- Contextualização:Frente à maior pandemia já vista, desde o surto de H1N1, a COVID-19 têm deixado uma série de sequelas em pacientes que já receberam o diagnóstico há meses e estão em processo de reabilitação. Tais impactos se apresentam no sistema imunológico, físico e emocional destas pessoas. Os estudos direcionados à temática ainda são escassos e incompletos, pois não se tem conhecimento dos efeitos a longo prazo, todavia ainda incipiente evidenciam-se estudos observacionais que demonstram que pacientes com doenças críticas, em geral sobreviventes da COVID-19, tem apresentado maior dependência de profissionais e/ou pessoas próximas, para realizar atividades da vida diária, em relação a disfunções cognitivas (perda de memória por ex), ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Pacientes acometidos com a covid-19 podem apresentar sequelas que perduram por um tempo para além do período da doença. Fadiga, fraqueza muscular, alterações cognitivas, problemas de memória e alterações de olfato e paladar estão entre as manifestações que atingem de forma persistente pessoas curadas, mas que continuam a apresentar sintomas, o que ficou conhecido como covid longa ou síndrome pós-covid. O que resulta em uma diminuição na qualidade de vida destes pacientes. Do ponto de vista da saúde mental, uma pandemia de grande magnitude implica em uma perturbação psicossocial que pode ultrapassar a capacidade de enfrentamento da população afetada. Essa condição tem desafiado profissionais das diversas áreas e demandado atendimento multidisciplinar para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. São muitas as possibilidades de estratégias de cuidado psíquico que podem ser buscados/acessados em meio a uma pandemia. Incialmente, é importante a pessoa reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando uma escuta terapêutica para pensar possíveis e adequadas intervenções. Além disso, o enfrentamento nestas situações é relacionado a fatores como resiliência e características socioculturais de confrontação do sofrimento, rede socioafetiva e políticas de cuidado em atenção psicossocial e saúde mental a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazo. Com a diversidade de sequelas que a doença pode deixar, o cuidado tem de envolver diferentes especialistas, com uma abordagem multidisciplinar integrada. Com o intuito de oferecer um acompanhamento direcionado, por meio da parceria entre os profissionais da psicologia, fisioterapia, terapia integrativa, assistência social, nutrição e medicina, entre outras ações, propôs-se um grupo terapêutico para pacientes que apresentam ou apresentaram sequelas do COVID-19. A análise e ação relativa simultaneamente à cada especialidade, à atenção, à gestão e à participação para que o trabalho desenvolvido propiciasse lugar a uma atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e tecnicamente competente, embasadas na problematização do processo de trabalho em saúde e tendo como propósito a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das pessoas e da população. -Objetivo; Apresentar ações do Programa de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Tijucas do Sul Paraná no “Atendimento Multi e Interdisciplinar para Pacientes com Sequelas da Covid-19”, em prol de promover saúde, pensando na coletividade e no autocuidado do paciente. - Como a experiência foi desenvolvida? a experiência foi desenvolvida no perido de 18/10/2021 a 15/12/2021 em Tijucas do Sul, uma cidade do Estado do Paraná. O município se estende por 672,2 km² e contava com 17.295 habitantes no último censo. Considerando todo o contexto da pandemia e a redução de ofertas de vagas, existe uma preocupação dos especialistas quanto ao uso racional das vagas ofertadas pelo Programa de Saúde Mental. Frente a grande demanda dos encaminhamentos das unidades básicas de saúde para o ambulatório do Programa de Saúde Mental, referente a pacientes com sequelas da Covid-19, foi proposto o trabalho em grupo afim de dar celeridade ao tempo de espera para atendimento. Todos pacientes encaminhados, foram convidados para participar do grupo terapêutico. No primeiro momento foi abordado o contexto da pandemia, como isso afetou a saúde mental e como gerenciar esse ponto. O objetivo foi trabalhar questões emocionais devido às sequelas da covid-19. Muitos perderam o emprego, ficaram com alterações na memória e com dificuldade para realizar tarefas do dia a dia, apresentam perda da força muscular e, ainda, tem o fato de ter de lidar com a questão da morte, iminência da morte, e tantos outros desafios enfrentados durante a internação. Foi realizado acolhimento com o grupo neste sentido. Foi apresentado também o trabalho da especialista em terapias integrativas sendo ofertado aos pacientes como tratamento complementar, tendo aderido a maioria dos participantes. Estes receberam auriculoterapia e ventosa terapia como complementação do tratamento. No segundo momento foi abordado as experiências vivenciadas neste período onde o grupo pode expressar os seus sentimentos e estratégias de enfrentamento, apresentando maior resiliência frente aos sintomas relacionados as sequelas da Covid_19. A conscientização corporal e nutricional foram trabalhadas pela nutricionista que apresentou um programa alimentar para restabelecer a imunidade e demais sequelas apresentadas pelos participantes. Para o trabalho terapêutico foram utilizadas dinâmicas de grupo associadas ao uso de músicas de caráter expressivo e lúdico, com objetivo de atender às necessidades dos pacientes em novas formas de expressão. A atividade permitiu o reforço de suas identidades, aumento da autoestima e expressão de sentimentos comuns do processo da doença. Além disso, a dinâmica é aliada ao fomento de exercícios que ajudam na melhoria da resposta fisiológica ao tratamento contra a Covid-19. - Resultados; A aceitação foi muito boa e o retorno dos pacientes sobre o trabalho positivo. Os pacientes compartilharam relatos e depoimentos emocionados em relação as suas experiências, durante o período em que tiveram o COVID-19 e frente a limitações, dificuldades e mudanças impostas por esta doença após sua recuperação da fase crítica. Um paciente relatou, ao final de um atendimento, que saiu mais leve de lá. Outro paciente relatou que sentiu-se aliviado por compartilhar suas dores com pessoas que tinham empatia com seus sentimentos. Houve também relatos de como foi importante a oferta deste trabalho multidisciplinar. Isso é muito gratificante: ver e trabalhar o ser humano em sua totalidade. Considerações finais; A atuação interdisciplinar possibilitou a condução de uma prática clínica humana, equânime e resolutiva. A ação se mostrou relevante para o planejamento de ações de intervenções clínicas, apresentando resultados positivos no acompanhamento dos pacientes com sequelas da Covid-19. A proposta viabilizou aos profissionais a oportunidade de ampliar a relação com os pacientes pelos dispositivos da produção de cuidado. Percebeu-se o quanto o grupo terapêutico facilitou a interação social e estimulou o senso de coletividade, potencializando trocas, compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletiva. O trabalho realizado proporcionou mudanças de comportamentos e pensamentos, hábitos de vida e melhorias dos processos de auto cuidado com identificação e construção coletiva de soluções para os problemas comuns apresentados.