Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VOCÊ PODE CONSEGUIR UMA VAGA PRA MIM? O SISTEMA DE REGULAÇÃO E OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE, EQUIDADE E JUSTIÇA
Ana Gabriela da Silva, Thomas Cintra Macedo, Stéfani Borges Alves de Paula, Rayssa Lopes de Souza, Clara Perini Boracini, Flávia do Bonsucesso Teixeira, Tiago Rocha Pinto

Última alteração: 2022-02-06

Resumo


Apresentação: Nossa proposta visa apresentar e discutir a experiência de estudantes, docentes e preceptores corresponsáveis pela produção do componente curricular Saúde Coletiva I do 1º período do curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O Sistema Único de Saúde é o tema central das discussões e, geralmente, a articulação de seus princípios aos elementos que integram o cuidado em saúde se daria a partir da Atenção Básica. No entanto, o encontro entre os sujeitos envolvidos se deu ainda em contexto da Pandemia do COVID-19. Com a restrição dos cenários de aprendizagem e a necessidade de operacionalizar as medidas sanitárias de modo a cumprir os Protocolos vigentes e garantir condições adequadas para as aulas presenciais, a parte prática do componente foi apresentada após o conteúdo teórico e a partir do espaço hospitalar. Um dos cenários definidos para a prática foi o setor de Regulação, a escolha desse cenário deveu-se ao objetivo de apresentar para os estudantes a relação entre os princípios da igualdade, equidade e modo de produzir justiça no acesso aos serviços de saúde. Durante a graduação, muitos/as deles/as serão interpelados/as por familiares, amigos/as e conhecidos/as no sentido de buscar uma vaga ou mediar a realização de exames especializados no Hospital. São comuns esses relatos e muitas vezes ocasionam os conflitos com os/as trabalhadores/as dos setores administrativos diante da intenção de “agilizar” realização de exames ou mesmo leitos para internação ou procedimentos. Nesse sentido, entendemos que é fundamental que habilidades e competências relacionadas à política, planejamento e gestão sejam apresentados desde o primeiro período do curso o que pode facilitar a comunicação entre estudantes, usuários/as e trabalhadores/as. Desenvolvimento: Foram nove encontros para a visita de campo, em que a equipe, dividida em duplas, conheceu o setor da Regulação Assistencial do HC-UFU. Embora tenhamos acompanhado os trabalhos da equipe de Regulação Externa dos Leitos (SUS-fácil) escolhemos apresentar a regulação interna de leitos. Nesse dia, não só acompanhamos o funcionamento da coordenação, como também sanamos algumas dúvidas relacionadas ao funcionamento do programa usado pela regulação. O Sistema de Regulação Interna de Leitos gerencia todo o hospital por meio do Sistema de Informações Hospitalares (SIH)  que é alimentado a partir do cadastro específico de cada estudante, residente, docentes e profissionais que registram suas atividades. No entanto, os profissionais da regulação têm acesso a setores e a ferramentas específicas do setor, por meio delas realizam o controle de todos os campos de assistência do hospital, a fim de acompanhar e resolver as demandas por exames, leitos e outras. Quando o acesso do/a usuário/a no HC se deu a partir do pronto socorro (PS) e demanda internação, o médico responsável solicita o leito no sistema. Ocorre que também o usuário em segmento ambulatorial pode demandar internação a fim de fazer alguma investigação, nesse caso, a solicitação e atualização é realizada no próprio setor em que foi admitido. Desse modo, compreendermos que o acesso aos leitos do HC se daria apenas via Pronto Socorro ou Ambulatórios do HC. Foi nos apresentada também a metodologia de gestão dos leitos desocupados identificados por símbolos de diversas cores, definidos por legenda destacada no campo inferior da tela. Nessa perspectiva, a cor verde, significa que o leito está desocupado, azul claro sinaliza os leitos isolados (interditado por isolamento); o vermelho refere-se aos leitos reservados, seja para cirurgia eletiva ou para internação ambulatorial. Ademais, os leitos podem estar bloqueados para manutenção. Outrossim, quando há admissão do usuário em leito desocupado, o profissional precisa observar a característica dos leitos vizinhos, uma vez que o critério de ocupação de leito define a ocupação de leitos vizinhos por mesmo sexo, assim os pacientes do mesmo quarto devem ser de mesmo sexo. Os leitos em isolamento são informados ao setor da regulação diariamente em relatório da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar ( CCIH ), contendo localização, tipo de isolamento, tipo de bactéria/vírus e se a contaminação é por contato físico ou respiratória, com o objetivo de monitoramento, haja vista que é viável colocar em um mesmo quarto pacientes com mesmas condições para isolamento, por exemplo, aqueles usuários de mesmo sexo e tipo de bactéria ou vírus. Portanto, há leitos que são colocados na categoria “bloqueado por isolamento”, são aqueles leitos desocupados que podem ser ocupados apenas por pacientes com mesmas infecções. Podem ocorrer bloqueios de leito em função dos casos de manutenção estrutural, que no sistema é destacado na cor azul escuro. Quem faz a solicitação desse bloqueio é o setor de bioengenharia, por meio de oficio ao setor da regulação. Além de bloqueios administrativos, categorizados em cinza, que ocorrem em função de falta de profissionais por meio de ofícios. Existe também a ordem de prioridade de internação considerando as habilidades e especialidades das equipes de cada setor. Por exemplo, na cirúrgica I são priorizados os usuários da neurocirurgia, da urologia e da ortopedia. Na cirúrgica II, prioriza-se usuários de cirurgias gerais, vasculares, cirurgias do aparelho digestivo, ginecológico-obstétricas ou mesmo oncológicas. Usuários das cirurgias em cabeça e pescoço podem ter distribuição mista, no entanto, a prioridade é para a cirúrgica I. Os profissionais da regulação informam a disponibilidade do leito conforme o perfil do usuário para a equipe de enfermagem do setor de interesse que analisa a viabilidade e realiza a transferência. Resultados: A atividade proporcionou muito mais que o entendimento prático da gestão interna de leitos, mas também ampliou a visão do grupo em relação as competências de um bom profissional da saúde. A gestão hospitalar exige resiliência e cooperação, de modo que a comunicação interfere na qualidade do serviço e impacta na prática de outros setores do hospital. Essa experiência evidenciou aos/às futuros/as médicos/as o valor de outros/as profissionais que também estão na linha de frente do serviço hospitalar. O estabelecimento de fluxos e critérios definidos para acesso e distribuição de leitos é uma forma de dar transparência aos atos públicos, favorecer o controle social e garantir igualdade no tratamento. Muito mais do que focar nas fragilidades do SUS, pudemos conhecer como uma gestão otimizada e organizada pode garantir equidade. Considerações finais: Para os/as estudantes foi importante a oportunidade de conhecer a regulação, ter contato com as equipes responsáveis pelo funcionamento do HC-UFU, nesse sentido, entendemos a essencialidade do diálogo entre diferentes profissionais, uma vez que o diálogo permite otimizar o tempo de alguns processos administrativos, como a antecipação de possíveis transferências, o que também confere melhor tratamento aos/às usuários/as. Além disso, a equipe percebeu o desafio da gestão de um hospital em condições de superlotação, como ocorreu em um dos dias de encontro no qual o Pronto Socorro, estava funcionando com 245% da sua capacidade de lotação, fator que prejudica a assistência ao/à usuário/a, sobrecarrega os/as trabalhadores/as na assistência, mas também pressiona, sobremaneira, os/as profissionais da Regulação que acompanham desesperados/as a necessidade de distribuir os leitos (que não existem). Com certeza, quando estivermos compondo as equipes de assistência teremos mais ferramentas para pensar o manejo das solicitações de leito bem como mais habilidades para justificar aos//às outros/as sobre a importância de respeitar as filas e fluxos.