Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cuidado multiprofissional na pandemia de covid-19: a atuação das equipes multiprofissionais/NASF
ERIKA RODRIGUES DE ALMEIDA, Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Débora Cristina Bertussi, Herbert Oliveira Martins, Vinicius Santos Sanches, Janainny Magalhães Fernandes

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Em todo o mundo é consenso que os Sistemas Nacionais de Saúde devem ser baseados na Atenção Primária à Saúde (APS), que deve garantir o acesso universal  em tempo oportuno às pessoas, bem como ofertar o mais amplo escopo de ações visando integralidade do cuidado na rede de atenção à saúde.

No Brasil, a APS é entendida como o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em base territorial, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária.

Neste sentido, em 2008 foram instituídos os NASF – Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Primária, que são equipes multiprofissionais que, através do compartilhamento do cuidado e responsabilidade sanitária da população junto às equipes da APS, podem contribuir para  ampliar as ações das equipes de APS e para o aumento da resolubilidade, aumentar a capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de saúde  na produção do cuidado de saúde individual e coletivo, integrando e articulando os diferentes núcleos profissionais na APS.

No contexto atual de pandemia da covid-19, que se configura como uma situação grave de emergência em saúde pública, são necessárias respostas efetivas da ampla rede de APS e, apesar dos problemas crônicos de financiamento e gestão, há inúmeras evidências na redução significativa da mortalidade e desigualdades em saúde. Desse modo, a APS deve ser considerada um importante arranjo de cuidados  frente a situações de emergências como as epidemias de Zika, Dengue, Chikungunya, e também da covid-19.

Com todas as atenções concentradas em redes hospitalares e em recursos de tecnologias duras, subestimar a potência da APS contribui como agente facilitador para o rápido colapso do sistema de saúde diante da evolução da covid-19, e representa um recurso estratégico dentre as ferramentas limitadas disponíveis no enfrentamento à pandemia.

A fim de garantir cuidado integral à saúde da população, estudos internacionais apontam para a necessidade de fortalecimento da APS, evidenciando a necessidade de existência de diferentes arranjos na composição de profissionais e organização do processo de trabalho. Nesta perspectiva, desenvolveu-se pesquisa intitulada “EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS NA PANDEMIA DA COVID-19: A POTÊNCIA DO TRABALHO VIVO EM ATO NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE”, com o objetivo de analisar os processos de trabalho e a produção do cuidado desenvolvido pelas equipes multiprofissionais no enfrentamento à pandemia da covid-19 no âmbito da Atenção Primária brasileira.

Esta pesquisa buscou explorar como as equipes multiprofissionais têm realizado o cuidado em saúde em tempos de pandemia; conhecer experiências exitosas, as potências e fragilidades da atuação das equipes no combate à pandemia e conhecer os arranjos organizacionais das equipes multiprofissionais na Atenção Primária, na perspectiva dos trabalhadores e coordenadores do NASF/APS dos municípios brasileiros.

O presente trabalho apresenta parte dos resultados preliminares da referida pesquisa, em relação à percepção dos profissionais das equipes multiprofissionais/NASF sobre a produção do cuidado durante a pandemia de covid-19.

Os dados foram coletados por meio de formulário eletrônico (método websurvey) elaborado especificamente para o presente estudo, utilizando como referências as ações dos trabalhadores de equipes NASF no enfrentamento à pandemia de covid-19. O formulário elaborado e disponibilizado ao público-alvo da pesquisa via googleforms® contemplou perguntas objetivas de múltipla escolha e questões abertas, que abordaram a identificação das equipes, práticas desenvolvidas no cotidiano do trabalho, relatos de experiências exitosas, fragilidades e dificuldades das ações do NASF no período de enfrentamento à pandemia, bem como a atuação destes na APS antes e durante a pandemia de covid-19.

O formulário foi divulgado aos trabalhadores das equipes multiprofissionais/NASF no período compreendido entre fevereiro e setembro de 2021 e, para a divulgação da pesquisa junto aos trabalhadores (e gestores), contamos  com o apoio do Ministério da Saúde e do CONASEMS.

Todos os participantes assinaram, de forma eletrônica, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, disposto na primeira página do formulário eletrônico, e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu, sob o protocolo 4420925/2020.

Foram obtidas 733 respostas de trabalhadores da APS, em sua maioria (83,4%) do gênero feminino. Dentre as formações de graduação, houve participantes de todas as categorias da área da saúde, com predominância de fisioterapeutas (20,1%), psicólogos (20,1%) e nutricionistas (17,1%).

Em relação ao grau de formação, a maioria (64,3%) possuía titulação de especialista, com maior concentração em cursos de Saúde Coletiva/Saúde Pública (43,2%) ou em cursos específicos dos respectivos núcleos profissionais (33%).

Mais da metade dos participantes atuavam na equipe multiprofissional/NASF há mais de 2 anos, cuja composição variou, em sua maioria, de 4 a 7 profissionais.

Sobre a  atuação na pandemia de covid-19, mais da metade dos profissionais referiu ter participado de alguma formação, capacitação ou ação de educação permanente sobre a covid-19. Tal resultado é bastante positivo, considerando que o conhecimento técnico é condição fundamental para o adequado manejo da doença.

Ao serem questionados sobre eventual mudança na carga horária de trabalho em virtude da pandemia, 37,7% referiram não ter sofrido mudanças, 23,7% referiram aumento e 38,6% referiram redução durante a pandemia.

No que se refere às práticas desenvolvidas pelas equipes durante a pandemia, as ações mais comuns listadas pelos profissionais foram: a) Apoio/retaguarda às equipes de APS; b) Manutenção da oferta/agenda habitual APS; c) Teleatendimento – continuidade do cuidado (sobretudo crônicos e acamados); d) Ações de educação em saúde – geral e covid-19; e) Monitoramento/rastreamento casos e contatos; f) Suporte aos trabalhadores da RAS (saúde do trabalhador); g) Apoio assistencial/cuidado – saúde mental, nutrição, práticas corporais; h) Apoio/assistência condição pós-covid19.

Por fim, ao serem solicitados a avaliar a atuação das equipes multiprofissionais/NASF durante a pandemia, mais de 90% avaliaram como muito ou totalmente relevantes as ações do NASF/Equipes multiprofissionais na APS durante a pandemia covid-19.

Os resultados aqui apresentados, mesmo que em caráter preliminar, reforçam a importância da atuação multiprofissional na APS, sobretudo em um cenário onde novas e velhas demandas de cuidado se colocam na RAS, as quais prescindem do cuidado integral e multiprofissional.

Em meio a mudanças e instabilidades de financiamento e gestão da APS (e do SUS), destacamos a potência da micropolítica do trabalho vivo em ato e a riqueza de experiências de profissionais no enfrentamento à maior crise sanitária e humanitária da contemporaneidade. Nesse contexto, uma APS robusta, integral e resolutiva é fundamental para o enfrentamento deste desafio e outros tantos que virão no âmbito da promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde.