Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Sai do sofá! : relato de experiência de um grupo de atividade física
Beatriz Oliveira Blackman Machado, Pamela Arruda Vasconcellos

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


As residências em saúde se colocam como caminho para formação continuada de profissionais de saúde na modalidade ensino-serviço, onde os locais de inserção são preferencialmente nos equipamentos de saúde do SUS. Em especial os programas de residência multiprofissionais, que atuam ampliando a oferta de serviços e de cuidado, nos diferentes níveis de atenção, para a população adscrita. A inserção desses profissionais residentes, particularmente, na atenção primária a saúde (APS) tem um grande potencial de mobilização e atuação junto às equipes de saúde e à população pela integração com o território onde atuam através da formação de vínculos entre equipe-comunidade-território, facilitada pela existência e atuação dos profissionais agentes comunitários de saúde (ACS). Nesse contexto, localizo este trabalho no programa de residência multiprofissional em saúde da família com ênfase na saúde da população do campo no Distrito Federal. Nossa primeira atividade realizada foi a territorialização, com apoio de quatro ACS da unidade básica de saúde do campo (UBS), que resultou em um panorama do território, das condições de vida e atividades produtivas da comunidade, além das principais determinantes do processo saúde-doença da população adscrita. Após esse processo, entendemos que as comorbidades com maior prevalência são as doenças crônicas e seus fatores de risco os como, sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus. A UBS está a 50km do centro urbano onde ficam os equipamentos de saúde da rede de referência, possui atividades econômicas ligadas a agricultura e pecuária, sendo uma parte da agricultura familiar, uma parte agronegócio com produção de grãos e granjas. O núcleo rural, onde se concentram 120 famílias, a UBS, a escola, o ponto de encontro comunitário (PEC) e o salão comunitário não possui asfalto ou iluminação. Identificamos que essas condições do território eram alguns dos fatores que impediam que a comunidade pudesse exercer atividades físicas com segurança, uma vez que a estrada de terra durante a seca prejudica a qualidade do ar pela quantidade de poeira e no período de chuvas se torna perigosa e escorregadia. Compreendemos que a prevenção de agravos decorrentes dessas comorbidades passa pelo aumento no nível de atividade física e na prática da alimentação adequada e saudável. Sendo assim, a promoção de ações/atividades voltadas para garantia da qualidade de vida das pessoas e da comunidade se faz importante. O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência do grupo de atividade física promovido por duas residentes, uma nutricionista e uma psicóloga, em uma unidade básica de saúde do campo no Distrito Federal. O primeiro passo foi conversarmos com os ACS para avaliar os locais possíveis para realização das atividades, se havia um dia e horário que fosse mais viável para a comunidade, e se elas poderiam nos ajudar durante as ações com o objetivo do grupo ter uma pessoa vinculada a unidade de saúde como referência para as atividades, possibilitando ao grupo exercer sua autonomia e dar continuidade aos encontros, mesmo na nossa ausência ao fim do programa de residência. Elaboramos um card para divulgação com as informações do grupo “Sai do sofá – grupo de atividade física” para a comunidade, validamos junto as ACS e com aprovação da equipe o material foi compartilhado por meio de aplicativo de mensagem com a população. Os primeiros encontros se deram em agosto de 2021 e seguiu até dezembro no mesmo ano. O grupo se formou com uma média de 15 participantes, todas mulheres entre 17 e 52 anos. Para facilitar a comunicação a ACS que apoiou os encontros criou um grupo e com as mulheres que participaram e outras interessadas em um aplicativo de mensagens, onde eram enviados lembretes nos dias que ocorreram as atividades e outros avisos. Inicialmente, eram dois encontros por semana, combinamos o encontro no PEC, onde realizamos os exercícios utilizando os aparelhos seguindo as orientações e finalizamos com uma caminhada na quadra de futebol, único espaço asfaltado na vila, e ao longo do tempo fomos elaborando outros exercícios possíveis. Esse primeiro ciclo durou um mês seguindo essa rotina, com variações de atividades como meditação e lian gong. A partir de outubro, o grupo trouxe a necessidade de aumentar a frequência de encontros para três vezes na semana, assim como a intensidade dos exercícios. Apoiadas nessa demanda, buscamos orientações junto a profissionais da educação física para que essa mudança ocorresse de forma segura e adequada. Nesse segundo momento, as integrantes mostraram interesse em ter pelo menos um dos dias dedicado para dançar, com músicas animadas e coreografias não tão complexas. Os feedbacks ocorreram de forma orgânica e as propostas de exercícios para o dia eram dialogadas e pactuadas com todas presentes. Ao longo do tempo o grupo proporcionou estabelecer vínculos com o grupo de mulheres participantes, foi possível incentivarmos umas às outras a permanecer se exercitando, para algumas delas esse espaço foi importante para superar contextos de depressão e resgatar e promoção da autoestima. Além disso realizamos rodas de conversa sobre alimentação adequada e saudável e sobre cuidados à saúde mental. O foco do grupo desde a sua criação foi a melhora da qualidade de vida, por mais que socialmente se busque alcançar um padrão estético, conseguimos comunicar esse objetivo para as mulheres e o grupo se fortaleceu com a sororidade que construímos juntas. A falta de um profissional da educação física na equipe foi uma limitação do processo, acreditamos que poderiam ter sido feitas outras abordagens, e afirmamos a necessidade da inserção desses profissionais no setor saúde em prol da melhora na qualidade de vida das pessoas e comunidades. Ressaltamos a importância da permanência dos programas de residência em saúde e principalmente os multiprofissionais dentro do SUS, da atenção primária e nos territórios e grupos sociais historicamente invisibilizados pelas políticas públicas como é a população do campo. Nós nos colocamos junto a tantos/tantas profissionais em movimento de resistência e luta pela valorização do SUS e a garantia do direito à saúde para toda a população.