Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Percepção dos/das profissionais sobre o teleacolhimento como ferramenta de suporte em saúde mental na pandemia da Covid-19.
Amanda Layse de Oliveira Feitosa, Juliana Siqueira Santos

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação

No contexto da pandemia da Covid-19 ferramentas de telessaúde ganharam destaque diante da necessidade de ampliação da capacidade e reestruturação na oferta de serviços de saúde. O uso de tecnologias da comunicação no suporte e cuidado em saúde possibilitou a oferta de ações de prevenção, orientação, acompanhamento, diagnóstico e tratamento no cenário de isolamento e distanciamento social, contribuindo para desafogar serviços da rede de saúde. Os serviços de teleassistência têm sido estratégia importante de gestão do trabalho no Sistema Único de Saúde – SUS, considerando a possibilidade de realocação de profissionais que pertencem ao grupo de risco, que tiveram seus serviços temporariamente fechados, e/ou reduzindo a exposição daqueles que atuam na linha de frente. Nesse contexto, foram criadas ferramentas de telessaúde oferecendo serviços de teleassistência, com teletriagem e teleorientação para os usuários considerados suspeitos da Covid-19, que permitiram a orientação adequada à população quanto aos cuidados necessários. No estado de Pernambuco, a oferta de serviços de teleassistência durante a Pandemia da Covid-19, ocorre desde março de 2020 através da Plataforma Atende em Casa, fruto da parceria entre a Secretaria de Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) e a Secretaria de Saúde do Recife (SESAU/Recife). A plataforma pode ser acessada por meio de smartphone, tablet ou computador e oferece teleassistência a partir de três modalidades: Teleorientação, Telemonitoramento e Teleacolhimento; além da oferta de marcação de exames para Covid-19. Através da teleorientação e do telemonitoramento é possível a orientação de medidas de prevenção e controle da infecção e o acompanhamento das pessoas infectadas. A modalidade de teleacolhimento foi criada considerando as evidências do aumento de sofrimento mental na população em geral e da crescente demanda por serviço de apoio psicológico sentido nos atendimentos realizados na plataforma, entendendo que os cuidados em saúde mental devem ser priorizados na mesma medida dos cuidados primários em saúde no enfrentamento à pandemia. Para acesso ao teleacolhimento, o/a usuário/a pode solicitar selecionando a opção “Apoio Emocional” dentro da plataforma ou ser encaminhado por parte do/a médico/a teleorientador/a, nos atendimentos de casos suspeitos da Covid-19. Neste trabalho, buscou-se compreender a percepção dos profissionais teleacolhedores sobre uso da teleassistência para oferta de suporte em saúde mental. Trata-se de um recorte de uma pesquisa mais ampla que tem por objetivo geral analisar a ferramenta de apoio emocional da Plataforma Atende em Casa como uma estratégia de cuidado em saúde mental no enfrentamento à pandemia da Covid-19.

Desenvolvimento do trabalho (método do estudo)

Esta etapa da pesquisa caracteriza-se por um estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa. Utilizou-se questionário semiestruturado online com a equipe estadual de psicólogas teleacolhedoras, visando compreender a percepção das profissionais sobre o uso da teleassistência para oferta de suporte em saúde mental. O questionário foi organizado em 3 dimensões e 26 perguntas: Perfil profissional e atuação durante a Pandemia do Covid-19; Percepção sobre o teleacolhimento e sobre o impacto da pandemia da Covid-19 na saúde mental; Avaliação do serviço e perspectivas. Na primeira dimensão, buscou-se conhecer o perfil de atuação dos/as profissionais que trabalham na teleassistência; na segunda dimensão, compreender a percepção sobre a ferramenta e sobre o adoecimento mental no contexto de pandemia; já a terceira, teve como foco explorar as avaliações e perspectivas que as profissionais têm no cenário pós pandemia. Em razão da pandemia, o questionário foi aplicado no formato online, no mês de agosto de 2021, através da Plataforma Google Forms. Para análise das respostas foi utilizada a análise de conteúdo temática, que permite o processo de inferência, através da categorização das unidades dos textos a partir de suas repetições. A análise ocorreu em três momentos: a primeira, de pré-análise, consistiu na leitura flutuante e na construção do esboço da categorização das respostas segundo suas similaridades; no segundo momento, houve a exploração do material, buscando encontrar expressões e palavras chaves que organizassem o conteúdo das respostas; no terceiro momento, realizou-se inferências e a interpretação do conteúdo, descrevendo por frequência e similaridade as respostas que foram dadas pelas participantes da pesquisa. Para cada pergunta do questionário, as respostas dadas pelas psicólogas teleacolhedoras foram agrupadas de acordo com palavras que apontassem semelhanças nas percepções descritas por elas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), conforme Parecer Nº 4.583.741.

Resultados

Quanto ao perfil profissional, as teleacolhedoras têm entre 32 e 55 anos, com idade média de 44 anos, todas do sexo feminino. Possuem formação acadêmica em aŕeas diversas da psicologia, 66% possuem especialização, 22,2% mestrado e 11,1% doutorado. Anteriormente ao trabalho no teleacolhimento, as profissionais atuavam nas redes de Saúde Mental, Saúde do Trabalhador, ambulatórios de Psicologia em hospitais da rede estadual e consultórios de psicologia clínica. Relataram nunca terem atuado anteriormente em serviço de teleassistência. As percepções apresentadas pelas teleacolhedoras apontam para a compreensão do acolhimento remoto como uma ferramenta potente de produção de cuidado em saúde na busca de reduzir o sofrimento psíquico decorrente da pandemia. Foi considerado por elas como demandas mais frequentes, aquelas relacionadas à ansiedade, medo, luto e angústia. De modo geral, as teleacolhedoras entendem que o impacto da pandemia na saúde mental das pessoas está relacionado ao cenário de inseguranças, incerteza, medo, angústias, perdas, luto e ruptura do contexto social e familiar. Todas as psicólogas afirmaram que a escuta realizada através da teleassistência consegue responder adequadamente ao adoecimento psicológico decorrente da pandemia. Contudo, apresentou-se como fragilidade a necessidade de se avançar na estruturação da Rede de Atenção Psicossocial, considerando que o cenário de pandemia intensificou e deu novos contornos para a demanda de adoecimento mental e que tendem a surgir novas necessidades no cenário pós pandemia da Covid-19. Referente à avaliação e perspectivas, todas as psicólogas avaliaram positivamente sua contribuição profissional no serviço de teleassistência e o próprio serviço ofertado à população. Quanto à continuidade dos serviços de saúde remotos no contexto pós pandemia, todas as profissionais consideram que essa modalidade deve continuar, justificando essas respostas considerando de maneira geral: o baixo custo, a praticidade e acessibilidade, a possibilidade de levar a oferta de serviço em saúde mental àquelas pessoas que residem em lugares distantes e com dificuldade de acesso. Sobre o interesse em continuar trabalhando na Plataforma Atende em Casa, 88,9% responderam afirmativamente.

Considerações finais

Os serviços de atendimento remoto se apresentam como uma importante estratégia para oferecer acolhimento buscando reduzir o sofrimento psíquico decorrente desse contexto. Neste trabalho, buscou-se analisar a atuação de profissionais no cuidado em saúde mental no contexto de pandemia por meio da teleassistência, e as possibilidades de ampliação de novas formas de acolhimento remoto e encaminhamento das demandas de modo a garantir o acesso universal e uma oferta mais equitativa. Ressalta-se a viabilidade e importância da criação de estratégias remotas para ampliação do acesso ao cuidado em saúde mental, no contexto de crise. No entanto, essas estratégias devem ser incorporadas enquanto dispositivo da Rede de Atenção Psicossocial, atuando para o fortalecimento e melhoria de sua capacidade no cenário de pandemia e de superação dela.