Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Desanuviar: reflexões sobre os processos de trabalho e vida das instituições
Pedro Victorino Carvalho de Souza, Rebeca Azevedo Machado Pinto, Moisés Antônio de Melo Abrão, Ranulfo Cavalari Neto

Última alteração: 2022-02-02

Resumo


Os processos de trabalho e as burocracias são itens presentes nas instituições e serviços das políticas públicas. Refletir sobre o processo de cuidado vem se tornando cada vez mais difícil. Se por um lado temos os usuários dos serviços, em outra instância os trabalhadores que em ato colocam em prática alguma linha de cuidado. Aceitar o afeto como possibilidade de aumento de potência dos entes que se encontram, é entender as relações atravessadas pela política, cultura e vínculos. Recusar a neutralidade é analisar na prática do cuidado as instituições que se perpetuam, no corpo dos trabalhadores, afetados pela burocracia cotidiana, e pelo engessamento profissional que muitas vezes caminham no oposto da promoção da autonomia, uma vez que muitas vezes, os trabalhadores são capturados por essas lógicas e acabam por produzir barreiras em relação ao acesso às políticas públicas. O presente trabalho nasce da perspectiva de colocar o holofote sobre a experiência “desanuviar”. Acreditamos que as lógicas de trabalho, produzidas e modificadas pelos atores que a constituem, podem ser operadas de modo afetivo e inventivo, a partir do encontro. O objetivo desse trabalho é narrar a experiência coletiva de trabalhadores que atuavam dentro de um abrigo para população em situação de rua, constituindo práticas de educação permanente. A experiência foi composta por encontros realizados ora com a equipe de trabalho do abrigo, ora com usuários, ora com convidados externos, ora todos juntos. A aposta interventiva adotada, entendendo intervenção como processo iniciado em nós, alicerçado na análise da implicação, foi de, a partir desse encontro, DESANUVIAR. Produzimos diversos encontros cheios de afeto, com os viventes da rua, na responsabilidade de discutir essas brechas e pensar linhas de fuga, tendo como pano de fundo as políticas públicas da cidade de Maricá/RJ. O processo de compartilhar incômodos, ideias e práticas faziam-nos pensar o coletivo como dispositivo. Nesse cenário, entre as tramas e os paradoxos de gerir serviços e efetivar educação permanente, um grupo resolve construir uma agenda de encontros semanais, no intuído de estudar e pensar juntos, analisar implicações, conviver, afetar-se, apoiar-se, assim como no Jazz: ensaiar estrutura para potencializar o poder criativo no ato do concerto – DESANUVIAR -  propor novo olhar, ensolarar. Desfazer-se da neblina, que anuvia o olhar. Não há regras para desanuviar, ou um modo de fazer, é como na cartografia, que caminha sobre as nuvens, ora densas, carregadas e cinzas, e ora feitas de algodão. É a possibilidade de enxergar linhas que nos atravessam, sejam essas de composição, de visibilidade, de enunciação, de força, de ruptura, ou tantas outras, para assim, bordar novas possibilidades. Rizomalizar a prática, transformando as linhas de uma partitura em música, sonorizar os raios e trovões que surgem das nuvens e fazem da tempestade um espetáculo. Em cena estão os profissionais atuantes no cuidado com viventes nas ruas e das políticas para os mesmos, no calor da Covid-19, nas escolas e na gestão de uma secretaria de economia solidária. Cartógrafos de si e do encontro com-viventes e com a cidade.