Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Tecendo Redes de Vigilância Popular em Saúde, de Controle Social e Cuidado em Saúde no Território Contexto da Covid-19
Kelly Dandadra da Silva Macedo, Michele Neves Meneses, Vanderléia Laodete Pulga, Cristianne Maria Famer Rocha

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Apresentação: No contexto da pandemia ocasionada pelo Coronavírus, o Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil, revela-se como potência de cuidado, preservação à vida e fortalecimento do acesso à saúde mesmo com grandes disparidades sociais. Dentre as várias áreas de atuação do SUS a Vigilância em Saúde também opera como importante política e serviço promotor de cuidado, possuindo papel essencial no ordenamento das ações de prevenção e controle da Covid-19. Nesse sentido, a partir de mobilizações populares junto às trabalhadoras e trabalhadores do SUS, em especial os agentes comunitários de saúde, emerge a “práxis” de Vigilância Popular em Saúde que vem se configurando na possibilidade da produção de conhecimentos compartilhados, nas aproximações de saberes populares com técnicos e na reconfiguração dos modos de produção de saúde. Ao identificar a importância desses diálogos e a necessidade de criar medidas protetivas à população, foi desenvolvido em uma cidade portuária no Sul do Brasil - município do Rio Grande/RS - um projeto de Extensão. O Conselho Municipal de Saúde, junto com trabalhadores(as) da Vigilância em Saúde, mobilizou para o desenvolvimento do processo formativo capaz de problematizar e ressignificar a Vigilância em Saúde, a partir da perspectiva da participação social para o enfrentamento dos problemas advindos da Covid-19. O objetivo deste trabalho é refletir sobre o processo de formação de conselheiros e conselheiras de saúde, desenvolvido através de um curso de extensão, realizado por meio da plataforma virtual como dispositivo ativador de um processo de construção da Vigilância Popular em Saúde no estado do Rio Grande do Sul. Metodologia: Sistematização da experiência do processo formativo realizado em meados de 2021 junto aos conselheiros e conselheiras locais de saúde de um município gaúcho, com a participação de atores sociais de outros locais. Resultados: O Curso foi planejado e organizado na perspectiva da Educação Popular em Saúde, com propostas de oficinas acompanhadas por mediadores e facilitadores do processo de aprendizagem. A primeira etapa do Curso foi a seleção e realização de uma oficina com dez facilitadores e facilitadoras, a fim de que fossem disponibilizadas 50 vagas para educandos e educandas, onde cada grupo pudesse ser constituído com cerca de oito pessoas, visando propiciar um acolhimento mais direto, como, também, auxiliar no uso das ferramentas digitais. A escolha dos facilitadores e das facilitadoras se deu por critério de experiência em processos formativos coletivos e dialógicos, participação em movimentos populares e experiência com a temática da Vigilância Popular em Saúde. A realização dos pequenos grupos foi planejada para que as pessoas pudessem ampliar sua participação e reflexão a partir de suas histórias compartilhadas, relacionadas às temáticas propostas pelo Curso. O Curso foi realizado totalmente através de plataformas de comunicação virtual - Google Meet e Whatsapp -, contando com seis encontros e 56 participantes. A maioria das participantes foi mulheres, perfazendo 70% das inscrições, com idade entre 19 e 72 anos (média 50 a 60 anos). Em cada encontro havia a explanação de uma temática orientadora do processo de reflexão, iniciava-se com as apresentações dos mediadores e, após, os participantes realizavam intervenções para discussões coletivas. Além disso, foram realizadas discussões em pequenos grupos (5-8 educandos) junto com um facilitador, a fim de possibilitar uma discussão mais aprofundada acerca de cada temática. Também, foram organizados momentos assíncronos com leituras de textos, visualização de vídeos, produção de reflexões e atividades de dispersão com sua comunidade/local de trabalho para a multiplicação dos aprendizados. Os temas abordados nos encontros foram: Conhecendo o SUS; Carta dos Usuários da Saúde; Participação Social; Território e Saúde; Determinantes Sociais; Que vírus é esse? Pandemia x Sindemia; Vigilância Popular em Saúde; e, Práticas Solidárias de Cuidado. Ao final do Curso houve uma atividade de intervenção com os territórios realizada pelos participantes e compartilhada no último encontro. Ao longo dos encontros foram trazidas questões importantes como a busca de aprendizados e conhecimentos em relação à temática da Vigilância; necessidade de compartilhamentos de experiências e atualizações acerca da Vigilância Popular em Saúde; maneiras de prevenção da Covid-19; informações e pesquisas em relação ao SUS; acolhimento, território e atendimento na Atenção Primária em Saúde; formas de realizar o diálogo com a comunidade sobre a pandemia; aprendizados para poder construir novas tecnologias para atuação e enfrentamento da Covid-19 junto à Atenção Primária em Saúde; incentivo e motivação que auxiliem no trabalho comunitário; maiores conhecimentos para atuação em defesa do SUS e da saúde pública; fortalecimento das práticas populares em saúde, entre outros. Todas as atividades possuíram momentos de afetividade, mesmo longe da presencialidade física foi construído um espírito de coletividade mediado pelos afetos que proporcionaram momentos de relaxamento, descontração, amorosidade e respeito uns aos outros. Os encontros, mesmo que virtuais, trouxeram uma potência para ampliar os conhecimentos e possibilidades de atuação local. Considerações finais: Os encontros proporcionaram aprendizagens, compartilhamentos de saberes e fazeres, produção de repertórios de práticas de cuidado à saúde em coletividade e ampliação de conhecimentos sobre a Vigilância Popular em Saúde. O Curso instigou e desafiou aos participantes para a construção de ações coletivas e solidárias no enfrentamento dos problemas existentes nos territórios, contribuindo para a reflexão do que produz saúde e adoecimento, das potencialidades existentes em cada local e da construção de uma compreensão sobre os processos de produção de saúde, de vida e de cuidado, expandindo possibilidades da práxis em Vigilância Popular junto à Atenção Primária em Saúde enquanto processo de proteção, prevenção e cuidado integral. Ademais, mesmo com as variadas dificuldades experenciadas nesses tempos, sobretudo pela negação à ciência, compartilhamento de mentiras, discursos de ódio, os encontros evidenciaram para a organização do curso a importância de fomentar espaços de aprendizagens coletivas que privilegiam encontros potentes e regados de heterogeneidades. Ações como essa, mesmo que pequenas frente aos desafios do cotidiano, é possível construir outras formas de formação que possam fortalecer espaços populares de coletividade, que integrem saberes e objetivem à vida. Dessa forma, considera-se importante que a fomentação de tais espaços tornem-se cada vez menos exceções, não só por sua relevância na esfera do cuidado, mas também por tecer redes e fortalecer a construção de um saber diverso, através de atores que transitam em espaços variados.