os encontros, além da prática de exercício físico, foi explicado aos participantes como executarem o padrão de movimentos da forma correta, evitando possíveis lesões, bem como, os possíveis efeitos e benefícios de cada exercício para a saúde física e mental. Os participantes também foram ensinados como aferir a intensidade da frequência cardíaca e como indicar a intensidade da sessão de exercícios como um todo pela Escala de Borg. Ao final do tratamento, foi realizada uma sessão com a presença de todas as equipes a fim de se estabelecer o processo devolutivo de todas as atividades vivenciadas. Resultados: De acordo com o relato dos participantes (voluntários), foi possível identificar, já no início do processo de intervenção, maior compreensão da importância de se pensar a saúde nos âmbitos físicos, psicológicos e sociais através da conscientização desenvolvida dentro de um contexto em que o que era trabalhado durante as sessões tornava a prática menos complexa conforme o entendimento era gerado. Além disso, os participantes identificaram que foram capazes de estabelecer metas mais realistas pautadas na experiência individual e coletiva. Eles sentiram melhora no humor, na disposição e no sono, relataram perda de peso e maior capacidade de lidar com a alimentação e a formação e manutenção de novos hábitos. Relataram, ainda, que as atividades trouxeram informações que produziram novos conhecimentos acerca da obesidade e desmistificaram conceitos estigmatizados, que eles haviam vivenciado como situações de vulnerabilidade emocional, constrangimentos e preconceitos atrelados a condição anatômica da obesidade. Além disso, sobre o processo de experiências compartilhadas por meio das sessões em grupo, foram descritas por eles como importantes para a maior autoaceitação e engajamento em hábitos saudáveis para além das atividades propostas pelo tratamento. Conclusão: Assim, conclui-se que apesar de serem dados preliminares, as informações obtidas por meio do relato dos pacientes, fomentam os benefícios que o protocolo de abordagem interdisciplinar remoto, pautado em atividades de educação em saúde, podem vir a contribuir na promoção de saúde, e na construção de fatoresessenciais para criação de autocuidado, autonomia, autoconhecimento e autoeficácia. Além disso, o cuidado remoto minimizou um dos entraves no tratamento de pessoas com obesidade grave, a locomoção desses indivíduos à unidade de saúde, tanto pela dificuldade na mobilidade física, quanto econômica. Desta forma, a proposta de tratamento interdisciplinar por teleatendimento, parece ser eficaz no cuidado de pessoas com obesidade, contribuindo com a melhora de sintomas associados aos transtornos mentais e comportamentais, adoção de hábitos saudáveis, e, consequente, melhora na qualidade de vida desta população, além de, fomentar a integração de diferentes áreas da saúde.