Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PAPEL DA FARMÁCIA HOSPITALAR NOS SERVIÇOS DE SAÚDE DO HCU-UFU
Luiz Guilherme Amaral Morisson, Felipe dos Anjos Rodrigues Campos, Evândero Damasceno Oliveira, Gabriel Menezes Martins, Felipe Santos Alves, Fabrício Mário Bittar, Maria Angela Ribeiro, Tiago Rocha Pinto

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação: Este trabalho foi elaborado por grupo de seis acadêmicos do primeiro período do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em cenários de práticas no eixo de Saúde Coletiva I (SC I), a qual previa visitas técnicas presenciais aos diferentes setores do Hospital de Clínicas da (HCU-UFU) para entrevistas com os profissionais. Com enfoque na Farmácia Hospitalar, a partir das observações e conversas com os funcionários nas visitas semanais ao HCU, foram reunidas informações sobre a estrutural organizacional, espaço físico, quadro de funcionários, atribuições, desafios e experiências do setor, as quais foram relacionados com os princípios doutrinários (universalidade, integralidade e equidade) e organizacionais (descentralização, regionalização e hierarquização) do SUS. O contato com a realidade da Farmácia permitiu aos acadêmicos entender a criticidade e mecanização dos procedimentos realizados nessa área do hospital, um fator importante para reduzir o ruído nas comunicações internas. Outro ponto de destaque foi que, embora a pandemia tenha forçado a adoção do ensino remoto para a maioria das atividades de ensino, os docentes e preceptores tiveram sucesso em organizar o trabalho segundo um cronograma e dinâmica que dava autonomia e segurança para os estudantes participarem das práticas, tendo a experiência servido de exemplo para outros cursos de graduação no planejamento do retorno as atividades presenciais de ensino.

Desenvolvimento: As visitas a Farmácia Hospitalar foram realizadas durante 6 semanas ao longo de novembro e dezembro de 2021, sempre acompanhadas pelas chefes administrativas do setor e com supervisão dos professores do eixo SC I. As preceptoras evidenciaram a importância de os acadêmicos conhecerem a Farmácia já no 1° período para desmistificar a ideia de superioridade entre as profissões, pois já houve casos de internos, residentes e médicos censurarem técnicos do setor que questionassem dosagem, forma de administração ou algum outro detalhe das prescrições. Cabe ressaltar que as disputas e ausência de diálogo entre médicos, enfermeiros e farmacêuticos são as principais causas de erros de dispensação, o que justifica a necessidade de maior aproximação entre profissionais e estudantes destas carreiras. Salienta-se que embora o grupo tivesse 6 estudantes, as práticas aconteciam com no máximo 2 estudantes para evitar incômodos às atividades diárias da instituição, que ao mesmo tempo recebia muitos estudantes e internos em reposição de práticas presenciais dificultadas pela pandemia. Os estudantes fizeram revezamento nas visitas e complementaram as informações a partir de referências importantes para o setor farmacêutico, como a 3ª edição do guia Padrões Mínimos Para Farmácia Hospitalar da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar, valendo-se também da vivência de um dos acadêmicos do grupo, pós-graduado e com ampla experiência no setor privado e público nessa área de atuação. Primeiramente, em relação à estrutura organizacional, destaca-se que a Farmácia constitui uma unidade administrativa dentro do HCU, com gestão própria de logística, controle de qualidade, estocagem, manipulação e farmácia clínica. As atribuições incluem: gerenciamento de tecnologias de distribuição, dispensação e controle de medicamentos; manipulação magistral, oficinal, de nutrição parenteral, antineoplásicos e radiofármacos; preparo de doses unitárias de medicamentos; cuidado ao paciente; gestão da informação, tecnologia e infraestrutura física; pesquisa contínua sobre medicamentos, efeitos adversos e melhores práticas; capacitação de recursos humanos através de ensino, pesquisa e educação permanente. Ademais, há também colaboração intersetorial através da participação na Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (monitoramento de antibióticos de reserva, de colonização por testes de swab, e promoção de campanhas de higienização) e no Centro de Informações de Medicamentos, que elucida outros profissionais sobre bulas, interações medicamentosas, forma de administração, além de filtrar os dados científicos mais recentes. A parte de controle logístico é feita através do sistema interno do hospital, para controle do estoque, escrituração das dispensações, movimentação das prescrições e demais registros. Já os medicamentos do Componente Estratégico (de ISTs como Aids e Hepatites Virais) existe o Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), que tem a vantagem de integração com os sistemas de saúde das Unidades Federadas e locais. Para tal, esse setor do HCU dispõe de mais de 70 funcionários, e mesmo assim ainda sofre com o alto volume de serviços. Nota-se que as atividades das farmácias acontecem em quase todos os atendimentos feitos dentro do hospital, seja nas UTIs, enfermarias ou ambulatório, incluindo desde pequenos tratamentos até cirurgias de alta complexidade. Para isso, o atendimento é descentralizado, com uma unidade no pronto-socorro, onde são preparados kits QSP para até 8h, e medicamentos especiais como antirretrovirais, para tratamento rápido de infarto, AVC, intoxicação por cianeto, ou para acidentes com animais peçonhentos, entre outros; outra na UTI adulto, onde se encontram kits QSP para até 24h, kits prontos para cirurgias e sedativos, sobretudo; e unidades menores para preparação de dose individualizada em cada clínica médica. Enfatiza-se também a atuação da farmácia oncológica, cujos profissionais podem analisar e recomendar o estudo de casos observados (terapias alternativas, métodos paliativos), receber medicamentos doados e distribuir aos usuários cadastrados para tratamentos de longa duração. Nessa unidade existem equipamentos especiais, tais como cabines herméticas (para manipulação de medicamentos citotóxicos, citostáticos e antineoplásicos) e refrigeradores para medicamentos especiais (analgésicos, opioides, anti-inflamatórios, antineoplásicos, antieméticos, anticorpos monoclonais, anastrozol, tamoxifeno, entre outros). No contexto da pandemia, esse setor observou diminuição do número de atendimentos, reflexo do menor número de exames diagnósticos. Nas diversas unidades, a entrega dos medicamentos pode ser feita na janela ou em blísteres no caso de usuários internados. No entanto, não há espaço físico próprio para orientação aos usuários, sendo essa uma demanda importante levantada pelos funcionários. Frequentemente, usuários em tratamento de ISTs buscam orientação na janela e passam pelo desconforto de comentar sobre seu caso próximo a desconhecidos.

Resultados: Observa-se que esse setor tem caráter técnico, como pode ser constatado pela extensa normatização que inclui mais de 48 documentos entre leis, portarias e resoluções da ANVISA e do Conselho Federal de Farmácia. No entanto, sua atuação é fundamental na garantia dos princípios do SUS. Como exemplo da Integralidade no cuidado, destaca-se que os usuários em tratamento de câncer têm acesso à quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e cirurgias num mesmo local, todos passando pela farmácia oncológica. No caso da Descentralização, embora o HCU atue como centro de atenção secundária e terciária, ele está integrado com as redes de atenção primária dos municípios da macrorregião do Triângulo Norte em Minas Gerais, para as quais são liberados os usuários após tratamentos de longo prazo a exemplo do HIV. Em relação a Regionalização, destaca-se que a farmácia do HCU é referência na região do Triângulo Norte em Minas Gerais, disponibilizando a mais de um milhão de pessoas, distribuídas em 27 municípios, medicamentos especiais como talidomida (tratamento de hanseníase e lúpus), soros antiofídicos, antiescorpiônicos, ou a hidroxicobalamina (terapia efetiva contra intoxicação por cianeto ou fumaça em ambientes fechados). Sobre o princípio da Hierarquização, pode-se afirmar que a média e alta complexidade típica dos níveis de atenção em questão quase sempre envolvem a atuação da Farmácia Hospitalar no cuidado.

Conclusões: O HCU-UFU está entre os 3 maiores hospitais universitários do Brasil, realizando centenas de milhares de internações, procedimentos, cirurgias, tratamentos e consultas anualmente, o que revela o enorme fluxo de trabalho e da importância da Farmácia. Nesse sentido, o formato presencial das atividades foi fundamental para a melhor compreensão do papel desse setor, que será imprescindível para a futura atuação profissional dos estudantes envolvidos.