Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A PERPETUAÇÃO DA HANSENÍASE NO ESTADO DO TOCANTINS
Jean Matheus Guedes Cardoso, Anna Karolynne Batista Sobral Santos, Giordana Oliveira Duarte, Rhayzza de Melo Marques, Ana Beatriz Gonçalves de Sousa, Douglas Alves Campos, Ana Cristina Mendanha Sampaio, Leonardo Medeiros Cintra

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


APRESENTAÇÃO

A hanseníase, conhecida popularmente como lepra, é uma doença crônica infecciosa causada pelo Mycobacterium leprae. Esse bacilo possui um longo período de incubação e apresenta tropismo, principalmente, por áreas cutâneas, olhos e nervos periféricos. Quanto a transmissão da doença, ocorre pelo contato prolongado com um paciente contaminado, mais especificamente quando gotículas são expelidas, sendo as vias respiratórias a principal forma de eliminação dos bacilos (Ministério da Saúde, 2018).

A hanseníase, como forma de manifestações clínicas, provoca o aparecimento de lesões na pele, caracterizadas por manchas hipocrômicas; alterações de espessura; infiltrados; pápulas, nódulos e tubérculos (Ministério da Saúde, 2017). O diagnóstico é feito nos serviços de Atenção Básica de Saúde, por meio do exame dermatológico, a fim de identificar e contabilizar as lesões cutâneas e o exame neurológico, com o objetivo de detectar áreas da pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento dos nervos periféricos (NUNES; OLIVEIRA; VIEIRA, 2011).

No ano de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) notificou 202.185 novos casos de hanseníase no mundo, sendo que, desses casos, 23.612 foram contabilizados no Brasil. Dessa forma, o país é considerado um local de alta carga para a doença, ocupando o segundo lugar no ranking mundial em número de casos, atrás somente da Índia. Na região norte, o estado do Tocantins lidera a taxa de detecção geral de casos novos de hanseníase por 100 mil habitantes no período de 2010-2020, e Palmas, sua capital, apresenta a maior taxa de detecção entre as capitais do país, alcançando um valor de 226,99 registros por 100 mil habitantes no ano de 2019 (Ministério da Saúde, 2020).

Ao se observar os altos índices de diagnóstico para hanseníase no Brasil, sobretudo no estado tocantinense, vê-se a necessidade de compreender os aspectos gerais que envolvem a doença, desde a transmissão do bacilo até o tratamento preconizado no país, a fim de buscar alternativas para atenuar a incidência de casos. Nesse ínterim, especificamente, cabe avaliar se, nos anos de 2010-2020, houve alguma alteração significativa na incidência da doença, bem como buscar estratégias que possam atenuar esses números, quiçá otimizar o rastreio da hanseníase.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: MÉTODO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo retrospectivo, com abordagem quantitativa. As informações foram obtidas por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O levantamento de dados ocorreu no mês de janeiro de 2022. A população de interesse compreende todos os casos de casos de hanseníase, notificados no período entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020, em todo o estado do Tocantins. Os parâmetros analisados foram a região de residência e o gênero.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Segundo os dados obtidos, no período compreendido entre 2010 e 2020, o Tocantins registrou cerca de 12.517 casos novos de hanseníase, aproximadamente 1.138 casos por ano. Desse total, a maior incidência foi registrada em 2018, de modo a representar 13,69% dos casos notificados ao longo do período em estudo, seguido de 2019, com 1.527 casos novos.

Os estudos mostraram um aumento significativo da doença entre o ano de 2015 e 2016, no qual a taxa de detecção geral de casos novos por 100 mil habitantes no Tocantins passou de 58,08 para 88,13, número bastante elevado se comparado com o estado vizinho Maranhão, que em 2016 apresentava uma taxa de 47,43. Até novembro de 2020 ocorreu uma redução significativa no registro de casos novos de hanseníase, com cerca de 787 casos a menos que o ano anterior (1527). Esse fator pode ser causado pela menor procura dos serviços de saúde, devido ao impacto causado pela pandemia do coronavírus e o maior foco no atendimento do Covid-19 (RIBEIRO et al, 2022).

No Brasil, entre 2015 e 2019, os dados demonstraram a prevalência da hanseníase entre a população do sexo masculino, representando 55,3% do total (75.987 casos). Desse quantitativo, o maior número de registros esteve presente entre os homens de 50 a 59 anos (14.127), já no sexo feminino a faixa etária predominante foi de 40 a 49 anos (12.272). A maior exposição à ambientes de possível contágio e a maior comunicação social entre homens são motivos atribuídos por determinados autores para o predomínio de casos entre o sexo masculino (JÚNIOR et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hanseníase é uma doença bacteriana infecciosa que figura entre as principais enfermidades de países tropicais. O estudo destaca a necessidade de desenvolvimento de intervenções públicas que tenham como objetivo suprimir a disseminação da Mycobacterium leprae, com embasamento epidemiológico, tendo em vista que tal expansão pode decorrer da ausência de estratégias eficazes de controle.

REFERÊNCIAS

Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico – Hanseníase. Vol. 49, n. 4, 2018.

NUNES, J. M.; OLIVEIRA, E. N.; VIEIRA, N. F. C. Hanseníase: conhecimentos e mudanças na vida das pessoas acometidas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. suppl 1, p. 1311–1318, 2011.

Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Especial de Hanseníase. Secretaria de Vigilância em Saúde. Número Especial | jan. 2020.

JÚNIOR, A. F .R.; VIEIRA, M. A.; CALDEIRA, A. P. Perfil epidemiológico da hanseníase em uma cidade endêmica no Norte de Minas Gerais. Rev Bras Clin Med, São Paulo,  v. 10, n. 4, p. 272-7, jul-ago, 2012.

RIBEIRO, D. M.; LIMA, B. V. M.; MARCOS, E. A. C.; SANTOS, M. E. C. dos; OLIVEIRA, D. V.; ARAÚJO, M. B. de; SILVA, C. A. da. Epidemiological overview of Leprosy, neglected tropical disease that plagues northeast Brazil. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 1, p. e23111124884, janeiro, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i1.24884.