APRESENTAÇÃO

A experiência aqui registrada inicia com a implantação de três programas de residências multiprofissionais: Cuidados Paliativos, Saúde da Família e Saúde Mental em março de 2020, que possuem em seus projetos pedagógicos uma Unidade Educacional em comum, Cuidado à Saúde dos Indivíduos – núcleo do saber. Cujo objetivo maior é ter um momento específico nos encontros de tutoria com cada categoria profissional.

Os programas têm em comum ainda, a concepção pedagógica de aprendizagem critico reflexiva, com a organização da matriz curricular integrada, elaborada a partir da definição de áreas de competência que se organizam em Unidades Educacionais (UE), sendo: UE Cuidado à Saúde dos Indivíduos (separada em Campo do Saber e Núcleo do Saber), UE de Prática Profissional, UE de Investigação em Saúde e UE de Gestão e Cuidados Coletivos.  A estratégia metodológica adotada metodologia a Aprendizagem Baseada em Problema, com encontros de tutoria em pequenos grupos, no caso da UE de Cuidado à Saúde dos Indivíduos – núcleo do saber, o disparador para a aprendizagem é a História Clínica.

A experiência envolve as coordenadoras dos três programas citados, tutores das categorias profissionais: Cirurgião Dentista, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Nutrição, Psiciologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional, cerca de 150 residentes que ingressaram nas turmas de 2020 e de 2021, e ainda, de forma direta e/ou indireta os preceptores, num total de 45. Os residentes atuam em diferentes cenários de prática de acordo com cada Programa de Residência, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial e Hospitais da Rede Estadual.

O objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivenciada pelas coordenadoras dos programas, na condução da formação do corpo docente que conduz os encontros de tutoria da UE de Cuidado à Saúde dos Indivíduos – núcleo do saber, junto ao coletivo de residentes com a intencionalidade de qualificar o cuidado aos usuários a partir da adoção da História Clínica como estratégia educacional para a clínica ampliada.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Essa experiência precisa ser contada a partir da inserção da consultora pedagógica na rotina de planejamento para o desenvolvimento do projeto pedagógico dos programas de Residência em Saúde do Instituo Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (Icepi) da Secretaria de Estado da Saúde do ES.

Ela nos trouxe o desafio de trabalharmos com metodologias ativas nos encontros de tutoria e incorporar a História Clínica como estratégia disparadora para a aprendizagem baseada em problema na UE de Cuidado à Saúde dos Indivíduos – núcleo do saber com o objetivo de trabalharmos nesses encontros o cuidado à atenção à saúde na perspectiva de clínica ampliada.

Após a contratação dos tutores, denominados docentes de núcleo, iniciamos a formação que acontece de forma permanente, com encontros mensais com os mesmos antes dos encontros desses com os respectivos grupos de residentes, que também tem a periodicidade mensal.

A formação segue uma programação progressiva que inicia por orientar o registro da História Clínica a partir da identificação dos elementos estruturantes por categoria profissional, de forma a suscitar no coletivo de residentes um olhar ampliado sobre a clínica adotada nos cenários de prática. Os grupos trabalham divididos por categorias profissionais, mas misturados entre os três programas de residência, favorecendo o debate para além da área de concentração do programa ao qual está inscrito.

As Histórias Clínicas são elaboradas com base nos casos reais que os residentes acompanham nos cenários de prática, compartilhadas nos encontros de tutoria gerando como produto questões de aprendizagem para a busca de evidências de acordo com o tema apontado.

A medida que os encontros vão acontecendo, o grupo vai amadurecendo tanto no registro como no conhecimento dos temas apresentados. Esse movimento vai se estendendo para os cenários de prática com o envolvimento dos preceptores na identificação dos casos relatados e no processo de intervenção dos mesmos.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Ao qualificar os residentes de dez categorias profissionais diferentes, de três programas de residência em saúde, estamos também qualificando o cuidado ao usuário. O aprendizado é concretizado na apresentação dos casos reais que são relatados nos encontros de tutoria por meio do registro das Histórias Clínicas.

A contribuição de trabalhar com a História Clínica como ferramenta de trabalho é muito mais do que só qualificar o registro nos prontuários e outros sistemas de registros, é o incentivo para um olhar ampliado ao sujeito que está sendo cuidado, sua família, sua forma de vida, suas condições sanitárias e como todo esse conjunto de fatores e aspectos influenciam na condução terapêutica, visando a atenção à saúde a partir da clínica ampliada.

Ao mesmo tempo que capacitamos os residentes, estamos também capacitando preceptores e o próprio corpo docente. Alguns registram que apesar de anos de prática em determinados serviços nunca tinham adotado essa ferramenta, e reconhecem o seu potencial no acompanhamento clínico e social dos usuários.

Adotar a História Clínica como estratégia de aprendizado para os grupos formados por categorias profissionais, tem proporcionado reflexões sobre “que clínica é essa que temos nos serviços de saúde do nosso Estado?” tema da formação de preceptores, e com isso motivado os campos de prática a adotar a clínica ampliada como modelo de atenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa experiência tem nos proporcionado momentos enriquecedores de aprendizado. É uma oportunidade imensa de apender ferramentas educacionais potentes para o processo de formação em saúde, mas é muito mais que isso, nos possibilita contribuir com a melhoria do cuidado prestado aos usuários do SUS, nos diversos campos de prática por onde os residentes dos três programas multiprofissionais de Residência em Saúde atuam.

Outro destaque de nossa experiência é o fato de termos em nossos programas o incremento de dez categorias profissionais diferentes, potencializando a prática interprofissional no trabalho em saúde, além do fato de juntarmos os residentes da mesma categoria profissional que estão inseridos em diferentes cenários de prática e, em diferentes programas de residência em saúde.

Ainda estamos no início dessa trajetória de formação, mas já identificamos grandes avanços no campo do cuidado, relatados e registrados pelos atores envolvidos no processo de formação, tutores, preceptores e residentes.

Para os próximos anos, o investimento é qualificar cada vez mais esses cenários para que a História Clínica se torne rotina, incorporado ao processo de trabalho em saúde.