Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Banco de empréstimo de instrumentais: uma ação afirmativa para os cursos de Odontologia da UFRGS
Liliana Corrêa Maurante, Bruna Nunes Quadros, Luciane Maria Pilotto, Camila Conceição Da Silva, Greicy Nara De Matos Fernandes

Última alteração: 2022-02-16

Resumo


Apresentação: O Banco de Empréstimo de Instrumentais da Faculdade de Odontologia da UFRGS (BEI-FOUFRGS) é uma iniciativa de estudantes, principalmente daqueles beneficiários do programa de ações afirmativas da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), com apoio de professores, direção da unidade, Comissão de Graduação do curso (COMGRAD) e Diretório Acadêmico (DA). O projeto visa emprestar instrumentais odontológicos para atender os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, pois há dificuldades na realização de disciplinas práticas e na permanência no curso devido ao alto custo das listas de instrumentais odontológicos necessários para cursar as disciplinas. Tal situação resulta, muitas vezes, em trancamento de disciplinas por esses estudantes, aumentando assim o seu tempo de integralização do curso, ou até mesmo na evasão acadêmica. Os cursos de Odontologia estão entre os mais caros da universidade, exigindo um investimento financeiro elevado por parte dos acadêmicos e suas famílias. Dessa forma, ações para manter os estudantes cotistas nesses cursos ainda elitizados são fundamentais. Assim, o BEI-FOUFRGS pretende gerar equidade e inclusão, possibilitando aos estudantes a permanência no curso e sua formação de cirurgiões-dentistas no tempo previsto. Este trabalho pretende relatar a construção do BEI-FOUFRGS e seus efeitos na formação em Odontologia.

Desenvolvimento do trabalho: Durante o ensino remoto emergencial da Faculdade de Odontologia da UFRGS, debateu-se  sobre desigualdades sociais na disciplina de Epidemiologia Bucal, e as dificuldades vividas pelos estudantes beneficiários PRAE foram relatadas pelos acadêmicos do quarto semestre, os quais debateram sobre o investimento financeiro elevado por parte dos estudantes para compra de materiais e instrumentais odontológicos necessários para cursar diversas disciplinas práticas. Detectou-se, então, que isso leva os acadêmicos em situação de vulnerabilidade socioeconômica a ter empecilhos para se manterem no curso, precisando, muitas vezes, trancar disciplinas, o que aumenta o tempo de integralização do curso ou, sobretudo, pode acarretar a evasão acadêmica. Desde então, a turma realizou diversos encontros com a professora da disciplina, a COMGRAD, o DA, a Direção da Unidade e a PRAE para relatar essas dificuldades que eram dos estudantes dos cursos de Odontologia em geral, e não somente da turma, a fim de que medidas institucionais fossem tomadas.

Com base nesse debate, iniciou-se a proposta de construção de um Banco de Instrumentais, que, com a sua criação, beneficiaria acadêmicos da PRAE e todos que estivessem em dificuldades financeiras. Dessa forma, muitos estudantes teriam uma perspectiva maior de continuar no curso, ajudando não somente no aspecto econômico, mas também no psicológico do acadêmico, já que a preocupação com esses assuntos lhe são de extrema sobrecarga.

A equipe coordenada pelas autoras deste trabalho realizou encontros virtuais, buscando se inteirar mais sobre o assunto e trocando informações com universidades que já têm bancos de instrumentais criados e em funcionamento, com o objetivo de conhecer seus fluxos e regimentos e de trocar experiências. O grupo seguiu obstinadamente se reunindo e conversando com a direção da Faculdade e com a COMGRAD para obter apoio que amadurecesse a ideia e levasse a prática para a Universidade, já que, em diálogos com outras faculdades que detêm o mesmo pensamento de beneficiar os acadêmicos que necessitam de amparo, a parte teórica e a prática deram tão certo que, até nos dias atuais, estão em ótimo e eficaz funcionamento.

A se somarem todos esses fatores, depois de analisar cada tópico de regimento que foi construído entre reuniões e planos traçados, deu-se o apoio da direção e da Comgrad para a criação do banco de instrumentais dentro da Faculdade de Odontologia. As autoras deste trabalho, também coordenadoras do BEI-FOUFRGS, conseguiram efetivar a criação do banco, receberam doações e já realizaram, na primeira semana de trabalho, um mutirão para catalogar os instrumentais, separando-os por número, tipo, série e quantidades, dentre outras organizações. Obteve-se a ajuda das acadêmicas de diferentes semestres e de uma colega com formação prévia em cursos técnicos de Saúde Bucal, que teve importante atuação na catalogação dos instrumentais. A equipe catalogou e quantificou os instrumentais para facilitar a sua dispensação nos empréstimos aos acadêmicos de acordo com a disponibilidade no banco.

Importante ressaltar que o BEI-FOUFRGS funcionará exclusivamente por doações de cirurgiões-dentistas, clínicas odontológicas, estudantes egressos, professores, dentre outros que se dispuserem a realizar a doação para o banco. O funcionamento dar-se-á da seguinte forma: os estudantes interessados no empréstimo dos instrumentais deverão responder a um formulário on-line constando informações pessoais, semestre que está cursando, turno do curso, disciplinas que necessita materiais, dentre outros. Logo depois, os formulários serão respondidos individualmente para a obtenção de alguns documentos secundários, como comprovante de beneficiário PRAE, atestado de matrícula e, por fim, o preenchimento do termo de empréstimo.

Além disso, o estudante beneficiado pelo banco ficará um período de seis meses (duração de cada semestre letivo) com os instrumentais, devendo consultar novamente o BEI para a renovação. O beneficiado ficará responsável pelo instrumental emprestado desde a sua limpeza até uma possível substituição em caso de perda ou mau uso, até o prazo combinado de devolução com a equipe do banco.

Estudantes não beneficiários PRAE também poderão solicitar o empréstimo e serão atendidos conforme disponibilidade do BEI-FOUFRGS, após atender estudantes prioritários, para não deixar materiais parados. Fato importante já que as condições financeiras foram agravadas na pandemia para todos os estudantes. Contudo, devido ao projeto estar iniciando, não há ainda muitos instrumentais disponíveis, e por isso o empréstimo será feito conforme a sua disponibilidade no BEI. A divulgação será feita através das redes sociais, como o Instagram, WhatsApp e veículos de comunicação da Faculdade, exigindo que o acadêmico interessado esteja atento a essas divulgações em prol de seu benefício.

Resultados e/ou impactos: O banco foi idealizado em setembro de 2021 com seu funcionamento iniciado em 17 janeiro de 2022 e, em poucas horas de divulgação no Instagram, foi possível perceber a grande procura pelos estudantes interessados, assim como a procura para realizar doação para o banco. O BEI-FOUFRGS teve apoio da direção da Faculdade de Odontologia, que cedeu uma sala com diversos instrumentais para iniciar sua operacionalização. O grupo de trabalho também escreveu o regimento prévio e segue trabalhando na elaboração de outros registros necessários, como a catalogação dos instrumentais e a organização de planilhas para registrar os empréstimos, além de fazer campanhas para receber doações de instrumentais. O apoio da direção da Faculdade de Odontologia, da COMGRAD, do DA e dos estudantes, principalmente da turma que ingressou em 2019/2, foi fundamental para que esta proposta se efetivasse.

Considerações finais: O BEI é uma ação afirmativa da Faculdade de Odontologia da UFRGS que tem o intuito de promover oportunidades para os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica permanecerem no curso e se tornarem, no tempo adequado, cirurgiões-dentistas. Espera-se que o projeto possa atender todos os estudantes PRAE, com ampliação para outros acadêmicos, conforme disponibilidade de instrumentais no banco. O banco de instrumentais é um caminho para uma graduação mais equitativa, fortalecendo a pluralidade da universidade, uma vez que o curso de Odontologia ainda é conhecido por ser elitista. Portanto, essa ação afirmativa busca dar apoio e condições para o estudante durante a sua formação acadêmica.